Q U I N T O

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Depois de mais de um dia de descanso, eu preciso voltar ao trabalho. O hospital está com um movimento médio hoje. Já fiz algumas visitas, fiz curativos e apliquei medicações.

—Hoje você fica, e eu vou embora meu bem. Pra você ver como são as coisas.—Eme debocha, enquanto se despede de mim. Hoje é o dia de folga dele, ficarei sozinha pelo visto...—Vou pra casa, fazer um chocolate quente delicioso e ir dormir.

—Aproveite bastante mesmo, pois não sabe quando fará isso novamente.

—Beijos amore!—Manda tchau e beijo quando se retira.

Escolher atuar na área da saúde, é saber que você terá noites mal dormidas, plantões longos, pois há pessoas que precisam de seus cuidados. É não ter nojinho de nada. É cada coisa que eu tive que presenciar na minha profissão, que se fosse outra pessoa com o estômago fraco, não aguentaria nem uma semana aqui. Sentir as costas doerem, reclamarem de dor e pedir arrego é algo muito comum para mim e para os outros profissionais também.

Conserto o óculos de descanso no meu rosto, e continuo a ler o prontuário em minhas mãos. Estou numa sala conjunta, não tenho o meu próprio gabinete. Sobre a mesa, está um copo de café bem forte, para me manter bem acordada, já pela metade. Um vício que se aflorou em mim foi o do café. Sinto até dor de cabeça quando não tomo.

—Sofia!—Ouço chamarem o meu nome.

Me viro para ver quem é, e me deparo com o mesmo homem que foi na minha casa outro dia. Está bem sorridente, vestido em terno e calça social, os cabelos bem penteados, até parece que o boi passou a língua. Devo confessar que preferia como estava outro dia, mais despojado.

—Pois não é Miguel? O Pombo Correio?—Pergunto sorrindo. Não sei porquê, mas me sinto confortável na sua presença.

—Vejo que não se esqueceu de mim!—Com toda sua espontaneidade, vai se aproximando e me envolvendo em um abraço apertado, me deixando desnorteada. Mesmo sem perceber, acabo retribuindo o abraço. Nos separamos rapidamente.—E pra te falar, estou sendo um Pombo Correio de verdade, mais até que no colegial. Alex está muito folgado esses dias. Ainda não se recuperou totalmente dos ferimentos, não pode ficar se movimentando tanto, então resta a mim. E como um ótimo amigo que sou, trazer e levar recados, se tornou a minha mais nova profissão.

—E seu amigo, intitulado por ele mesmo como meu paciente favorito, está seguindo as prescrições médicas à risca?

—Nem tanto. Aquele homem é uma mula de tão teimoso. Se fosse por ele, já estaria por aí, passeando, como se nada tivesse acontecido. A mãe dele que está em sua casa, ali no pé, cuidando para que ele não jogue o enfermeiro contratado pela janela.—Do nada ele dá uma gargalhada e eu fico com cara de tonta.—Eu já te falei que o enfermeiro parece que gosta da mesma fruta que as mulheres gostam. Ele quase que pega bem naquele lugar na hora do curativo na coxa? Não preciso nem dizer que ele ficou furioso, gritou e xingou até não aguentar mais.

—É incrível como você fala do seu amigo para alguém que não conhece direito, não é?

—Você não é alguém desconhecido, é tecnicamente minha cunhada. Só não sabe ainda.—Fico visivelmente confusa com a última parte. Ele teria um irmão interessado em mim? Ou está interessado em Milla? Eu sou lerda algumas vezes.—Enfim, estou no meu horário de expediente também. Só vim aqui lhe entregar isto.

Se inclinando um pouco, pega uma caixa muito bem embrulhada e me estende. Eu não havia reparado naquela caixa. Pego curiosa, logo visualizando um cartão vermelho preso ao laço.

—Olha Sofia, eu não sei o que você deu pro meu amigo naquele remédio, mas posso lhe afirmar que deixou o homem louquinho.

—Miguel, por que seu amigo está me enviando esses cartões?

Sem escapatória. (Em Andamento)Onde histórias criam vida. Descubra agora