Lua cheia

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Desperto subitamente e me vejo no sofá coberta, olho para os lados sem entender, o gosto de meus lábios sumiram. Me levanto e vejo Surya comendo cereais, a mesma me viu e sorriu.

— Bom dia Mahine!

A encarei confusa.

— Ah! Depois que arrumamos tudo você dormiu, não quis te levar no quarto pra não te acordar, aí eu te cobri — Sorriu calmamente.

Então foi isso, foi tudo um sonho, ela não dançou comigo, sussurrou em meu ouvido, deslizou a mão em minha cintura ou até mesmo me beijou.

Uma onda de decepção e vergonha de ter acreditado, Surya sempre disse que não conseguiria beijar ou se relacionar com ninguém sem ter algo com ela, já que ela perdeu a memória, talvez eu não seja nada pra ela. Forcei um sorriso e agradeci para não a preocupar.

Ao terminar o café, ela saiu para a loja de conveniências que era um pouco longe daqui, quando sua chave rodou na porta e não pude ouvir seus passos pisando nas pedrinhas. Não aguentei conter as lágrimas mais, tampei meu rosto com as palmas das mãos afundando na ilha perto da pia soluçando.

Uma ardência me incendiou, uma mistura de ódio, desprezo e nojo de mim mesma e dela, minha por ser idiota e ingênua, dela por perder suas memórias e tudo que tivemos pra me salvar.

Tremi intensamente ao sentir a agonia estridente tomava conta de mim, uma náusea me inundou por prender o que sentia.

— Que idiota... — Uma voz ecoou, o que me fez dar um passo pra trás. Um Shitsuyōna entrou aqui, atraído pela minha tristeza.

Constrangida, esbravejei:

— Vai embora!

O mesmo respondeu risinho debochando, sua presença pesada me sufocava. Engoli seco limpando o rosto.

Eu disse pra sair! Agora! — Gritei irritada.

Uma mão agarrou meu pescoço, não a via pois era um Shitsuyōna tão fraco que nem forma física consegue ter, engasguei ao tentar puxar o ar que escapou de mim.

Senti um estalo em meu pescoço que me fez gritar de dor, mais um pouco e eu morreria! Surya, Avani e Vênus também!

Logo, a mão perdeu a força e se desfez, sua presença não estava mais aqui, desabei sem sentir minha mente. Toda minha visão escurecendo e um suspiro cansado, o chão frio em meu rosto, vazio e deserto.

Perdi meus sentidos e aceitei meu estado, estirada no chão a beira do desmaio, esperei calmamente uma ajuda.

— Mahine! — Ouvi a voz familiar de Avani, queria reagir.

— Criança, por que estava chorando?

Me esforcei para dizer-lhe algo, entretanto nada saiu e tive que mentalizar uma respostas.

"Surya não se lembra de mim", uma carícia em minha cabeça acalmou-me.

— Pequena, não se acanhe, não pode julgá-la! Seus poderes não foram com ela, demorará mais para se lembrar por isso, a não ser que você a estimule, talvez seja mais rápido. — Consolou fragilmente.

"Mas ainda assim, vai demorar! E se ela se esquecer de mim? Não sou boa suficiente pra ela, sempre soube disso!", um pensamento dolorido sem dúvida, o que podia pensar? Ela é uma estrela que trás luz ao universo inteiro! Nem chego ao seus pés.

— Você sabia que Surya se sente da mesma maneira? Ela te via como uma garota misteriosa e frágil, na qual ela gostava de desvendar e cuidar, te proteger a fazia feliz!

Uma confusão me veio, como ela poderia sentir isso?

"Como assim?"

— Exato, amava seu sorriso, cuidava de ti. O que ela sente não é uma paixão, é amor, ela entende seus defeitos e agradece por tê-los, pois é isso que a faz tão perfeita.

A garota lunarOnde histórias criam vida. Descubra agora