Amores Líquidos

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Amei
por amar?
Ou amei
por não achar distração melhor?

No meu amor
amei como se não houvesse amanhã
desesperei-me como se não houvesse um depois
no meu amor, também,
afastei-me como se não quisesse
fugi com medo de ser atropelada pelo carro e depois pelos bois

Afinal, o que sei sobre amor?
Amar, o que é?
"É fogo que arde sem se ver", diz Camões
"É um calafrio doce, susto sem perigos", continua Rosa
"É quando seu dente cai e os outros continuam gostando de você mesmo sem uma parte sua", completa a criança.
O que eles sabem sobre amar, afinal?
Amor, quem você é?

Amor existe, aliás?
Ou afogou-se
mergulhou
no líquido desse mundo
triturado pelo liquidificador das relações
e não voltou?
Procura-se o amar!
Perdeu-se nesse mar
de gente
que não faz outra coisa
senão procurar
E o que procuram?
Buscam felicidade
essa que não se pode achar
publicam-na e invocam-na, escrevem na lousa
com gizes de cera
cujo pó irrita os olhos
e faz lacrimejar

Será o amar possível?
A felicidade alcançável?
Nessa fidalguia o status é o estatuto
a alegria, fundamental atributo
No meio da aristocracia vã
busco revolução
me revolvo introspectando
haverá alguma alma sã?

Revólver apontado no peito
Passe tudo!
O seu todo ou sua vida!
Devora-me, ou te devoro!
Bestializaram-se
besuntando-se com felicidade
(não seria fakecidade?)
Lambem os beiços ao sinal de melancolia
Ao meu sinal, atacar!
Perdeu-se também a empatia?

Em tempos líquidos
onde liquefizeram-se os sentidos
encontro sentido no meu próprio amor
apaixono-me pelo eu

Mas como amar? O amor, encontrou-o afinal?
Se me apossasse do mapa do tesouro
queimaria-o
sem nem ver onde está o X
O X da questão é encontrar teu próprio caminho
fazer dessa vida, teu mapa
arriscar-se, viver sempre por um triz

Em tempos líquidos
onde liquefizeram o amar
coagulado seja teu sangue
vasto, teu próprio mar.

•••

(Arte por Rafaela Martinelli)

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