Alex:
—Quantas vezes eu vou precisar repetir que não preciso de um babá?—Esbravejo. Minha mãe finje que nem escuta o que eu falo. Ela é muito boa em me ignorar.—Mãe!
—Cale a boca, seu menino mimado.—Fico em silêncio.—Assim que é bom. E o enfermeiro só está cuidando de você, para que fique 100% o mais rápido possível. Por favor, Alexandro, colabore.
—Meu nome não é Alexandro. —Resmungo. Ela costuma usar esse nome quando quer puxar a minha orelha ou me dar umas palmadas.
—Mas era pra ser.
—Mãe, mas falando sério. Eu já consigo me locomover, fazer tudo sozinho. Pra quê ter esse homem aqui? Me vigiando? O acidente nem foi tão grave assim.—Reviro os olhos.—Eu estou perfeitamente bem.
—Quanta implicância com ele. —Segura a bandeja. Eu comi quase tudo. Apesar de ter comida o suficiente para alimentar um batalhão. Ela exagera.—Vai aceitá-lo e ponto. E não queira entrar em um conflito comigo, garoto.
—Não está mais aqui quem falou.—Ergo as duas mãos, em sinal de rendição.
—Ótimo.—Sorri convencida. Logo ela assume uma outra postura, totalmente dócil.—Bebê, a mamãe vai precisar se ausentar por alguns minutos, ou talvez horas, mas eu vou fazer o máximo para estar aqui em menos tempo.
—Mãe, eu não estou morrendo.—Ela é dramática.—Eu vou sobreviver, sem a sua presença.
—Vou chamar o Miguel, para te fazer companhia.
—Poderia trazer meu notebook e meu tablet até aqui?—Peço.—E deixe o Miguel lá fora. Ele vai me irritar ainda mais.
Eu não estava preparada para a explosão que veio:
—Como é que é? Você sofreu um acidente, quase morreu, e quer já trabalhar? Eu vou te dá uma palmadas, isso sim. Isso que te faltou, durante a sua infância.—Ela continua, não me deixando falar.—Estou te dando uma licença de 15 dias, para que você se recupere totalmente. E somente depois, você voltará para a construtora.
—Mas mãe...—Sou interrompido.
—Nada de "mas mãe". Eu ainda tenho um pouco de autoridade naquele lugar. Não ouse me desafiar, Alex.—Depois de quase me agredir, ela sorri.—Fique quietinho aí, meu filho lindo.
—Vou ficar, mamãe querida.
Antes de sair, ela beija meu rosto inúmeras vezes, e se retira.
Balanço a cabeça, e sorrio.
Eu amo a minha mãe mais que tudo na minha vida. Assim como o meu pai. Apesar da minha idade, ela me repreende, me coloca de castigo, como se eu fosse ainda uma criança. E eu não reclamo. Se nossas moradias fossem próximas, tenho certeza que ela iria organizar o meu armário e o cardápio do mês, quando eu não estivesse em casa.Eu sou um mimado, admito.
Minha mãe também não colabora tanto.—Diabéticos, se retirem. Pois o docinho acabou de chegar.—Miguel entra no meu quarto. Pelas vestimentas, estava trabalhando ou ainda vai trabalhar.
—Minha paz terminando em 3, 2, 1...
—Vi que você tem um cuidador.—Caçoa, quando o enfermeiro entra no quarto.