sexto post.

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Sherlock é bruscamente despertado pelo som de seu despertador. O garoto se levanta de supetão, sentando em sua cama em um ângulo de 90⁰.

Seus olhos, ainda sonolentos, olham por trás das cortinas empoiradas que cobriam suas janelas. Já estava de dia. Estava frio.

O garoto se estica para fora da cama, e cerrando sua mão em um punho, ele esmurra o rádio que fica próximo da sua cama, o que faz com que o pobre equipamento comece a funcionar.

you always hurt the one you love
você sempre machuca aquele que ama

the one you shouldn't hurt at all...
aquele que você não devia machucar de forma alguma...

Provavelmente, o rádio estava obsoleto há 30 anos. Era do seu pai, e talvez já tivesse sido do seu avô, mas o que Sherlock sabia com certeza era que era aquele o rádio que seu pai tanto gostava de ouvir uma coleção muito específica de músicas. Coleção essa, que Sherlock nunca teve coragem de retirar do toca-fitas.

you always take the sweetest rose
você sempre pega a rosa mais doce

and crush it 'till the petals fall
e a amassa até que as suas pétalas caiam

Se afastando do rádio, e da cama que o chamava de volta, o Holmes mais novo começa a se dirigir ao banheiro, onde se encara no espelho por alguns minutos antes de tomar banho e escovar os dentes.

you always break the kindest heart
você sempre quebra o mais bom coração

with a hasty word you can't recall
com uma palavra áspera que não pode tomar de volta

Imerso em sua rotina matinal, Sherlock Holmes sai do banheiro após o banho, indo até o quarto se vestir. Ali ele pensa ouvir alguma coisa sussurrando pela janela, mas logo depois conclui que foi apenas um esquilo ou o vento lá fora.

Apesar do exterior excêntrico e distante e de seu comportamento errático e distraído, Sherlock tinha um sensível coração. E ansiava por amor, apesar de mentir para si mesmo e dizer que não desejava nada ou ninguém.

so, if I broke your heart last night
então, se eu quebrei o seu coração ontem à noite

Música era a sua paixão secreta. Por trás do exterior de um apreciador da música clássica e um exímio violinista, nas horas vagas Sherlock gostava de músicas românticas, ou de rock e pop como qualquer jovem adulto de sua idade.

Toques físicos o deixavam ansioso, assim como encostar na mão daquele garoto ontem, ou como não soltar a mão dele depois de ter impedido que ele caísse.

Apesar de tudo, o garoto se sentia nervoso. Seu coração e sua mente pareciam, depois do encontro com John, distoar ainda mais um do outro. A vida sempre o castigou com um coração e um cérebro que discordam entre si, mas sempre que um novo rapaz aparecia em sua vida por mais de cinco minutos tudo entrava em desarranjo.

it's because I love you most of all
é porque eu te amo mais do que tudo

Seu telefone toca bruscamente, tirando Sherlock do ambiente nostálgico que a música o havia envelopado. Era Mycroft, seu irmão.

- O que você quer?
- Bom dia, flor do dia!
- Bom dia, Mycroft. O que você quer?
- Ué, não posso ligar pro meu irmãozinho antes da aula? Apenas quero falar com você, só isso. Estou levando um croissant e um café com leite.

Sherlock suspira, olhando para cima enquanto colocava seu sobretudo.

- Eu já disse que prefiro café preto.
- Não, café preto não! Você é muito novo pra café preto.
- Tenho 26 anos, Mycroft. Por favor.
- Se reclamar, vai tomar suco. Vamos, anda, eu te levo na faculdade.

Sherlock volta a fita e desliga o rádio, saindo de seu quarto logo em seguida. Ele calça os sapatos na saída, pegando sua bolsa a tiracolo e a ajustando em seu peito. Ele se olha uma última vez no espelho, arrumando o cabelo de forma desleixada.

Ele sai de casa e fecha a porta, alcançando a chave enferrujada e gelada no bolso de seu sobretudo.

Sherlock continua a andar, e assim que levanta seus olhos, encontra o carro de seu irmão, e seus ouvidos são machucados por uma alta buzina. Ele corre até o carro, levantando um pouco o seu cachecol para que alcance seu nariz.

O cacheado abre a porta do carro, seu irmão está nos bancos de trás.

- E aí, maninho? Tudo bem? - Mycroft pergunta, e o garoto revira os olhos. O Holmes mais novo se senta no banco oposto, encarando seu irmão. Mycroft o entrega uma sacola de papel, juntamente com um copo de café — com leite.

Sherlock pega a sacola de papel e o copo bruscamente sem encarar o irmão.

- Melhor se não estivesse aqui. - Sherlock responde, de forma áspera. Mycroft ri.
- É, eu realmente não tenho notícias boas.

Mycroft sinaliza para que o chofer siga seu caminho até a escola, e Sherlock toma um pouco do café, apreensivo.

- Como assim? - ele pergunta.
- Seu lance em Dartmoor. Uma vítima foi atacada seriamente, e infelizmente acho que não vou poder te levar lá.
- Mycroft, você prometeu. - Sherlock diz, tentando manter a compostura. Seu coração acelerava, e o sangue subia à sua cabeça.
- Sherlock. - Mycroft o repreende, sério. - Isso não é brincadeira de criança. Eu prometi que te levaria pra acompanhar a investigação, pra conhecer os profissionais. Infelizmente não dá mais.
- Você acha que eu não aguento? Você adora me tratar como se eu fosse um criança! É a chance da minha vida! Tenho trabalhado em um artigo sobre tendências criminosas em áreas de charneca próximas a zonas nucleares e eu preciso dessa pesquisa de campo!
- É o fim da sua vida. Você acha que eu quero te perder? - Mycroft rebate, firme. Seus olhos parecem lacrimejar, o corpo dele grita medo. Sherlock vira o rosto, desconcertado. - Você não teria escolta, não teria alguém acompanhando você. Eu preciso cuidar de coisas maiores que Dartmoor agora, estamos tentando traçar o perfil do assassino. Eu confio em você, mas nós não temos a menor ideia do que ele vai fazer. Eu não quero perder você. Não seja teimoso.

O carro para na frente do departamento de biológicas e Sherlock desce do carro bruscamente, levando o seu café da manhã consigo. Mycroft suspira, vendo o seu irmão partir. O carro vai embora.

Sherlock está em frangalhos, seu emocional está uma bagunça.

Ele se mantém parado na frente do campus, imóvel, sem saber o que fazer consigo mesmo. Alguém esbarra nele, e Sherlock finalmente acorda.

- Opa, foi mal. - Ele reconhece a voz, e olha para trás de si mesmo. É John Watson. - Ah, é você! - o mais novo diz, saindo de trás de Sherlock e ficando em sua frente. John é tão baixo em comparação ao mais velho que Sherlock precisa abaixar a cabeça para olhar para John.

Ele usava um suéter bege, e uma calça jeans. ele parecia usar uma regata preta por baixo do suéter.

- A gente vive esbarrando um no outro. - John diz, guardando o celular no bolso.
- É. Tome mais cuidado da próxima vez. - Sherlock diz, finalmente entrando na escola e deixando John para trás.

hot n cold ;; johnlockOnde histórias criam vida. Descubra agora