A enorme onda nos lançou longe, rio abaixo, nós estávamos todos agarrados em Pedro que tinha infincado sua espada no gelo, exceto pelo castor e por sua esposa, que pularam no rio e nos acompanhavam nadando, estamos todos encharcados, ainda agarrados a espada que estava presa no gelo. Lúcia começou a escorregar para fora do gelo, me empurrando para o lado, e, talvez, sem perceber, Pedro soltou Lúcia, que por sua vez escorregou pelo gelo e trombou em mim, fazendo com que, caíssemos as duas, na água gelada. As ondas empurravam nossos rostos e corpos para mais baixo dentro da água, nos segurando, como em uma prensa submersa. Eu estava agarrada a mão da menor, tentando subir à margem do rio.
Depois do que pareceu uma eternidade de tempo, com o pulmão ardendo, o rosto pesando, e respirando com dificuldade, eu e Lúcia conseguimos não morrer afogadas. A pequena não sabia nadar, e eu descobri da pior maneira. Mas mesmo que ela soubesse, talvez não servisse de grande ajuda na situação em que estávamos. Chegamos, de alguma maneira, até a margem, eu fiquei jogada no chão, cuspindo água enquanto recuperava meu fôlego, e ao que pude perceber, Pedro não havia percebido antes, que havíamos deslizado do gelo. Olhei para Lúcia e depois para o meu próprio corpo, e minhas roupas encharcadas que se prendiam ao meu corpo e dificultava o meu movimento, tínhamos perdido nossos casacos no rio, estavamos tremendo de frio, os dentes batendo e os cabelos pingando, era bom estarmos chegando, pois não duraríamos muito assim.
- O que você fez?! - a voz de Susana gritava em apavoro, indignação e acusação. Me levantei junto de Lúcia, com a menor me abraçando.
- Lúcia! Bianca! Lu! Bia! - todos gritavam, sem nenhuma sincronia, por nossos nomes. Pedro, Susana e os castores olhavam para os lados e estavam quase pulando dentro do rio novamente.
- Ei! Vocês viram nossos casacos? - Lúcia indagou me abraçando ainda mais para fugir do frio conforme nos aproximávamos.
Sorrisos aliviados apareceram nos rostos de Susana e Pedro ao se virarem em nossa direção, os mesmos correram ao vir nos abraçar.
- Que susto - sussurrou Pedro rindo nervosamente ao meu ouvido enquanto ainda me abraçava.
Sorri nervosamente, e meio sem graça para o loiro assim que nos desfizemos do abraço, Susana estava com o casaco de Lúcia em sua mão, ela pegou o casaco da pequena, passando-o problema cima dos ombros da mais nova, para protegê-la do frio, mesmo não adiantando muita coisa pelo fato do casaco estar encharcado. Olho ao redor, mais especificamente para as mãos de Susana e Pedro, tentando encontrar o meu casaco em uma delas, sem sucesso. Sentia meu corpo tremer de frio, é só conseguia pensar nisso, até que senti algo em minhas costas, quando fui olhar vi que Pedro tinha tirado seu casaco e colocado sobre mim, não adiantaria muita coisa, já que o casaco do garoto também estava molhado, mas já era alguma coisa. E a atitude dele foi tão gentil... Sorri levemente.
- Pedro e Susana vão cuidar de vocês - a senhora castor disse enquanto ria e me olhava de maneira sugestiva.
- Mas acho que não precisaremos mais de casacos, vejam! - afirmou o senhor castor apontando para uma árvore, esta, por sua vez, era diferente das demais árvores. Ela não estava mais congelada, e essa árvore estava florescendo. Eram flores lindas que saiam de seus brotinhos de uma maneira tão curiosa. Nunca havia visto nada assim... Então me aproximei para olhá-la melhor, olhá-la mais de perto... Fui erguendo minha mão em direção ao galho da árvore florida, e assim que a toquei, minha mão começou a se encher de ramos, e aos poucos, quando fui conseguindo desgrudar minha mão da árvore, flores começaram a crescer pelos meus pés de uma maneira diferente e rápida, que eu imagino que elas não deveriam fazer isso naturalmente nem aqui em Nárnia. Elas começaram a crescer mais e se embolar nos meus pés e subir por minhas canelas.
- O que está acontecendo?! - comecei a entrar em desespero novamente.
- Hum? - Susana murmurou se virando para mim.
- Oh querida, acalme-se - a senhora castor se aproximou e começou a puxar as plantas que me prendiam com suas pequenas patinhas. Logo conseguiu liberar meus pés, comecei me mexer aliviada, chacoalhando-os. Mas de repente pedras começaram a voar de encontro ao meu corpo. Os castores estavam jogando pedras em mim.
- Aí! Ai! Parem com isso! O que vocês estão fazendo?! - eu sibilava confusa e irritada. Mas tudo piorou quando a fêmea pegou uma pedra grande, que ela mal podia segurar e mirou em minha direção.
Assim que ela jogou, a pedra congelou no ar, bem diante do meu rosto. Eu consegui para-la antes que me atingisse, comecei a brincar com ela, move-la pelo ar, e o castor começou a jogar algumas pedrinhas menores em minha direção, e assim comecei a controla-las. Eles pareciam orgulhosos e satisfeitos.
Depois de um tempo, começamos a andar novamente, com o passar do tempo da caminhada, já estávamos todos secos e o tempo havia esquentado gradualmente, como agora estava calor, nós tiramos os casacos e os abandonamos nos galhos de uma árvore qualquer, sem parar a caminhada. De repente me vi lado a lado com o garoto loiro, ele ia falando sobre ele, sobre sua vida, onde morava e coisas do tipo. Descobri que ele mora a algumas ruas de distância da rua que eu moro, e que estudamos na mesma escola, mas fazia sentido eu não saber, eu não costumo prestar muita atenção as pessoas a minha volta, não gosto de sair de casa e na escola sempre estive sozinha.
Mas ele me conhecia, ele sabia sobre mim, sabia o local onde eu me sentava em minha sala, sabia sobre alguns dos livros que eu mais lia na biblioteca, sabia o que eu mais gostava de lanchar na cantina, e ele também me deixou escapar, sem querer, que me observava as vezes nos intervalos das aulas. Embora me pareça que tenha sido bem mais do que só nos intervalos das aulas.
Conforme andávamos, mais brilhosa e verde a grama ficava, os castores ficavam mais felizes e maravilhados conforme nos chegávamos perto de um acampamento, fomos chegando e tinham dezenas dos tais centauros, dos faunos, e mais o monte de animais e espécies diferentes que o senhor Tumnus devia ter comentado.
Fomos andando em meio a essas espécies, desviando de caudas, pulando patas e fazendo o máximo para não machucar nenhum ser vivo, mas eles não paravam de nos encarar, e de repente estávamos cercados por todas aquelas espécies, e apenas o caminho onde passávamos era aberto, e assim que passávamos, ele se fechava coberto pelos animais.
- Por que será que eles estão nos olhando? - Susana questiona meio sem graça, evitando mexer muito a boca.
- Devem ter te achado engraçada - Lúcia ria da irmã constrangida.
- Ou te achado bonita - sussurrou Pedro ao meu ouvido me fazendo corar e ficar totalmente sem reação.
Chegou a um momento que tínhamos chegado num tipo de barraca central, na frente dela tinha um centauro alto e forte.
- Viemos para ver Aslam! - Pedro explica firmemente mostrando sua espada.
E nesse momento e apenas nesse momento, acho que tomei um chá de realidade. Eu estava a pouquíssimo tempo de conhecer meu pai, e eu não havia nem se quer pensado nesse momento. Como será que ele é? Ele tem cabelos brancos iguais aos meus? Teria pele clara igual a minha? Será que o cabelo dele muda de cor iguais aos meus? Será que ele tem esses poderes iguais a mim? Como será que ele e minha mãe se conheceram? Como será que ele vai agir comigo? Como eu deveria tratá-lo?
De repente todos a nossa volta começaram a se curvar e se ajoelhar sob suas pernas e caldas, sob seus cascos e patas. E então vimos um movimento estranho saindo de dentro da tenda, então as cortinas que serviam como as portas da tenda se abriram e de lá saiu um enorme e gracioso leão.
Eu não tinha entendido, meu pai tinha um leão como seu animal de estimação? Como aqui os animais falam, talvez esse leão seja amigo dele... De repente, uma hipótese doida passou por minha mente, e se ele fosse o meu pai? Mas não tem como, como que um leão vai ser meu pai? Eu ri em cima dos meus pensamentos.
Nós nos curvamos também igual a todos os outros.
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Herdeira Do Reino - Pedro Pevensie
FanfictionBianca Kirke sempre viveu uma vida pacata, entendiante e exageradamente solitária, era um tanto excluída no colégio, não tendo muitos amigos, podendo até sofrer um certo bullying por suas características físicas um tanto diferentes, tendo apenas na...