Quarto crescente

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Eu sei que deveria descansar, mas não consigo, sentada na cadeira da varanda na calada da madrugada, coberta com lençóis e segurando um café quente na mão. O mundo humano é bem diferente do que eu imaginei, pensei que eram assassinos sem coração, imundos e desprezíveis, logico que alguns realmente são, entretanto...Tem algumas coisas na humanidade que me fazem até querer ficar.

Dou um gole ajeitando-me com calma, suspirei ao pensar na calmaria que sentia, irônico, certo? Vim aqui pra fugir de um sádico!

Observei o silencio que era de noite, é tão reconfortante, um movimento num prédio me atraiu, coloquei a xícara no chão e sai da proteção das cobertas para ver melhor.

Era uma das criaturas de Wendel, era uma ser feito de vazios que deformava o que estava em sua falta, sua coluna era torta com seus ossos a mostra, unhas compridas como lâminas, sua pele parecia ser feita de petróleo. Um pavor subiu sobre minha espinha, fui para dentro, peguei tudo que pude, ele poderia me ver a qualquer segundo, abri a porta, olhei pra trás e vi o mesmo contorcer-se para mim, como uma coruja.

Sai disparada, corri pelos degraus com rapidez.

— É ELA! — Grunhiu o mesmo, sua voz era um som horroroso.

Já pra fora, a beirada da estrada quando me deparei com mais duas bestas, antes que a que estava na direita me atingisse, criei uma esfera de luz e atirei nele o banindo daqui, a próxima cortou meu ombro, gritei em agonia, desmoronei no chão gelado chocando-me com força, zonza eu cambaleei para frente.

O monstro direcionou-se lentamente, só aí percebi que ela não possuía as unhas pontudas quando agarrou meu pescoço e me puxou, me contorci.

— Me solta! — Cuspi tentando chuta-la, meus pés nem encostavam nela.

Seu ronco agudo foi tão alto que o vidro do poste de luz estourou, batendo os fios no chão.

Meus pulmões doíam com a falta de ar, senti o sangue subir a cabeça ardendo como fogo, soltei um gemido alto que pareceu ficar preso em minha garganta.

A entidade que vi no prédio esbravejou antes que meu gargalo fosse amassado como uma lata de refrigerante. Fui brutalmente sendo jogada num carro, que se rachou com o impacto, a porta de trás chegou até a cair.

Tossindo forte no chão lancei um olhar para ambas, que vociferavam entre si, numa espécie de disputa. Seus berros intensificavam a cada grunhido, tentei levantar, porém um pedaço de vidro estava cravado em meu abdômen, sangue e mais sangue pingava no concreto, uma cavada dor me atufou por inteiro.

Tudo que sei, foi que o berro que dei deve ter sido tão estridente que aquelas coisas me encararam, se entreolharam, soltaram mais guinchos e desapareceram. Provavelmente, deixei de ser de seu interesse ou estou machucada demais pra ser seu brinquedo.

Entre murmúrios, levantei com dificuldade, vaguei pelas avenidas até a floresta, me joguei numa árvore, prendi um pano na boca e segurei o vidro, não era tão grande, mas o corte foi bem profundo e como agora estou no corpo de uma humana, qualquer coisa pode me matar.

Suspirei e prendi o fôlego e só puxei o vitral de meu estômago, mordi a flanela com força evitando ao máximo fazer barulho, larguei-o no chão trêmula.

Minha cabeça latejava e meu peito queimava pela falta de ar e gritos presos, tentei me curar, limpar o corte ou qualquer coisa...Mas a angústia tomou conta de minha consciência, a última coisa que conseguir dizer quando o tecido caiu, foi sussurrar um chamado a Avani.




Mahine! Pelas estrelas, o que aconteceu?! — Uma voz feminina ecoou, não era Avani.

A garota lunarOnde histórias criam vida. Descubra agora