8 - Ele é fraco para bebida

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- Faz tempo que não faço isso - comentei.

- O que? Sentar no tapete do seu vizinho e beber com ele?

Ri, passando a garrafa.

- Beber com amigos - murmurei em explicação.

- Por que não? - questionou Adam, sentindo o olhar dele sobre mim, virei a garrafa de uma vez bebendo grandes goles - desculpa não deveria ter perguntado.

- Não, não, tudo bem - limpei o canto da boca, pensando em como prosseguir - eu tinha um namorado e eu só fui perceber no fim da relação que ele era possessível, na verdade foi por isso que mudei para cá.

- Bem, ainda bem que se livrou dele.

- É ... mas foi tarde demais, quando percebi ele já tinha afastando todos os meus amigos de mim.

- Sinto muito.

Adam bebeu, em silêncio passou a garrafa para mim, virei o líquido avermelhado, manchando meu lábio com a cor escura, ainda em silêncio devolvi para ele.

- É por isso que só está terminando a faculdade agora? - perguntou ele, interrompendo o silencio.

- É, sinceramente eu não sei como, mas ele me convenceu que trancar a faculdade era a melhor coisa que eu poderia fazer.

- Que bom que você caiu fora e se mudou para cá.

- Eu também acho, antes de me mudar nunca tinha bebido vinho direto da garrafa.

Adam riu, pegando a bebida da minha mão.

- Nem eu.

- Posso fazer uma pergunta? - perguntei virando meu rosto para ele.

Adam concordou com a cabeça. Pressionei meus lábios, pensando em como prosseguir.

- O jeito que Mike falou sobre mim, sobre garotas, me deu ao entender que ... você sabe, que você não faz isso a algum tempo e que ele pega muito no seu pé por causa disso e ... bem, eu vi o banheiro, você tem um espelho, para caras com o você, não é nada difícil arrumar uma namorada, então por quê?

Adam me encarou em silencio por um segundo, mas para mim pareceu uma eternidade, e quando eu decidi pedir desculpas pela pergunta insensata, ele sorriu e então riu.

- Por que eu sinto que você rindo da minha cara?

- Porque talvez eu esteja, mas só um pouquinho.

- Adam!

- Desculpa, é que você se embolou tanto na pergunta.

- Agora, só porque você riu, você vai ter que me responder.

- Antes eu não tinha?

- Não, antes você tinha direitos, agora não os têm mais.

Adam mordeu o canto da boca, pensando.

- A última mulher que namorei, achei que era ela, sabe, pra sempre, mas ... esse não era o plano dela.

- Qual era?

- Avançar no trabalho, na época eu estava sendo editor de um grande livro, todos sabiam que no final eu ganharia uma promoção.

- Ela não...

- Ela se aproximou de mim, invadiu minha privacidade, só para poder arrancar o livro de mim e junto a promoção.

- E ela conseguiu?

- De certa forma, o livro foi um sucesso como previsto e ela avançou na carreira, só não foi tudo o que ela achava que seria.

- Sinto muito.

Adam deu de ombros, deitando a cabeça no sofá ele encarou o teto por um momento, antes de fechar os olhos, fiz o mesmo, deitando minha cabeça para trás à apoiando no sofá.

- Bem - disse ele, interrompendo o silencio, ainda deitado virando a cabeça para me encarar - não importa, foi divertido essa noite.

- Não acredito que vou dizer isso, mas foi mesmo, você é bem legal quando não está sendo rude.

Ele riu. Eu ri.

Com o fim da garrafa estamos bêbados, sentados no tapete de sua sala, com a cabeça deitada no sofá, rindo e conversando, em algum momento, meus olhos pesaram, em outro os dele também, e então dormimos ali.

❃✾❃

Virei meu rosto, evitando a luz do sol que entrava pela janela enquanto acordava, alonguei meu pescoço, tentando aliviar a dor pela posição que dormi.

Assim que voltei meu rosto em direção a janela, eu a vi, no meio da noite ela deve ter se remexido ate achar uma posição confortável, já que agora ela esta com a cabeça apoiada sobre os braços debruçada no sofá, o sol que entrava, refletia em seu cabelo, fazendo as mechas loiras brilharem.

Não podendo evitar, tirei o cabelo de seu rosto, os levando para trás de sua orelha, e então percebi que sorria, franzi minhas sobrancelhas para mim mesmo, desviando os olhos dela, me levantei.

Voltando a observa-la, me questionei se deveria coloca-la no sofá, mas levando em conta que ela acordaria assim que eu apegasse no colo, não o fiz, e segui em direção ao banheiro, para fazer minha higiene pessoal.

Assim que voltei para a sala, Lara não estava mais no tapete dormindo, olhei em volta a procurando, me perguntando se ela já teria ido.

- Estou aqui - murmurou ela, encostada na bancada da cozinha com um copo de água na mão.

- Oi - murmurei, deixando o mesmo sorriso que notei de manhã aparece.

- Oi.

Forcei uma tosse.

- Ressaca? - questionei, vendo o analgésicos no balcão.

- É.

Nos encaramos em silencio por um momento.

- Bem, acho melhor eu ir, tenho voluntariado e faculdade hoje.

- Owu, certo - concordei, mesmo não gostando da ideia.

Sem nos mexer continuamos a nos encarar em silencio.

- Ate o elevador? - sugeriu ela, abandonando o copo na pia.

- É, ate o elevador - concordei de novo, assentindo com a cabeça.

Pressionando os lábios, ela esboçou um sorriso, começando a se mover em direção a porta.

- Lara - chamei assim que sua mão tocou a maçaneta da minha porta.

Sem mexer a mão, ela olhou para mim, esperando eu continuar.

- Quer sair algum dia desses?

- Sair como amigos? Ou em um encontro?

- Não pode ser os dois? - questionei virando a cabeça, a analisando de outro ângulo.

Ela sorriu, largando a maçaneta, ela levou o cabelo para trás dos ombros.

- Só que mais para encontro - acrescentei, me surpreendendo.

- Quando?

- Ta livre no sábado?

- To de plantão.

- Que horas você sai?

- Sábado - proferiu ela para si mesma - jornada de oito, entro meio dia, atraso - contando nos dedos, ela ergueu o olhar - devo sair lá pras oito da noite, mas ate eu chegar aqui...

- Me fala o hospital que você trabalha, posso busca-la, e então vamos jantar direto.

- Ta - anunciou ela, o sol ainda refletia em seu cabelo, a tornando uma verdadeira obra de arte - trabalho no Ridgeview Hospital.

- O que fica perto da shopping?

- Esse mesmo.

- Então eu te pego as oito, no sábado.

Lara assentiu, girando a maçaneta.

- Ate o elevado - despediu-se ela, passando pela porta.

- Ate o elevador - disse de volta.

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As características do meu vizinho.Onde histórias criam vida. Descubra agora