Seis

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Quando a sanidade deixa de me guiar, cometo as maiores loucuras. E isso sempre acontece quando você está por perto.


Provar mais uma vez o gosto da boca dela ativou uma parte minha que estava adormecida. Eu não estava pensando direito quando a agarrei contra a vontade dela. No começo Zoe até tentou me afastar, mas como sou mais forte ela acabou cedendo. Senti seu corpo relaxar contra o meu. Estava totalmente entregue, assim como eu. Não me lembrava que um simples beijo podia me causar as mais variadas sensações. Todas de uma vez só.

Naquele momento nosso, finalmente Zoe havia baixado a guarda. Seus lábios era viciantes, e não queria mais parar de beijá-la. Sabia que assim que nos separássemos a realidade viria à tona. Mas por enquanto ainda posso sonhar. Ainda a tenho em meus braços. Ainda seguro sua cintura firme contra mim. Sua língua pede passagem, e eu concedo de bom grado. A chupo, sentindo meu corpo todo reagir em excitação. Um beijo e já estou sentindo meu membro duro em minhas calças. Como isso é possível?

Não sei qual é a mágica que ela usou, mas isso infelizmente acabou assim que nós dois precisamos de ar. Zoe quebrou o beijo. Sua boca estava inchada, o batom borrado, e a respiração ofegante. Ela apenas me encarava intensamente sem dizer nada. Também não consegui pronunciar nenhuma palavra.

Não sei quanto tempo ficamos nos encarando, mas foram longos minutos torturantes. E enfim ela fez algo.

A pequena mão de Zoe atingiu o meu rosto mais rápido do que a velocidade da luz. Senti o impacto do tapa na cara em questão de segundos, quando segurei meu rosto que agora estava doendo muito.

"Ai!" Ainda doía, e me queixar de dor era tudo que eu sabia fazer.

"Nunca mais encoste em mim Brooklyn!" Zoe apontava o dedo indicador em minha direção. Sua expressão era de fúria.

"Mas bem que você gostou não é? Você me beijou de volta! Foi mútuo!" Como ela poderia negar?

"Não se atreva a colocar a culpa em mim! Você me agarrou! Foi para isso que você veio aqui?" Seus olhos castanhos já estavam marejados. E sabia muito bem o que viria a seguir.

"Talvez eu tenha merecido o tapa mesmo..." Ainda alisava meu rosto, que a esta altura sabia que estava vermelho pelo bofete. "Não foi para isso que vim eu juro! Queria apenas colocar os pingos nos is e esclarecer tudo! Mas você me deixa louco mulher!" Nas últimas horas do dia é só isso que ela tem feito.

"Chega! Você não precisa falar mais nada! Vai embora! Não quero ouvir mais merda!" Zoe realmente não estava calma. Passava as mãos pelo cabelos negros, tentando se acalmar. Mas era visível que não estava adiantando.

"Já disse que só saio daqui depois que você me ouvir!" Será que é tão difícil de entender isso?

"Mas como você é petulante Brooklyn! Você acha que o mundo gira ao redor do seu umbigo? Que pode entrar na minha casa e ficar me dando ordens? Pois saiba que não! Não depois de tudo que você me fez!" A morena ainda me acusava, como se o término fosse algo recente.

"Olha Zoe, não é para tanto também! Nós terminamos o namoro já tem alguns anos! Você ainda não superou isso?" Já estava mais do que na hora de fazê-la entender o meu lado.

"Como vou superar a perda do nosso filho? Como? Me diz?" Congelei na mesma hora.

"Filho? Que filho Zoe?" Meu coração estava afundando no peito e eu não tinha controle nenhum sobre ele.

"Eu estava grávida Brooklyn! Grávida de um filho seu! E você terminou tudo e sumiu antes que eu pudesse te contar qualquer coisa! Você é um desgraçado sem alma!" Agora ela me assustou de verdade. As lágrimas escorriam em seu rosto, enquanto eu estava em choque.

"Você...e eu...tivemos...um filho?" Sentia meu peito doendo, o ar não entrava em meus pulmões. Isso doía demais.

"Eu...sofri um aborto...devido ao acidente de carro...e...o perdi..." Sua voz saiu fina e cheia de dor. Deus o que eu fiz?

"Acidente??? Que acidente?" Estava me sentindo perdido, sem chão. "Você...perdeu?" Foi a pior notícia que já recebi em toda a minha vida.

Quando dei por mim, estava chorando. Eu não vi de onde vieram todas aquelas lágrimas. Mas eu não pude controlar.

"Eu perdi a coisa mais preciosa que um dia já tive..." Zoe ainda me analisava, enxugando suas lágrimas, não parecendo se compadecer das minhas. "E a culpa é toda sua..." Seu tom acusatório me destruiu por completo. O que poderia dizer em minha defesa?

"Eu...sinto muito...Zoe...eu não sabia! Eu não tinha ideia! Me perdoa...por favor me perdoa Zoe..." Estava me sentindo fraco e impotente. Em meio a dor, meu corpo cedeu e eu caí no chão de joelhos, implorando o perdão dela.

"Não! Não posso te perdoar! Eu nunca vou te perdoar Brooklyn!" Zoe gritou, toda a raiva e ódio acumulados saíram naquele momento.

E sabia que era pouco ainda para tudo que merecia.

"Zoe...eu...me perdoa...por favor...eu te peço...eu preciso que me perdoe..." Os meus soluços se misturaram com a voz fraca, nada parecida com a que eu costumo usar.

Mas nesta hora a minha voz calou. E não tive forças para argumentar.

"Eu...não consigo! Não consigo te perdoar! Não quero mais olhar para a sua cara! Quero que suma daqui! Desaparece denovo da minha vida!" Cada palavra dela eram como facas atravessando o meu peito.

Ainda chorava, mas obedeceria o pedido dela. Pelo menos por enquanto. Me levantei do chão, limpando meu rosto encharcado na minha camiseta branca, e a encarei uma última vez antes de partir.

"Zoe...eu sei que nada do que eu diga agora vai adiantar...ou fazer você mudar de ideia sobre mim...mas eu quero que saiba de uma coisa..." A encarei, vendo toda a transparência de seus olhos nos meus. Respirei fundo e finalmente tive coragem de dizer o que vim fazer aqui hoje. "Terminar com você foi a coisa mais difícil que eu fiz na minha vida, e a qual eu mais me arrependo...porque eu não terminei com você por falta de amor...eu ainda te amava...e eu acho que ainda...te amo..." Não conseguiu ficar para saber a resposta dela. Saí apressado do apartamento sem olhar para trás.

Dirigi sem rumo por horas. Já havia escurecido e eu não tinha a menor vontade de voltar para casa. Desliguei meu telefone pois Irene não parava de me ligar, e não tinha cabeça para lidar com os surtos dela agora. Fumei um maço inteiro de cigarros. Sabia que precisava me acalmar. A garrafa de uísque também estava ajudando a amenizar a dor. Estacionei meu carro em um ponto alto da cidade, onde podia ver todas as luzes lá embaixo iluminando as ruas. Ainda enxugava algumas lágrimas que insistiam em cair, e só pedia que esse pesadelo acabasse logo.

De repente vejo um carro se aproximar do meu. Conhecia muito bem esse ronco de motor. Em menos de minutos, Eric saiu com o olhar preocupado em minha direção. Havia esquecido completamente do ensaio da banda.

"Sabia que te encontraria aqui! O que aconteceu Brooklyn? Você não atende mais o celular cara?" A medida que Eric se aproximava, verificava o meu estado deplorável.

Não consegui dizer nada. Ao invés de respondê-lo, apenas deixei as lágrimas falarem por mim.

"O que foi Brooklyn???" Agora sabia que ele estava realmente preocupado.

"Eu seria pai Eric! Pai! E agora tudo se foi! Ele se foi...ela se foi...e a culpa é toda minha!"

NeedyWhere stories live. Discover now