Assim que adentro o departamento de biológicas com uma nota justificando a minha ausência hoje e por mais quatro meses, alunos saem de suas salas de aula e correm para seus armários, pegando o que precisam para as próximas aulas. Eu os desvio com certa facilidade, chegando ao meu armário, colocando minha nota no bolso e tirando meus livros para a aula de biologia celular.
- John! - eu escuto uma voz familiar chamando.
- Oi, Mike. - respondo, fechando o meu armário e recebendo o meu amigo com um sorriso. - Eu esperava te ver ontem, na cerimônia de abertura!
- Eu faltei ontem. Adoeci no fim de semana.
- Eu senti sua falta. - respondo, e nós caminhamos juntos em direção à sala de aula. Temos Biologia Celular e Fitomorfologia I juntos.
- Invertebrados I hoje foi um saco, e eu senti sua falta também. Como foi na terapia?
- Estranho. Nunca tinha feito nada parecido antes. Além de você e alguns colegas, ninguém havia me feito tantas perguntas sobre eu mesmo antes. Eu nem soube o que dizer. - digo, rindo do meu próprio nervosismo.
- É legal te ver por aqui, Watson. - Mike me pega pelo ombro de lado e me aproxima do seu rosto. Ele me induz a olhar para um horizonte imaginário, deslizando sua mão em horizontal no ar. - Como seu veterano, vou te levar às melhores festas e te apresentar aos melhores caras.
- Ah, claro. - digo, sarcástico. - Não me dou muito bem com festas e duvido muito que algum veterano gostosão me queira.
- Você tem mais chances do que pensa, Watson! - ele diz, com um sorriso satisfeito. - Aguarde e verás!
Andamos por alguns metros juntos e sinto as emoções otimistas de Mike me contagiarem. A presença de um rosto amigável naquela universidade enorme me fazia mais bem do que eu havia previsto.
- Você conseguiu algo com a garota da sua aula de Bioestatística? Lembra, aquela da qual me falava por telefone quase todo dia.
Mike para no meio do caminho, e eu paro com ele. Um sorriso decora seu rosto, e eu sorrio também.
- E aí? Hã? Conseguiu alguma coisa? - pergunto, curioso.
- Ela... Me pediu cola ontem.
Dou risada, achando tudo muito engraçado. Ele ri também.
- Antes que você diga qualquer coisa, Watson, é um começo. A segunda guerra mundial eclodiu por causa de uma rixa.
- Você sabe que não foi bem assim--
- Você me entendeu. - ele me interrompe, gesticulando e voltando a andar. Começamos a subir as escadas, e eu continuo olhando pra ele. - Revoluções começam com amizades, Inimigos surgem por acasos que se coincidem, grandes histórias de amor podem sim começar com troca de favores!
- Ei, você. Meu guarda-chuva.
Levanto os olhos, e acabo esbarrando em alguém.
- Me desculpa, eu não vi por onde olhava...
- Tudo bem. Meu guarda-chuva? - Precisando dar dois passos pra trás, eu finalmente vejo quem falava comigo, além do sobretudo preto acinzentado e do cachecol azul.
- Ah, é você! - digo, sorrindo. - Eu o trouxe comigo hoje. Tomei a liberdade de lavá-lo. Ele ficou sujo de lama. - Abro a minha mochila, que fica pendurada no meu ombro. De lá retiro o guarda-chuva azul escuro, e o entrego ao seu dono. - Mal vi seu rosto ontem e estava me perguntando sobre como eu iria te devolver o guarda-chuva.
Ele aproxima sua mão da sua posse, esbarrando na minha por acidente. Ele parece nervoso com o toque súbito, mas eu sorrio e sinalizo que está tudo bem.
Sem água nos meus olhos, eu consigo vê-lo bem enquanto ele coloca o guarda-chuva em sua mochila.
Olhos verdes, rosto emoldurado em mármore pálido e suavizado por elaborados cachos escuros.
Seu corpo é muito maior do que o meu. Ele é mais alto, mais forte, mais elegante.
- Sherlock Holmes. - ele diz, estendendo sua mão para mim.
- Não precisa ser tão formal, eu sou o--
- John Watson, eu sei. - ele diz, apertando minha mão e fazendo menção de se retirar. Eu gelo.
- Como você sabe? - pergunto, esperando a resposta. Eu sabia que algumas pessoas achavam a minha personalidade algo engraçado e digno de zombaria, mas eu nunca tinha visto aquele garoto pelo corredor. Um aluno aleatório já ficou sabendo do calouro esquisitão que se veste de mulher? Minha reputação não tem solução...
Mike dá uma risadinha, e eu me viro pra ele achando estranho. No mínimo, insensível.
- Qual a graça, Mike?
- Se prepare pra conhecer um dos truques do Sherlock.
- Conhece ele?
O tal Sherlock suspira.
- O seu nome... está costurado dentro do seu suéter. - ele diz, e eu levo um susto.
- Oi?? Cacete, como você viu isso? - pergunto, surpreso e assustado.
- Observação. Assim como também sei que você tem uma irmã mais nova.
- O que é você, um stalker? - Pergunto, me afastando dele e acabo por tropeçar num degrau.
Sherlock pega a minha mão e me puxa para perto, de volta para o degrau onde eu estava.
- Você tem um ursinho de pelúcia rosa na sua mochilaa. Poderia ser seu? Poderia, mas esse exato ursinho é o Hammie, personagem infantil que se tornou uma verdadeira febre entre as crianças de hoje. Você não me parece o tipo de cara que gostaria desse tipo de desenho, talvez algum de sua infância, mas não algo tão idiota. Enfim, a tonalidade rosa e os traços gentis de Hammie me fazem supor que seria mais popular entre as meninas do que os meninos. - Rapidamente fecho a minha mochila, assustado e até mesmo ofendido.
- Você é um fofoqueiro profissional, é? - pergunto, interrompendo a explicação dele. - O que mais adivinhou sobre mim?
- Eu não adivinhei nada, apenas deduzi. - ele responde, com um ar superior.
- Não deduza nada sobre os outros sem a permissão deles.
- Por quê eu precisaria de uma permissão? - ele retruca, confuso.
O alarme toca mais uma vez.
- Você ainda não soltou a minha mão. - respondo, e Sherlock imediatamente me solta.
- Desculpe.
- Licença. - eu digo, desviando dele e seguindo para a sala de aula.
"Nunca imaginei que as fofocas pudessem correr tão rápido nessa universidade meu deus!"
Twitter for iPhone • 1 min atrás • 0 likes
VOCÊ ESTÁ LENDO
hot n cold ;; johnlock
Fanfictionem que john mantém um twitter onde fala sobre sua vida, incluindo seu relacionamento com um garoto mais velho chamado sherlock.