Capítulo I

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PARTE I


VIAJANTE

Não sei porque o clima sereno e frio da chuva me acalmava com mais facilidade do que a terapia e a lista de remédios para a ansiedade e a depressão. Observar o céu cinzento e sua beleza transmitia paz apesar de saber que, na maioria do tempo, minha mente estava um caos. Fixei o olhar na janela que escoria as gotas de chuva e sorri para o dia nublado que seria - ou pelo menos esperava.

Me sentei na cama, aloguei os braços repleto de manchas roxas e suspirei cansada, lembrado do ocorrido da semana passada. Me levantei e foi ao pequeno banheiro da cabana lavar o rosto e me deparei com a minha atual e acabada versão. Olheiras escuras ao redor dos olhos de uma noite mal dormida, hematomas do lado esquerdo da bochecha e um cabelo loiro bagunçado sem cuidados faz tempo.

A cabana era afastada da pequena cidade do interior, um quarto, um banheiro apertado e uma sala com lareira. Lar doce lar para uma fugitiva de um namorado psicopata. Um lar que esperava dessa vez não ter que sair as pressas, eu já havia conseguido um emprego em um clínica simples e humilde, e como era enfermeira, o gentil Sr Becker me contratou para ajudá-lo com os pacientes que apareciam precisando de atendimento médico.

Me troquei e preparei o café da amanhã, as lembranças amargas daquele dia me fazem viajar novamente. Amarrada no banco de trás de um carro e com um pedaço de pano na boca impedia que qualquer som escapasse, minha visão estava embaçada e a ultima coisa que vi antes de desmaiar de novo foi a voz calma de Hank me olhando pelo retrovisor ao dizer:

- Estamos chegando em casa, amor.

Os pelos do meu braço se arrepiaram e voltei a realidade com o barulho da torradeira cuspindo os pães para fora tostados. Meneei a cabeça e olhei para o relógio irritada, estava atrasada.

- Mais que droga! - peguei a mochila em cima do sofá e foi embora.

Inspirei o ar gelado enquanto observava a neblina que cobria os pinheiros de longe e a montanha nevada que cercava a pequena cidade de River Falls, a aparência sombria dos bosques foi tomando forma para lojas de conveniências, parques e bares a medida que entrava na cidade. De velhinhas fofoqueiras e observadoras nas varandas de casa, a crianças barulhentas nos jardins. Era um local pacífico e tranquilo, baixa criminalidade, armas e distintivos se tornavam assessórios em policiais. Um lugar perfeito para alguem que quer deixar o passado enterrado em lembranças doloridas.

- Bom dia Anna, está atrasada - disse o Sr Becker assim que entrei.

A porta de sua sala estava aberta o suficiente para ter o vislumbre de observar o local deserto de espera dos pacientes e consequentemente, qualquer um que entrasse. Ele estava no monótono ritual de toda manhã, como se esperasse sempre meu retorno. Forcei um sorriso e fechei a porta ao olhar para ele, me sentindo uma grande idiota.

CORTE DE LUZ ESTELAR ( FANFIC)Onde histórias criam vida. Descubra agora