A velha cega.

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Boa leitura:)
(Alguns capítulos serão narrados diretamente pela Rosa e outros pela narradora)
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(Rosa)

Já fazia uma semana desde o ocorrido e eu não conseguia tirar da cabeça aqueles olhos junto a fala do meu irmão. Neste momento estamos sentados a mesa almoçando.

Ramon olhava a comida, encarava os vegetais e a cara se forçava a não contorcer de nojo, lentamente ele levantou o olhar para sua cópia na mesa que segurou o riso ao ver a cara do irmão.

C_ Ramon, Algo de errado com a comida?_  A falha tentativa de não rir de Rony chamou a atenção de Charles meu pai.

RM_ Não papai é que..._ Ramon era muito tímido.

C_ Sua mãe se esforçou muito para fazer esse almoço para nós_ Meu pai cruzou os braços.

RN_ Ele só não gosta de vagens pa..._ Rony e todos na mesa encolheram quando ele bateu a mão grande na mesa fazendo um barulho alto.

C_ Eu estou falando com seu irmão, não é por que vocês tem a mesma cara que são a mesma pessoa. Não responda por ele._ Ele apontava o dedo para cara de Rony e o pequeno abaixou a cabeça._ Coma tudo Ramon, não é a melhor comida mas serve._ Aquele comentário não foi feito num tom agradável como pareceu...

M_ Ramon, coma o que seu estômago aguentar meu bem._ Minha querida mãe foi razoável lançando um olhar amoroso para Ramon que balançou a cabeça concordando.

C_ Você mima esses meninos..._ Falou em tom amargurado.

Meu pai é um homen muito difícil..., O único motivo de ele não ter colocado os gêmeos em um orfanato foi minha mãe que quase chora sangue pelos seus filhos. Mas tudo que ela não deixa ele descontar na gente ele desconta nela e isso me corta o coração.

C_ Rosa, depois que arrumar a louça do almoço pegue um cavalo e vá com seus dois irmãos ao vilarejo mais perto. Me compre uma garrafa de vinho e alguns queijos... Seus tios virão visitar._ Meu pai disse se levantando da mesa e indo para fora fumar seu cigarro de palha.

Depois de ajudar mamãe a arrumar a cozinha pedi a Rony que fosse até o celeiro preparar o cavalo mais manso para irmos.

Enquanto estávamos esperando Rony eu conversava com Ramon do lado de fora da casa caminhando até a porteira.

R_ Ignore os comentários do papai, ele é um homem amargurado._ Passei o braço pelos ombros do mais baixo o puxando para perto

RM_ Eu não gosto de vagens..._ Ramon cruzou os braços.

R_ *riso* É eu sei pimpolho, mas aparência não define propriedades não é? Qual o lema da mamãe?_ Abri a porteira quando vi Rony vindo montado no cavalo.

RM_ Julgue um livro pela capa e ele não lhe contara...

RN_ A história correta_ Rony completou a fala do irmão.

R_Meus meninos, agora vamos... Tenho que passar na casa da Velha antes._ Os gêmeos se contorceram em agonia.

RM_ Sério Rosa?A velha não..._ Alongou a frase.

Ignorei a frase e dei galope no cavalo assim que os meninos se acomodaram no lombo do animal.

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Sentia Rony dormindo com o rosto apoiado nas minhas costas enquanto Ramon olhava ao redor conversando sozinho contando histórias ao vento, era sempre assim... Ramon cantava histórias, Rony dormia.

Finalmente paro o cavalo e Rony acorda, eles olham ao redor reconhecendo o lugar onde parei: Um ponto qualquer da estrada de terra onde tinha uma árvore caída a beira do mato que se dava aos lados. Desci do cavalo e falei com a voz firme para ficarem encima do cavalo e gritarem qualquer coisa, sabia que não seria desobedecida.

Peguei minha bolsa e adentrei o mato o mais rápido que conseguia correr entre as arvores e o mato consideravelmente alto. Quando o sol começava a sumir pela densa mata eu ja sabia que estava perto, o casebre apareceu e eu podia ver e sentir de longe aquele cheiro hipnotizante. Bati na porta de madeira quase podre e ouvi xingamentos que me fizeram rir baixo.

V_Quem é?!_ A voz rouca e fina perguntou.

R_ Sou eu Vovó!_ abri um sorriso ao que a porta foi aberta.

Uma senhora de idade, com muitas rugas e pintinhas na cara atendeu a porta. Ela era mais baixa que eu e tinha os cabelos grisalhos soltos. Tinha na boca um cachimbo e na mão esquerda uma bengala prá lá de peculiar.

V_ROSA MINHA QUERIDA FLOR!!_ exclamou alto segurando minha mãe e me puxando para dentro_ Como vai minha querida?_ Olhei ao redor da pequena casa que estava do mesmo jeito desde a última vez.

R_ Vim ver como está a senhora!_ andei olhando cada potinho nas prateleiras e cada raiz, folhas e flores secas amarradas nos cantos da casa.

Não sabia o nome da senhora que mexia um caldeirão grande com a mão na cintura e cantarolava baixo uma canção. Ela era cega... Não era minha parente, mas as circunstâncias nos aproximou de uma forma  que eu a considerava uma vó.

Me sentei numa cadeirinha perto do caldeirão observando a panela e o cheiro que saia de lá que era muito bom.

V_ Entendo... Como anda sua querida mãe e o insolente do seu pai?_ É, ninguém gosta muito do meu pai.

R_ Estão bem, estava indo ao mercado e decidi fazer uma visitinha_ Levantei lembrando que deixei os gêmeos sozinhos.

V_ E o que anda assustando esse jovem coração?_ Gelei... Para uma velha cega ela tem uma ótima dedução.

R_ N-Nada! Eu estou bem vovó_ Inútil, se cega ela sabe das coisas imagina o que pode deduzir pela som da minha voz?_ Eu tenho que ir, qualquer coisa que a senhora precisar lembra do nosso sinal_ Lhe dei um beijo na bochecha e ela apertou os olhos.

V_ Te acompanho a porta_ Andamos juntas até a porta e quando me virei para sair ela segurou meu braço_ Não tenha medo do menino... Mas seja cautelosa_ Ela sorriu e soltou meu braço fechando a porta logo em seguida.

Como?...

Fiquei encarando a porta por alguns segundos formulando o que ela havia dito, queria perguntar mas ela não diria. Me dando por vencida voltei para estrada e fui com os meninos logo para o vilarejo antes que ficasse tarde.

A velha... É uma mulher de muitos saberes, não é sábio desconsiderar o que ela fala.

"Não renha medo... Mas seja cautelosa"

Rodava na minha cabeça a frase junto aos olhos de lua.

Boneco Russo.Onde histórias criam vida. Descubra agora