Apenas uma noite

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Prólogo

Meu nome é Blair Waldorf, mas quase ninguém me chama assim. Alguns podem pensar que é porque eu realmente prefiro o meu apelido "B" e me apresento a todos assim, mas a verdade está muito longe disso.

Eu tinha apenas quatorze anos quando perdi meus pais em um acidente de carro. Por um milagre, eu fui a única sobrevivente e, até hoje, não entendo o porquê. Sem outros parentes, pulei de lares de adoção a lares de adoção até completar dezoito. Afinal de contas, quem ia querer adotar uma garota de quatorze anos possivelmente traumatizada e problemática?

E, só para constar, depois que você faz dezoito, o Estado está pouco se lixando para você. Tipo: Vai ter onde morar? Tem como sobreviver? Tem como comer? Não? Oh, que pena. Você que se foda!

Sem nem perceber, eu estava na rua. Procurei trabalho, me oferecia trabalhar de graça em troca de um lugar para ficar e comida. Mas... em Nova York, isso era o mesmo que pedir a um desconhecido a senha da conta bancária dele.

Naquela primeira semana, consegui dormir no abrigo comunitário de uma região perto do Queens. Os quartos eram mistos e as mulheres precisavam dormir com qualquer objeto pontiagudo em punho para garantir que não ia ser violadas durante a noite. Era um pesadelo.

Eu percebia os olhares horripilantes daqueles homens em cima de mim e de outras mulheres. Dizer que eu dormia era uma grande mentira.

Então, já deu para perceber que a minha vida nunca foi fácil depois daquele acidente. De certa forma, tudo isso me moldou para quem eu sou hoje. Sim, eu penso em mim em primeiro lugar antes de qualquer outra pessoa. Sim, eu não vou ponderar duas vezes antes de me colocar acima de tudo e todos.

Certo dia, cheguei atrasada e não consegui entrar no abrigo. Atrasada porque perdi metade do dia tentando convencer o dono daquele restaurante a me deixar dormir no chão da cozinha e trabalhar por comida.

Estava andando por uma rua escura, retornado do Queens e torcendo para que o abrigo no oeste do Brooklyn ainda estivesse com vagas. Eu andava depressa e meu coração estava disparado. Os sons da noite calma e quase fantasmagórica me assustavam. A cada esquina, pedia para continuar o quarteirão sozinha.

Foi quando uma tampa de metal caiu no chão, fazendo um estrondo tão grande que pensei ter deixado a minha alma sair do corpo. Me virei em um sobressalto e percebi que era apenas um gato de rua, tentando alcançar a lixeira.

Deus.

Mal tive tempo para me recuperar quando uma grande mão suja cobriu a minha boca. Vi de soslaio um dos caras do abrigo, eu sabia que ele me olhava todas as noites e sorria daquele jeito nojento. Ele era velho e deveria estar na rua há anos.

Me desesperei, pois, sabia o que ele estava tentando fazer. Senti as lágrimas queimarem os meus olhos e comecei a me debater com toda força. Dava cotoveladas em sua barriga gorda e ele parecia gostar. Ele ria e murmurava coisas nojentas. Eu estava prestes a vomitar quando tomei um impulso e chutei bem no meio das pernas dele.

O homem se afastou momentaneamente, soltando um grunhido de dor. Mas vi em seus olhos que não estava nem perto de terminar.

- Sua vagabunda...

Rapidamente, me abaixei e peguei a tampa de metal da lixeira, acertando-o de uma vez só na cara. Ele baqueou, mas não caiu.

Para o meu alivio, uma viatura de polícia dobrou a esquina. Soltei todo ar que guardava e comecei a gritar na direção deles, chamando-os. O homem deu dois passos para trás, ainda segurando o rosto.

Só que, para o meu horror total, o policial olhou bem de fora da janela e apenas dobrou a rua. Não parou. Não fez nada. Apenas continuou seguindo até desaparecer.

The KillersWhere stories live. Discover now