Onze

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Você voltou para a minha vida como um furacão, destruindo tudo o que me mantinha são. Você devastou meu ponto mais fraco, meu coração.


Onde diabos eu fui me meter? O que a minha mente doentia estava pensando quando vim atrás dela? Eu sabia que no final daria tudo errado. Mas precisava arriscar. Agora tudo que tenho é uma calça manchada com a minha vergonha.

Até que ponto poderei continuar me humilhando por ela? Correndo atrás da atenção dela como um cachorro abandonado? Tenho uma namorada linda que me ama. Por que então eu necessito tanto de Zoe?

Há coisas que não consigo explicar, nem para mim mesmo.

Estava sozinho naquele banheiro, sem saída. Mas tinha uma carta na manga.

"Eric! Vem aqui no banheiro feminino urgente!" Era a minha última esperança.

"Brooklyn? O que você está fazendo aí cara?" Sabia que essa pergunta vinha.

"Te digo quando chegar aqui! Mas vem logo que é urgente!" Desliguei o telefone, aflito e com uma raiva crescente se instalando no meu peito.

Em questão de minutos, a porta se abriu revelando Eric, que me olhou em um primeiro momento sem entender nada, mas logo que viu o que minha calça estampava começou a rir descontroladamente.

"Meu deus Brooklyn! O que foi isso cara???" Eric tapou a boca para controlar as risadas.

"Não tem graça Eric..." Oficialmente agora estava cheio de raiva.

"Eu sei, eu sei... É que..." Passava as mãos pelos cabelos, sem saber o que dizer.

"Apenas me empreste sua jaqueta. Vou dar um jeito nisso..." Eric me alcançou a peça, a qual coloquei na cintura. "Vou para casa. Essa festa já deu o que tinha que dar. Mais tarde te explico tudo." Meu amigo apenas assentiu em concordância, e saí porta afora totalmente indignado com a minha situação.

Deixei Irene lá, nem me dei ao trabalho de chamá-la. Seria muito trabalho ter que explicar à ela essa calça melada. E para falar bem a verdade, toda essa confusão somente confirmou o que meu coração já sentia. Eu não a amo. Talvez seja a hora de colocar um fim na nossa história.

Mas agora tinha assuntos maiores para me preocupar. Consegui sair da festa sem fazer muito alarde, e poucas pessoas que passavam por mim percebiam que algo não estava certo. Só rezo para amanhã eu não estar nas notícias mais lidas como "Brooklyn Reyes é visto com mancha suspeita em festa".

Estava me sentindo frustrado. Todas as minhas tentativas de aproximação restaram infrutíferas. Zoe é osso duro de roer. E parece ter uma pedra no lugar do coração. Estou começando a suspeitar que as minhas habilidades de conquista estão ultrapassadas, ou ela não tem mais nenhum sentimento por mim mesmo além de pena.

Até eu tenho pena de mim agora.

Irene me ligou como era de se esperar, mas não atendi. Apenas disse que queria ficar sozinho pois estava com muita dor de cabeça por ter bebido demais na festa, e por isso saí de lá tão cedo. Se ela acreditou nisso são outros quinhentos.

Todas as lembranças desta noite fatídica me assombraram durante meu sono, ou melhor, meu pesadelo. Passei a noite toda em claro, tentando encontrar uma forma de sair desse rolo que eu mesmo me coloquei. Perdi a conta de quantas vezes andei pelo apartamento em círculos nesta noite.

Oficialmente posso trocar meu nome para Brooklyn Panda Reyes.

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A manhã chegou devagar, e os primeiros raios de sol sempre foram os mais belos. Bom, essa é uma das vantagens de se passar a noite acordado. Providenciei um bom café preto para começar o dia. Seria um dia difícil, disso tenho total certeza. Vários assuntos seriam encerrados, e tantos outros começados. Não necessariamente nessa ordem.

A música que tocava me acalmava de uma forma absurdamente fascinante.

Nunca estive tão certo de algo na vida. Pode ter sido a cafeína, mas algo dentro de mim finalmente tomou uma decisão definitiva sobre o meu futuro. E não havia modos de voltar atrás. Não mais.

Seria uma ligação, estava decidido. Não precisava mais do que isso. Não era necessário mais do que algumas palavras trocadas para pôr fim de vez à esse namoro. E também vê-la só dificultaria as coisas. Para mim claro.

Foi assim que terminei com Zoe, o que não me orgulho nenhum pouco. Mas com Irene era totalmente diferente. Não havia nenhum tipo de culpa. Nem remorso. Na verdade a minha sensação era de puro e simples alívio. Havia uma hora para isso, e não nesse momento. Existem coisas muito maiores para serem resolvidas agora.

Como falar de uma vez por todas a verdade sobre o término à Zoe. Ela merecia saber. Mesmo que não desse em nada. Mesmo que não mudasse porcaria nenhuma. Era o certo a ser feito. Eu devia isso à ela, e a mim mesmo.

A esta altura do campeonato, o que vier é lucro.

A dia  passou como um borrão, como um filme em câmera lenta. Sabia que amanhã tinha uma reunião importante. Mais um anúncio seria feito, o que não me animava nenhum pouco. Mais segredinhos que nosso empresário apenas declarava como sendo uma grande surpresa positiva. A banda já era sensacional. Se melhorar, estraga.

O que ele poderia estar planejando?

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No dia seguinte

Como passei ontem o dia todo atirado no sofá da sala, acabei pegando no sono, e dormi o sono dos justos. Bem, são só figuras de linguagem. Mas o que o hoje me reserva mesmo é uma reunião de negócios chata para caramba, onde mais uma vez terei de ouvir coisas desnecessárias ou pouco importantes na minha vida. Eu gosto de tocar. Na verdade, eu amo tocar guitarra, e é isso que eu sei fazer.

O resto é conversa para boi dormir.

Cheguei à gravadora pontualmente como um britânico. Eram nove horas da manhã e lá estava eu, de banho tomado, cabelo penteado, barba feita e roupas alinhadas, parecendo um engomadinho qualquer. Você deve estar se perguntando por quê tudo isso? Pois bem meus amigos, quando se é uma estrela de rock você faz suas próprias regras. Você as cria. Os outros somente copiam e seguem o fluxo. E a minha fase de mendigo cult já havia passado.

A partir de agora, tudo seria diferente.

Estávamos lá nós todos, e nada dessa maldita reunião começar. Odeio esperar. Ainda mais pelo dono da gravadora. Bufava impaciente na sala de reuniões, quando ouço a porta principal se abrir, revelando aquela pessoa que tanto aguardava. Ele andava sorrindo, como se tivesse ganhado na loteria. Algo não me cheira bem no reino da Dinamarca Americana.

"Bom dia senhores! Fico muito feliz de pode comunicar a todos vocês a última notícia!" Pronto, lá vem bomba. "Podem entrar!" Quanto mistério! Tudo isso já estava me dando nos nervos.

E só piorou. Quem entrou por aquela porta não era ninguém mais ninguém menos que Cameron, e ao seu lado ela. Aquela que atormenta meus pensamentos, noite e dia, literalmente. Zoe.

Mas que porcaria é essa?

"Senhores, acredito que já conhecem a nossa mais nova contratada, Zoe Benitez." O velho homem no auge dos seus cinquenta anos sorria como um adolescente ao lado dela.

Como Zoe fazia isso com os homens? Não tem explicação.

"Não estamos entendendo onde você quer chegar com isso..." Deixei claro que não estava gostando nada do rumo desta conversa.

"Bom, meninos, estive conversando com Cameron e Zoe, e com os meninos na festa, e todos concordamos que seria maravilhoso que Zoe fizesse um feat com vocês para iniciar a carreira dela! Não é brilhante Brooklyn?" O ansião ainda mantinha o rosto em euforia pela ideia. Pena que não podia dizer o mesmo.

"Feat? Com a Wolves?" Então todos sabiam, menos eu? Me senti o corno traído agora. Me fiz de desentendido, mesmo sabendo muito bem onde isso iria dar.

E devo adiantar para vocês que não vai dar boa coisa.

NeedyWhere stories live. Discover now