segundo post.

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- J O H N -

- Qual é o seu nome? - A médica de olhos escuros pergunta, ajeitando seus óculos e olhando para a tela de seu computador.

- É... John. John Watson. - eu respondo, fechando ainda mais as pernas e arrumando minha saia.

Engulo em seco ao olhar mais uma vez para a sala branca e dolorosamente iluminada. Era a minha primeira sessão de terapia.

Minhas mãos se dobram e se contorcem em um emaranhado de indicadores, polegares, anelares, mindinhos e dedos do meio. Eu sinto um tique começar na minha perna direita, e eu fecho meus olhos por um momento.

- Eu sei que pode parecer intimidador. - Ela diz, saindo detrás da máquina e deslizando sua cadeira suavemente até o meio da sala, ficando de frente para a minha poltrona. A escuridão dos meus olhos fechados é contrastada com a claridade da sala mais uma vez, mas o meu campo de visão é tomado pelo rosto amigável e gentil da psicóloga. Meus olhos se movem um pouco mais abaixo.

Dra. Adler. Especialista no tratamento de traumas na infância e seus impactos na juventude.

- É sempre complicado nas primeiras vezes, e isso é pra tudo na vida. - ela continua. Eu aceno que sim, voltando meu olhar para as minhas mãos em meu colo.

- Enfim, nós vamos ter apenas algumas regras. - Ela suspira. - Primeiramente, você só vai falar o que quiser. Se eu fizer uma pergunta que não quer responder, não responda. Se você não quer me contar toda a história da sua vida hoje ou na próxima sessão, não conte. Eu preciso que nós dois trabalhemos juntos. Tudo bem, John?

- Sim.

- Eu só quero saber sobre você. Quem é você, John Watson?

Eu fico calado. Quem sou eu?

- Eu sou... o John. - respondo, me endireitando na cadeira e dirigindo o meu olhar pra ela.

- Quantos anos você tem, John?

- Dezoito. Dezoito anos.

- Você estuda?

- Estou na universidade. Comecei ontem.

- Meus parabéns. - A doutora me oferece uma expressão afável. Parece até orgulhosa. - O que está cursando?

- Biologia. 

Ela acena com a cabeça, parecendo muito satisfeita. Me deixo levar pelos elogios dela e consigo sentir os cantos de meus lábios esboçarem um trêmulo sorriso.

- O que você gosta de fazer? - Ela cruza as pernas e olha diretamente para mim, me deixando nervoso. eu esfrego o meu braço esquerdo, tentando me acalmar.

- Eu não sei muito bem. Eu gosto de música. - respondo, sentindo a maciez da poltrona engolir o meu corpo tenso e rígido. - Eu gosto de livros.

Eu gosto de me vestir como se fosse uma garota.

- Entendi. Tem expectativas para o semestre na faculdade?

- Muitas!

Um choque de adrenalina percorre o meu corpo, e meus lábios se contorcem num irrefreável sorriso.

- Eu adoro biologia. - continuo, sentindo os nós de minhas mãos se desatando. - Meu sonho é ser médico. Quero ajudar as pessoas.

- Uma causa muito nobre. Você tem algum interesse especial na biologia?

- Eu gosto de tudo. Gosto de estudar sobre a natureza, sobre ecossistemas, sobre pessoas, quer dizer, sobre o corpo humano. É uma das coisas que me faz sentir adequado.

Instantaneamente, meu sorriso se desfaz. Meu rosto começa a formigar.

- Você se sente... Inadequado?

- Eu... Eu não sei. Acho que sim.

- Por quê? - ela pergunta, levemente inclinando a cabeça. Sua expressão é neutra.

- Quantos garotos de saia você já atendeu no seu consultório? - pergunto, com um sorriso doloroso.

- Você é o primeiro.

- O quanto você sabe? - eu pergunto, tentando ler as anotações dela.

- Não muito. Sei que seu nome é John Watson. Você tem uma paixão por biologia, gosta de música, de livros. Sei que você é um jovem calouro. - Ela dá de ombros.

- A minha mãe não disse nada? - pergunto, hesitante.

A Dra. Adler suspira.

- Como foi? - Minha mãe pergunta, se levantando do divã onde estava sentada, na sala de espera

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- Como foi? - Minha mãe pergunta, se levantando do divã onde estava sentada, na sala de espera.

- Foi bom. - eu respondo, e ela me puxa para beijar a minha testa.

- Vou te levar até a universidade, tudo bem? Pode entrar no carro.

- Okay.

O frio corta meus braços descobertos, e o chão machuca meus pés pequenos. O prédio cor de creme onde a Dra. Adler atendia seus pacientes se distancia de mim e eu me aproximo do carro cor vinho que a minha mãe dirige desde que eu sou criança.

Uso a chave para entrar no banco do passageiro, sentando no banco que fedia à cigarro e perfume barato.

Meu nome é John. Eu tenho dezoito anos. Estou no primeiro semestre da faculdade comunitária onde estudo. Minha vida é miserável. Além de morar em Hounslow, um lugar conhecido pelos seus esfaqueamentos e sua sujeira, estou sempre estou triste ao ponto de não conseguir ser um membro funcionante da sociedade.

Mas ainda assim, minha mãe conseguiu pagar uma boa e cara terapeuta pra mim. Eu não tenho o que reclamar.

Eu tiro o celular da minha mochila, checando a hora e o meu novo Twitter. Uma pessoa havia curtido meus primeiros posts. Bloqueio o celular logo em seguida, e minha mãe entra no carro.

Depois de fechar a porta três vezes, porque a trava não funcionava, mamãe olha pra mim e sorri.

- Anime-se, John. As coisas vão mudar daqui pra frente. Eu prometo. - ela diz, apertando a minha coxa,

- Obrigado por tudo, mãe. - Eu digo, olhando pra ela. É sincero.

Ela dirige por mais algum tempo pelas ruas decentemente pavimentadas, e chegamos à St. Bartholomew's University.

- Boa aula, John!
- Bom trabalho, Mãe. - eu digo, acenando pra ela e fechando a porta.

Eu vejo o carro vinho se distanciar na faixa de mão dupla, observando a minha mãe seguir com o seu dia. O sinal toca, chamando a minha atenção e me forçando a correr.

hot n cold ;; johnlockOnde histórias criam vida. Descubra agora