Céu e Inferno

Passo 11

O quinto subsolo do inferno levou-me até um ser gigantesco: uma centopeia voadora. Muitos eram os lamentos e murmúros de almas ao meu lado, ouvi-as chorando.

A centopeia gigante voava e direcionou-se a mim. Sua cabeça tinha antenas e presas, como a de uma aranha. 

- Meu nome é Leviatã, sou um dos líderes do inferno - disse o monstro. - Tenho uma pessoa para lhe apresentar.

O monstro então vomitou em minha frente algo que parecia uma pessoa e que aos poucos foi ganhando forma. A pessoa foi desprendendo-se das bábas que a prendiam ao chão e, em poucos minutos, tornara-se alguém. Alguém conhecido.

- Camila? - eu perguntei.

- É... quem imaginou que nós iríamos encontrar-nos novamente - ela respondeu.

Uma lágrima escorreu do meu rosto. Camila foi a primeira mulher que me demonstrou amor e foi recusada, isso no final da minha infância. Ela havia-me dado presentes e demonstrava cada dia mais que me amava. Eu não gostava dela tanto assim.

- Eu não gostava de você tanto assim - disse a ela. - Você insistiu em mim mesmo sabendo que eu não a amava.

- Esse é o seu problema - ela pontuou, - você nunca disse não. Era só ter dito "não". Você sempre me enrolou.

- Eu tinha medo que você ficasse muito mal com esta minha resposta. Tinha medo que você não suportasse a verdade - eu respondi.

- Se isso fosse verdade, você não estaria aqui no Inferno.

Eu olhei ao lado e percebi que havia muitas outras almas fazendo algo semelhante a mim. As almas conversavam com os seres nascidos da bába do Grande Leviatã. Era como se todos nós estivéssemos participando de um mesmo ritual, de purificação.

- Você está aqui comigo também, Camila. Você não está no céu - eu retruquei.

O rosto da pessoa a minha frente trincou, como se fosse de porcelana. Enquanto estilhavaça, ela disse-me:

- Eu sou apenas uma abstração da sua mente...

O som dos estilhaços impactando o chão chamaram a atenção do Leviatã, que veio até mim e conferiu que uma de suas criações havia-se partido. Ele voltou-se a mim furioso.