Cidade de Ferro

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A última vez em que estive em Raisa, eu tinha 14 anos e ainda não era conhecido como o maior mercenário do reino. E mesmo agora, seis anos depois, nada parecia ter mudado. A região era a mais fértil de Lumar, com campos de grãos até se perder de vista. A cidade era cercada por muros altos, revestidos de espinhos de ferro, e guarnecido por inúmeros guardas que ficavam parados feito estátuas no topo do muro.

Quando entramos, uma multidão nos aguardava, e todos começaram a jogar flores para o alto.

A arquitetura de Raisa era deveras incomum: as casas eram construídas muito acima do nível do chão, sustentadas por vigas enormes de pedra. Eram casas de madeira enormes com telhas de pedra. Quanto maior sua posição social, maior a viga que sustentava sua casa. Aquilo fora construído assim por conta das enchentes, que alagavam toda a cidade durante as épocas de chuva, fazendo com que o povoado se parecesse com Bayar, que era completamente alagada durante todo o ano. Por isso cada morador tinha o seu barco para locomoção; e como as plantações ficavam em colinas altas, não corriam o risco de perder as safras.

A Torre de Terra ficava do outro lado, mas era tão alta que era visível para nós. Alguns soldados vieram ao nosso encontro, recebendo ordens do lorde para escoltar os moradores de Terramarrom para o abrigo, e enquanto isso seguíamos a marcha até a casa do patriarca.

E lá estava, no alto de uma colina, o pequeno castelo de apenas uma torre, rodeado por jardins com flores coloridas e algumas árvores. Os soldados da frente abriram o portão de ferro que dava acesso ao caminho de pedra que contornava a colina e nós subimos, passando por árvores e arbustos verdejantes. Por fim, passamos por uma mureta branca e atravessamos um ponte pequena e estreita sobre um riachinho com carpas coloridas, chegando aos jardins. Bem ao centro havia uma fonte impressionante, com esculturas de mulheres e homens nus, e ao lado dela três meninas brincavam vigiadas de perto pelas damas de companhia. Quando nos viram abriram sorrisos enormes, correndo na nossa direção.

-Papai! - elas gritaram em uníssono, parando ao lado do cavalo de KyungSoo, que para minha surpresa sorria radiante. Atrás de mim Jongin soltou um suspiro.

-Papai trouxe amigos novos - uma delas apontou para nós. O sorriso de Sehun vacilou na hora e eu tive que tossir para disfarçar uma gargalhada. Seria uma longa semana.

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Depois de três dias vagando como um fantasma pelos corredores da Torre de Terra, aguardando ordens e espionando como podia, finalmente fui convocado à minha primeira reunião com o comandante, na sala do trono.

O salão era todo esculpido em granito marrom castor, tão impecavelmente polido que a superfície brilhava. As colunas também seguiam a mesma paleta de cores da casa, feita de tons terrosos; as janelas possuíam vitrais com cenas do Ritual da Colheita, e no fim da passarela, feito com carvalho vermelho, o trono do lorde de Raisa se erguia imponente. KyungSoo estava praticamente deitado nele de forma relaxada, uma perna estava dobrada e o pé se apoiava no estofado verde-musgo, o cotovelo direito se dobrava por cima do braço direito do objeto, sustentando seu rosto. Sua expressão refletia todo o seu tédio. Dos dois lados do trono, Sehun e Jongin estavam de pé, usando seus trajes completos.

-Lorde - me curvei em reverência.

-Sabe porque foi convocado, cãozinho do rei?

Trinquei os dentes e pude ver meu comandante formar uma linha fina com os lábios.

-Não, senhor.

-Serei direto, garoto - ele de repente se aprumou no trono, a postura completamente ereta - Chegou a hora do rei se tornar um com os Deuses, e logo o príncipe será coroado. Você será o guarda pessoal dele, aonde quer que ele vá, estará lá; levará uma facada no coração no lugar do rei se for necessário. Está disposto a isso?

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