3 - Em cima dos sacos

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Acordei bocejando lentamente, a preguiça me dominava. Meu corpo estava tampado por apenas uma cueca azul, a noite sempre faz calor e não tenho ar-condicionado em casa. Olhei as horas no relógio de parede e eram exatamente 5:00 horas. Vida de homem da roça é assim mesmo gente… acordar junto com os galos cantando. Vesti uma blusa qualquer e pus uma calça jeans, completei pondo uma sandália de couro nos meus pés e desci para a varanda.

Escovei meus dentes na torneira cuja fonte da água é natural e fiz algumas abdominais para expulsar a preguiça que me cercava.

Após, fui à cozinha, avistei Josefa preparando o café com leite, mas não vi José.

Cadê seu marido, mulher? – perguntei tomando posse de uma cadeira. – Ele sempre acorda primeiro do que eu.

Ele já acordou. – ela sorriu delicadamente colocando os bules em cima da mesa forrada com um tecido novo detalhado com pinturas de frutas. Os pratos e xícaras com os talheres foram colocados lado a lado. – Tá cortando algumas pencas de bananas maduras, depois trazemos umas pro ocê.

Não precisa. Chega de bananas. – sorri. – Podem ficar com elas e fazerem bom uso, já enjoei.

Começamos a comer o que minha cozinheira havia preparado e também conversamos sobre vários assuntos. Logo em seguida o capataz apareceu todo cansado subindo pelos degraus.

Bom dia patrão. – resmungou e sentou-se conosco. – Cadê a Julinha uai? – perguntou à sua mulher.

– Ela está dormindo né! Tava muito mal ontem, mas logo vou ver se ela acordou.

José começou a comer e ficamos em silêncio por algum momento. Quando terminei de dar o último gole no café pelante disse ao capataz:

– Tome as chaves. Já estou indo. Pela tarde estarei de volta.

Boa viagem, Marcus. – disse e pegou as chaves. – Se os homens das rações vierem por aqui…

Mande-os pra porra e diga que não tenho dinheiro! – interrompi e me coloquei de pé.

Mas não posso falar isso uai! – revoltei o capataz, pela cara que ele fez eu não resisti e tive que rir.

– Você não vai falar isso, ora! Diga que o vencimento é na semana que vem, e pronto. Terça que vem eu pago. Agora vou indo nessa.

Você vai de quê? – a mulher me perguntou.

– Vou na picape do nosso vizinho distante Gonzaga, Josefa. E vou trazer um presentinho pra Julinha, viu.

– Não precisa sinhô…

– Que não o que mulher, eu mesmo faço questão. Até mais.

Despedi-me deles e fui ao curral onde montei sobre o lombo de Barroso. A estrada que separava minha fazenda da do Gonzaga era cerca de uma hora galopando a cavalo. E assim cavalguei até chegar por lá. Um grande casarão cercado por muitas árvores e muitos gados.

Bom dia meu rei! – disse o ruivo magrelo surrado pela idade que guardava a porteira de acesso à fazenda com um fiasco de mato preso entre os dentes amarelados, com certeza ele era baiano. – O que você quer?

Marcus - Degustação 10 capsOnde histórias criam vida. Descubra agora