0.5. No Return

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"Tenho um fogo na minha alma

Eu perdi minha fé neste sistema quebrado
Tenho amor pelo meu lar
Mas se chorarmos, terá alguém ouvindo?"

- Renegades


Com os olhos fechados, Yuta pôs os fones de ouvido, deixando que a música apagasse parte de seus problemas.

Já passava das nove da noite, e uma Seul movimentada passava através do vidro embaçado do ônibus.

Respirou fundo, apoiando o rosto na janela enquanto pensava no pedido de Ahyoung. Ajustou melhor a mochila escura em seu colo ao mudar a música que tocava, vislumbrando mais uma vez a foto da Jung, que sorria como se seu mundo não estivesse cheio de cicatrizes, e ela própria como uma garota considerada problemática.

Mesmo assim, Yuta a amava, cada traço imperfeito e defeito que tornavam Ahyoung, a Ahyoung.

Com um suspiro, olhou para suas próprias mãos, cobertas por luvas que encobriam os machucados em sua pele, escondendo a realidade que o Nakamoto tentava desesperadamente empurrar para debaixo de um tapete.

Contudo, ele mesmo sabia que mentiras apenas criavam mais mentiras, mágoas e relacionamentos quebrados, e o principal exemplo disso era a própria Ahyoung.

Mesmo assim, ele sabia que as inverdades haviam chegado à um ponto em que não se podia mais retornar, se quisesse manter sua vida - ou, ao menos uma parte dela - a mais pacata possível.

O veículo em que estava então parou, o fazendo despertar de seus pensamentos enfadonhos, o trazendo de volta ao primeiro passo de um presente indesejado.

Acoplou a bolsa ao ombro e correu para descer do ônibus, agradecendo rapidamente ao motorista pela viagem.

Ele não precisou levantar a vista para saber onde estava, dando passos apressados na direção da entrada, que se destacava como uma bocarra prestes a lhe devorar.

Se apressou pela rua movimentada, afinal tinha muito a fazer em poucas horas, retirando do bolso a chave do pequeno apartamento que dividia com o irmão.

A moradia não era das melhores, em um dos bairros simples de Seul.

Claro, não era sua primeira opção, mas era a única que dispunha naquela circunstância.

Cumprimentou gentilmente um dos vizinhos antes de adentrar na residência um tanto escura e empoeirada, como se nenhum ser humano vivesse ali. Apenas a fraca luz de um abajur estava acesa em um dos cômodos, deixando que a pálida luminosidade iradiasse em parte do lugar.

O moreno olhou em volta, empurrando a porta com força para avisar que havia chegado, mas não houve qualquer resposta à sua presença.

Ele suspirou, retirando seus sapatos e os deixando na entrada, antes de seguir para o quarto que dividia com Shin, encontrando o próprio acomodado em um dos colchões enquanto lia um livro.

Os headphones encaixados em ambas as orelhas entregavam o fato de que o mais velho não se dera conta da volta de Yuta, até vê-lo ir até o dormitório.

Shin o olhou de soslaio, sem praticamente se mover, e baixou a música apenas por tempo suficiente para trocar rápidas palavras com o recém-chegado.

- O que você tá fazendo aqui?

As palavras assustaram o outro Nakamoto, que acreditava que o rapaz não lhe diria nada, como na maioria das vezes. Ele não interrompeu seu afazer para responder a pergunta insperada:

Russian Roullette | Nakamoto Yuta | NCTOnde histórias criam vida. Descubra agora