A Sombra

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Depois que Yuen morreu, eu fiquei a mercê do mundo. Ele não era nenhum parente consanguíneo meu, mas era minha única família.

Quando ele se foi, acometido pela Febre de D'Argel, nossa casa foi pilhada e eu fui levado para ser vendido como escravo. Por sorte, Yuen era ferreiro e me teve como aprendiz, não demorou para que eu fosse leiloado em uma dessas feiras clandestinas próximas a região dos Penhascos Khoroc.

Minha liberdade custou meros 6 matus.

Oito meses foi o tempo que levei para forjar minha primeira espada e juntar economias o suficiente para fugir. Desde então, vagueio por Lumar, matando por dinheiro e arrumando brigas em tavernas diferentes todas as malditas noites. Minha fama era grande, afinal, eu era o único mercenário que aceitava os trabalhos mais sujos e conseguia cumpri-los no prazo estipulado. Eu até ganhara um apelido meio que a contragosto: Executor; não fazia questão de todo esse reconhecimento, mas um desconto na cerveja era sempre bem-vindo.




Era meu aniversário de 20 anos, a idade da Benção, e eu estava comemorando do melhor jeito que conhecia: trabalhando. Recentemente havia enfiado essa ideia de me juntar a uma guilda na minha cabeça, e em questão de dois dias consegui ingressar na Pônei Negro só de aparecer na entrada; peguei o primeiro pedido Classe S que vi pendurado no mural e saí depois de avisar a garota no bar. Do lado de fora, minha égua ruiva esperava pacientemente. Ela era de uma raça de cavalos enormes que eram criados apenas em Drago, treinados para a guerra.

- Vamos, garota. Temos um trabalho - falei para ela enquanto ajeitava minha bolsa de couro atrás da sela. Ela relinchou, como se me respondesse, e me encarou com seus olhos inteligentes - Tudo bem, você venceu - revirei os olhos e tirei uma maçã vermelha da bolsa atada ao meu cinto e ofereci ao equino, e enquanto ela comia eu acariciava sua crina. Era bom que ela estivesse de bom humor, pois nossa viagem até as vilas pesqueiras perto da Floresta Hirgnar nos tomaria ao menos uma semana se usássemos a Estrada Real; porém, sendo um procurado pela Coroa, posso aumentar esse tempo para uma semana e meia.

Um trotar de muitos cascos me arrancou de meus planos, e eu tive que cobrir o rosto com meu capuz cinzento quando vi uma comitiva de dez cavaleiros armados até os dentes e carregando estandartes com o símbolo da Casa do rei Tanner. À frente do desfile, o comandante da Armada de Prata, a guarda pessoal do rei, usava uma mão para segurar as rédeas de sua montaria enquanto segurava o cabo de sua espada Devastadora com a outra.

Para o próprio comandante da Armada de Prata vir de tão longe, alguma coisa muito grave deve ter acontecido, pensei. E é claro que não vou ficar aqui para descobrir.

Mais que depressa me lancei para cima da sela com minhas pernas compridas e puxei as rédeas para que minha égua iniciasse uma caminhada lenta para não chamarmos a atenção. O fato de uma pessoa alta e encapuzada estar vagando pela cidade já era atração suficiente.

- Precisamos falar com o mestre da guilda - reconheci a voz do comandante.

- Seja bem-vindo, senhor Sehun. O mestre já vai atendê-lo - era a mocinha do balcão quem falava agora - Talvez eu possa ajudá-lo também.

O que ele disse logo depois quase me fez esporear minha égua para que saíssemos correndo dali.

- Tenho informações de que o mercenário Chanyeol Ferzer estava andando pela cidade. Você sabe de alguma coisa?

Puta merda.

Fez-se um breve silêncio e eu soube que ela estava olhando na minha direção. Olhei para trás, pois já sabia que fora descoberto.

Lá estava Sehun Elanus, com seu cabelo preto e comprido caindo sobre os olhos escuros e um sorrisinho nos lábios.

- Senhor Ferzer, há quanto tempo!

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