Depois que eu assumi todas as responsabilidades do rancho, convivo na fazenda com meus empregados: José, o capataz e sua esposa Josefa, a cozinheira, e também Julinha, a filha deles de 9 anos.
Vou explicar o que aconteceu por aqui. Agora eu tenho 28 anos, e sou o filho do meio. O pobretão e esquecido pelos outros, mas quer saber?! Danem-se! Mas quando eu ainda estava na adolescência passei por uma vida sofrida que vocês nem imaginam. Discussões na família, muito trabalho duro capinando mato, preparando ração para os bois, buscando água no açude, trabalhando no silo e por aí vai. Naquele tempo, meu pai sempre discutia por falta de dinheiro com minha agora falecida mãe. Então para amenizar as desavenças ele decidiu jogar na loteria e com uma tremenda sorte ganhou seus milhões. Como minha mãe negou em deixar nossa fazenda e vizinhos, nossa família na verdade... fiquei com ela. Dispensamos o dinheiro do velho.
Convivíamos nos fartando com o pão que o diabo amassou, e sem auxílio financeiro nos faltava de tudo. Meu pai, agora também morto, sempre me telefonava querendo me levar para capital de Goiás. Mas sempre eu resistia e não ia. Prefiro o interior mesmo. Ambiente saudável e muitas mulheres lindas do campo.
Ficamos assim por um bom tempo. Meus irmãos, vez ou outra vinham aqui no rancho com seus carrões do ano esvoaçando poeira pela estrada, enquanto eu dirigia uma caminhonete velha caindo aos pedaços e cheia de capim. Que humilhação? Nada... me orgulho disso e da minha vida. Mas não abaixei a cabeça sequer uma vez, por outro lado, eu até os ignorava e continuava com meus afazeres.
Eles ficaram sem pisar por aqui mais ou menos uns 4 anos. Depois disso voltaram apenas mais algumas vezes e só. Ainda bem que depois sumiram para sempre, e até hoje nenhum deles pisou novamente pelas redondezas, e se ousarem eu mesmo os mato à espingarda.
Vocês se perguntam: "os pais já falecidos?" Eu respondo, na verdade explicarei o que eu sei. "Após anos, a desgraça que chamo de pai, retornou bêbado e assassinou minha mãe enquanto eu tirava leite das vacas no curral. Foi José quem correu às pressas para me avisar. Não acreditei, mas ao chegar no alpendre a vi caída sangrando muito e ele já morto com um tiro na cabeça, – suicídio. Bom, isso foi o que falaram, mas não provaram nada até hoje."
Foi terrível suportar aquela perda, talvez, fosse esse motivo que me transformou num homem rude e sem moral. Trato todos com desprezo, exceção àqueles que vivem aqui, apenas eles.
Então durante meu crescimento, fui aprendendo que não há outro negócio melhor do que sexo, sexo e mais sexo. Fazer o que, você tem seus gostos e eu os meus.
Toda manhãzinha me dirijo ao cajueiro que é meu lugar de meditação. Inexplicável o que podemos ver quando o sol quebra as nuvens no horizonte deixando o céu alaranjado. De repente, uma voz me incomoda a olhar para baixo.
– Marcus. Papai tá te chamando, vem logo. – ah, é só a Julinha, minha amiguinha.
– O que ele quer? – perguntei desinteressado. – Fale que estou muito ocupado.
– Deixe de se chato e desça logo daí. É sério. E não vejo ocê ocupado com nada. – imaginem a cena... uma garotinha de nove anos te repreendendo?
– Tá bom Julinha, diga-lhe que já vou indo, o nascer do sol é sagrado. – a vi saindo saltitando e ao mesmo tempo cantarolando, ela é uma linda criança loirinha. Mas que por viver na roça vive bagunçada.
Fiquei observando o sol por mais alguns minutos.
– É, vamos à rotina. – saltei do galho e caí em pé levantando poeira.
Caminhei descalço rente a cerca pela estradinha de areia que Júlia veio me chamar até chegar de volta à fazenda. Lá estava José com um machado nas mãos todo suado, sem blusa e cortando madeira para ser utilizada como combustível do fogão a lenha. Avistei também Josefa um pouco mais afastada pendurando minhas roupas no varal enquanto a garotinha corria brincando com Totó, um cachorro abandonado que encontramos quando fomos vender leite no centro de Luziânia.
Parei me encostando com as costas num grande tronco em pé, e falei com José:
– Vá devagar homem. Temos bastante lenha ainda. Acho que dá para mais algumas semanas. – ele sorriu e deu uma pausa retirando o suor da testa parda, sua barba e o bigode grisalhos estavam mais do que necessitando de serem amparados. O seu olhar desfrutava do amparo da aba do chapéu de palha. – Então, estou aqui. O que você quer uai?
– Marcus, é que o sinhô Barnabé vai vir aqui pra comprar alguns dos novilhos, e ocê precisa está presente né uai? Eu só trabaio aqui, o dono é ocê sô.
– Eu sei que sou o dono da fazenda. Mas já falei que na minha ausência você tem autoridade o suficiente para vender ou comprar o que for necessário, José.
– Sabe comé meu jeito né? Sou cabeça dura meu patrão. Nasci na roça braba tendo mato como travesseiro, fui ensinado pra cortar lenha, arar terra, domar cavalo e cuidar das lavouras, mas esse negócio de administrar né comigo não uai.
– Tá. Mas ele vai chegar quando?
– Ele me falou que provavelmente à noitinha, quando os gafanhotos se aquietarem e os vaga-lumes surgirem.
– Então temos o dia inteiro pela frente uai. Não precisava me chamar agora.
– Mas também tem outra coisa sinhô. – ele me encarou e tirou o chapelão desbotado expondo sua nuca calva. – Queremos dar um futuro pra Julinha colocando a bixinha na escola, né? Não sabe nem soletrar o nome e não queremos que ela seja arnafabe... alnarf...
– Analfabeta, José. – completei a frase do capataz.
– Isso meu patrão. Quero que ela seja diferente da famia da roça.
– Então desembucha logo homem.
– Eu sei que as coisas andam difíceis pro nosso lado depois que seu pai se matou e assassinou sua mãe, ocê não recebeu nadinha da herança, mas eu tô precisando de um aumento. E justamente seria esse valor pra eu investir na minha fia.
– Verdade. Fiquei sem nada. Dizem que meu irmão mais novo enganou a todos, inclusive o próprio velho dando-lhe uma rasteira e ficando com toda a grana para ele. – saí do encosto e parei em frente ao homem com a pele queimada pelo sol. – Mas a gente pode conversar uai. Quanto que você tá precisando? Diga logo. – olhei para a menina, realmente, ela tinha que possuir um futuro, e não viver na roça.
– Uns duzentos contos por mês fica pesado pro ocê?
– Ficar, fica né uai. Mas o futuro dela é o principal. Vamos fazer assim. Faltam doze dias pro mês acabar. Então trabalhe o restante dos dias que faltam que no próximo pagamento eu já darei o dinheiro, tá bom, José?
– Fechado sinhô. – ele sorriu e apertou minha mão, logo senti os calos, mas também não vou falar muito sobre o assunto porque a minha também é calejada pelos serviços do campo. Mas homem que é macho de verdade tem que ser assim mesmo. – Agora me dê licença que vou lascar mais lenha.
Assenti e comecei a caminhar rumo a escadaria da fazenda, ia tomar um banho e procurar algo na geladeira, quando, de repente o assunto Barnabé retornou a minha mente. Voltei ao capataz e sussurrei em seus ouvidos:
– Sabe me dizer com quem ele vai vir?
– Ele quem patrão? – devolveu-me pondo de volta o chapelão.
– Barnabé, ora.
– Ah, sim. Ele falou que vai vir com a muié dele.
– Hum... e a filha? Eduarda, né? O nome dela?
– Isso, a Duda. Mas não sei te explicar sinhô. Só sei que ele disse que dona Margarida vai vir com ele pra dar uns abraço na minha muié e jogar umas conversas fora. Sabe comé né? Papo de muierada, só sai bobagem.
É, pelo menos a coroa vai vir, aquela tesuda de quatro deve ser uma baita pangaré.
– Então até mais José.
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Marcus - Degustação 10 caps
RomancePrimeiro volume da trilogia Irmãos. 18+ Marcus, o Cowboy. Um homem do campo cujo desejo por sexo não tem limites, e além do mais, sua rotina sexual se limita em transar apenas uma única vez por mulher. Mas será que continuará a pensar assim após con...