0.9. Wherever You Are

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"Estive pensando demais

Me perguntando se eu deveria tentar fingir

Eu não me conheço bem

Tenho medo de me encontrar

Esperando que alguém me reconheça"

— You never know

Ouvindo o barulho de sua respiração descompassada, Ahyoung observou os espelhos esquecidos e manchados em frente as cabines, em que, uma vez, uma garota afundara sobre seus problemas. Parando por alguns segundos no reflexo mostrado ali, a Jung não teve dificuldade em encontrar, naqueles olhos castanhos enevoados que a encaravam de volta, nas olheiras e nos calos de seus dedos, cobertos por ataduras que escondiam suas cicatrizes, aquela mesma pessoa. Com um suspiro, a jovem recolheu a enorme mochila escura deixada sobre a pia de cerâmica branca, ajustando a bolsa nos ombros com vagar. O cheiro de antisséptico e o tom nevado das paredes ao seu redor lhe causavam arrepios, que corriam por seus nervos em lembranças de um dia e uma noite inesquecível que ela, desesperadamente, tentava esquecer.

Os tênis vermelho em seus pés deslizaram sobre a cerâmica branca logo que a kendoka se voltou para a porta, branca como os demais componentes do ambiente, monocromático feito o mesmo tom rubro que um dia vira sobre o irmão. A garota fechou os olhos por um único segundo, retomando a atenção para o que havia quando saísse dali; ela odiava aquele lugar.

Ignorando o calafrio que correu por sua espinha ao tocar a maçaneta fria, Ahyoung puxou a portada, encontrando sob seu olhar a típica correria de um hospital. Macas com pacientes eram levadas com velocidade, pessoas em jalecos e uniformes enevoados se misturavam em meio a tantos rostos desconhecidos. A garota aguardou a passagem de uma enfermeira, que se encontrava mais distraída com a prancheta em suas mãos do que com a face representada naquele papel. O som da fraca chuva que caía sobre Seul soava como um eco intermitente sobre as vidraças, que se tornavam quase imperceptíveis devido ao estrépito contaste e interminável do plantão médico. Ahyoung enfiou as mãos, cobertas por luvas róseas, dentro dos bolsos do casaco azulado, se apressando pelos corredores com certa urgência.

Não lhe agradava ficar ali, quanto menos passar mais tempo do que era necessário.

A atleta cumprimentou a atendente detrás do balcão, que sequer levantou o olhar por conta dos inúmeros documentos que tinha sobre a mesa, diminuindo o ritmo de suas passadas conforme se aproximava do setor que ainda lhe causava certo temor.

Caracteres, tanto em coreano quanto em inglês, indicavam em uma pequena placa sobre as portas duplas o que, embora também fosse parte de seu sonho, também construía um pesadelo, um em que não podia acordar: a noite em que descobrira que Yuno havia se tornado refém de uma cadeira de rodas.

O conhecido rangido do aparelho de metal fazia eco detrás da entrada, um som que se tornara tão conhecido por seus ouvidos; que Jaehyun esperava por ela.

A Jung apertou a alça da mochila em seus ombros, encarando aquela fatídica placa como a um inimigo, pois era aquilo um dos sinais de que seu irmão era um prisioneiro de suas próprias escolhas. Demorando ainda alguns segundos, com um suspiro longo Ahyoung empurrou o material, encontrando o ambiente que se acostumara a ver naqueles anos, cheio de pessoas que ela aprendera a entender.

No entanto, mesmo depois de tanto tempo, ela ainda era alguém acorrentada a um passado que não podia mudar.

Os passos lentos de seus pés a guiaram pelo corredor tão familiar, em meio às músicas e comandos serenos, como se doenças e problemas pudessem ser curados com um estalar de dedos, por médicos e pacientes focados em uma nova realidade que se desenhava através de um pesadelo.

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⏰ Última atualização: Oct 01 ⏰

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