Dia dos mortos

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Protestantes locais colocavam fogo em um carro cinza, parado do outro lado da rua em que passávamos. Virei o pescoço na janela, a tempo de ver as chamas se alastrarem e algumas pessoas correrem.

Era o "boas-vindas" de Sinaloa.

- Consegui – Georgina vibrou ao meu lado e eu respirei igualmente aliviada. – Estamos com as imagens da casa ao lado do Sanchez e a da frente – ela fechou o notebook no colo e se inclinou para entrega-lo ao Carter, sentado no banco de passageiro da frente. – Agora é com você, pequeno Baizen.

Ele encarou nós duas por cima do ombro, antes de fazer uma cara irritada e ascender um cigarro, ignorando totalmente o olhar mortífero do motorista.

- L já mandou as coordenadas do cofre? – A voz de Carter saiu como se estivesse dentro da água, então eu não ouvi direito. – B?

Balancei levemente a cabeça. Droga. Eu estava distraída. Andava assim desde...

- É claro que ele mandou – me recostei no banco. – Se estivesse prestando o mínimo de atenção, teria visto que eu encaminhei para você assim que saímos do aeroporto – respondi rispidamente. – É melhor colocar essa sua cabeça no lugar antes da festa, ou então vai perder ela.

Ser agressiva era a forma que eu sabia de não deixar transparecer o que estava acontecendo de verdade. Os pensamentos que eu evitava a todo custo deixar virem à tona.

- Minha nossa, o meu telefone descarregou – vi ele franzir o cenho pelo retrovisor e puxar um trago. – Foi apenas uma pergunta.

Respirei fundo, tentando ignorar a irritação, mas acabou não funcionando. Sem nem pensar, puxei o colarinho da blusa dele para trás, chocando sua cabeça contra o encosto do banco.

- O seu celular descarregou, Baizen? E se alguma coisa acontecesse e a porcaria do seu telefone fosse a única coisa que pudesse salvar o seu traseiro? – Disse entredentes, enquanto ele tentava se soltar, sufocado e preso pelo cinto. – Ou mais grave ainda, se fosse a única coisa que pudesse salvar a minha vida ou da sua outra parceira ali? – Inclinei a cabeça para Georgina no outro canto e o soltei com força. – É melhor não vacilar assim de novo.

- Merda – ele tossiu e resmungou enquanto apertava o pescoço. – Foi mal. Não vai... Não vai acontecer de novo.

- E apaga essa droga de cigarro, seu imbecil.

Carter abriu a janela e jogou a metade que ainda não tinha fumado na rua. Não precisei nem olhar para Georgina para saber que ela me encarava com os olhos arregalados.

- Por acaso, há algum comentário que queira fazer, G? – Perguntei, ainda vendo o cenário lá fora mudar de prédios descascados e pinchados para uma zona mais verde e distante do centro.

- Nenhum – mas então ela arrastou a bunda pelo banco até chegar bem perto de mim. – Eu sei que geralmente você coloca medo nas pessoas de graça, mas porque eu sinto que dessa vez tem uma razão a mais?

Olhei para ela e ela já sabia que eu não ia responder.

[...]

A mansão dos Sanchez era beira-mar.

Eu usava um curto vestido vermelho brilhante, como todas as outras dez mulheres na minivan.  Meus cabelos estavam soltos em onda grossas e haviam feito a mesma maquiagem em todas.

Eles iam nos revistar na entrada, isso significava que eu não ia ter nada além do mini canivete no meu sutiã se não roubasse a arma de alguns dos homens do Sanchez.

Georgina estava em alerta do outro lado, como quem não me conhece. Ela sabia o que eu estava pensando e me jogou um sútil olhar de "dê seu jeito que eu dou o meu".

The KillersWhere stories live. Discover now