Um

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O amor é uma dor que consome a alma.



Hoje a apresentação seria no pub mais badalado de Los Angeles. Estava com os nervos à flor da pele. Sentia toda a ansiedade se espalhando por meu corpo, o que me deixava um pouco inquieta. Era uma grande responsabilidade abrir o show da banda Wolves.

Sim eu sei. Não conheço a banda e nunca escutei as músicas, mas ainda assim era uma responsabilidade enorme. Já tinha ouvido falar dessa banda antes, mas como sempre estou ocupada, nunca parei pra ouvir nada deles. Mas hoje seria um dia especial. Pois conheceria os integrantes no camarim depois da apresentação.

Cameron procurava me acalmar, fazendo uma pequena massagem em meus ombros, enquanto eu fechava os olhos e respirava pausadamente. Inspirando e expirando. Respira Zoe, só respira. Vai dar tudo certo. Você é muito talentosa e sabe disso. Apenas mostre à eles do que é capaz.

Faltavam menos de dez minutos para a minha entrada no palco. Vou cantar três músicas, todas muito conhecidas. Não havia nenhuma de minha autoria, pois ainda tenho um pouco de receio de cantar algo meu e ninguém gostar. Pode me chamar de medrosa, mas essa era a verdade.

Em meio aos meus devaneios, um dos produtores do show me chamou, avisando que já poderia estar à postos ao lado palco, que anunciariam minha entrada. Com o coração quase saindo pela boca, recebi um beijo na testa de Cameron e um boa sorte antes de seguir o produtor até o palco.

Senhoras e senhores! Estamos muito felizes nesta noite em anunciar o show da banda Wolves! Mas gostaríamos de introduzir antes uma talentosa cantora. Dêem as boas vindas à Zoe Benitez!

Era a minha deixa. Com os aplausos da plateia, andei devagar em direção ao microfone que ficava no centro do palco. Apenas uma luz iluminava o lugar, que manteve todas as luzes apagadas. Fechei os olhos mais uma vez, respirei fundo e a banda começou a introdução daquela música lenta, que sempre me acalmava.

Needy

If you take too long to hit me back
I can't promise you how I'll react
But all I can say is at least I'll wait for you
Lately, I've been on a roller coaster
Tryna get a hold of my emotions
But all that I know is I need you close

And I'ma scream and shout for what I love
Passionate, but I don't give no fucks
I admit that I'm a lil' messed up
But I can hide it when I'm all dressed up
I'm obsessive and I love too hard
Good at overthinking with my heart
How you even think it got this far, this far?

And I can be needy
Way too damn needy
I can be needy
Tell me how good it feels to be needed
I can be needy
So hard to please me
I know it feels so good to be needed....

Cantei com toda a minha alma. A cada acorde, sentia minha voz relaxando e o nervosismo desaparecendo. Ao final da música, eu sorri amplamente com os aplausos da plateia, e agradeci com uma reverência. Depois cantei as duas outras músicas da minha playlist: Patience e Like a Star.

Após o final do último acorde da canção, suspirei em total alívio por ter conseguido concluir minha apresentação sem falhas. Mais aplausos me ovacionaram, o que me fez muito feliz e realizada com o meu trabalho. Era maravilhoso ser reconhecida por seu esforço e talento.

Assim que me despedi do palco, me orientaram a permanecer no backstage, para poder ver o show da banda de camarote. Finalmente conheceria o tão falado som da banda de rock Wolves.

Escuto passos se aproximando, com certeza eram eles. Primeiro o bateirista entrou, posicionando-se em seu lugar. Ele tinha os cabelos negros e na altura do queixo. Logo após entrou o baixista, com um chapéu extravagante de cowboy. Dei uma pequena risada pela ousadia dele. Depois o vocalista, que parecia um primo meu de tão normal. Mas e o guitarrista? Onde estava? Já haviam se passado alguns minutos e nada dele aparecer. Mas os outros não pareciam se importar com o atraso dele.

Já eu odiava atrasos e pessoas que se atrasavam. Mas que irresponsável! Fiquei pensando nisso enquanto um vulto passou rapidamente por mim. Senti o cheiro inebriante que ele deixou no ar e praguejei todas as divindades possíveis por esse cara cheirar tão bem. Enquanto ele se posicionava em seu lugar e pegava sua guitarra para ajustar, somente nesse momento me dei conta de que conhecia muito bem essa pessoa.

Eu o conheci há alguns anos atrás. Nós éramos jovens e me apaixonei perdidamente por ele. Meus olhos piscavam várias vezes, incrédulos pelo que via. Era ele mesmo? Poderia ser alguém parecido, não podia? Ainda me lembro perfeitamente do seu sorriso torto, do seu olhar penetrante e do seu bom humor.

De repente, ele levantou a cabeça, olhando em direção ao bateirista, falou algo e sorriu. Seu cabelo preto ainda era o mesmo, e aquele maldito sorriso que saiu da sua boca ainda me desestabiliza. É ele mesmo. Brooklyn. Brooklyn Reyes. Em carne e osso, ele não havia notado minha presença ainda. Mas com certeza a minha concentração foi toda para o ralo com ele aqui.

Cameron não tinha conhecimento da existência de Brooklyn. Nunca comentei com ele sobre meus antigos namorados. Afinal de contas, passado é passado. Mas o que iria fazer agora que o meu passado se atravessou no meu presente?

Brooklyn passava as mãos pelos cabelos rebeldes que insistiam em ficar em seu rosto. Ele ainda tinha essa mania? Ajeitou mais uma vez a guitarra, e assim que o bateirista deu o ok, começou a dedilhar uma melodia viciante. A banda Wolves não precisava de anúncio. Era muito popular pelo que estava vendo, devido a todas as fãs que gritavam muito alto, principalmente por causa de Brooklyn.

Mas ele parecia não se importar com o assédio, pois continuava tocando concentrado sua guitarra, em uma introdução melodiosa. O som invadiu os meus ouvidos, me fazendo entrar dentro da música junto com eles. Realmente a banda era muito boa. A cada música o público vibrava em coro todas as letras. Brooklyn permanecia concentrado em sua guitarra, alheio à minha presença. Quando tudo que eu conseguia fazer era olhar para ele.

A forma como seu corpo se contorcia no ritmo da música, como se ela tivesse vida própria. Brooklyn sempre amou tocar, desde pequeno. Me lembro das várias vezes que ele tocou para mim, mostrando algo novo que tinha acabado de criar. Mas até então ele não era famoso ainda. Era apenas mais um cara simples da Espanha que veio tentar a sorte na América.

Um cara simples que partiu o meu coração em dois. Um cara simples que me traiu. E essa parte era a mais difícil de esquecer. A parte ruim. Onde Brooklyn preferiu ser livre e viver seu sonho pelo mundo, ao invés de ficar comigo. Eu estava grávida. Iria contar à ele, mas Brooklyn tinha outros planos. Ele simplesmente sumiu, levando meu coração junto.

Eu quase morri pelo aborto que sofri decorrente do acidente. Tomada pela dor da perda, não vi o carro se aproximando, e fui atropelada. Voei por cima do vidro do carro em questão de segundos e Brooklyn não estava lá para me socorrer. Ele me abandonou quando eu mais precisava dele. Preferiu uma vida sem mim ao invés de construirmos nosso futuro juntos. Nós seríamos uma família. Mas o destino não quis assim e perdi o filho dele que carregava em meu ventre. Perdi tudo. Menos a vontade de viver. E de cantar.

Me reergui. Ressurgi das cinzas, assim como a fênix. Voltei a sorrir com as coisas simples da vida, e após encontrar Cameron acreditei que finalmente o destino estava ao meu lado, me dando a mão e garantindo que tudo daria certo no final.

Errado. Muito errado.

Nesta noite, ver Brooklyn aqui sorrindo como se nada tivesse acontecido só aumentou o meu desprezo e desejo de vingança. O que eu pensava ter enterrado, estava mais vivo do que nunca. A mágoa. A dor. A raiva. O ódio. Todos os sentimentos mais ruins que um dia pude sentir por alguém Brooklyn fez brotar em mim com tamanha facilidade.

Nunca odiei tanto uma pessoa em toda a minha vida. E desse ódio surgiu um desejo enorme de vingança. Eu faria. Custe o que custar.

Brooklyn Reyes, você não perde por esperar.

NeedyWhere stories live. Discover now