As batidas na porta nos interrompeu, fazendo com que eu olhasse para Jéssica com os olhos arregalados, tendo certeza que dessa vez, era Ian do outro lado da porta, mas quando abri, senti alívio e frustração por ser apenas um dos padrinhos.
— Desculpa interromper as garotas — ele sorriu acenando para Jéssica, ainda sentada na cama — Mas o noivo quer falar com você, Maya.
Tudo que eu queria esquecer era os olhos esverdeados de Ian me encarando e seus lábios quase suplicando por um beijo. A pior decisão que eu poderia tomar, seria ir até seu quarto, minutos antes do casamento, mas teria que correr o risco.
Acenei para o padrinho e fechei a porta, olhando apreensiva para minha amiga.
— Pensa bem no que você vai fazer, pensa no que o seu coração tá dizendo pra você fazer.
As lágrimas pararam em meus olhos, o peso nas costas quase tirou meu ar e quando Jéssica me abraçou apertado, senti necessidade de deixar as lágrimas livres.
Não queria que nada disso estivesse acontecendo.
Em passos trêmulos, caminhei até o quarto do noivo. Assim que bati na porta, já ouvi sua voz rouca do outro lado, autorizando minha entrada.
— Não posso fazer isso, Maya — foi a primeira coisa que ele disse, assim que fechei a porta atrás de mim.
Ian estava semi pronto. Calça azul-marinho, camisa social branca, em seus pés ainda não tinha nada, mas vi seus sapatos jogados no canto do quarto, assim como seu smoking em cima da cama, a gravata borboleta em seu pescoço, estava sendo puxada violentamente por ele, em um gesto desesperado de fugir da situação.
— Ian, você não pode surtar agora.
— Escolher a pessoa com quem vai se casar, é uma das decisões mais importantes que alguém pode fazer. Nunca estive 100% seguro da minha decisão e depois do que aconteceu ontem à noite, a porcentagem diminuiu ainda mais. — ele sentou na cama, arrancando de vez sua gravata — Posso ser considerado o cara mais idiota desse mundo, mas nunca amei completamente a Alexia, ela servia pra eu canalizar o amor que sentia por você.
A dor em meu peito não era apenas uma metáfora, ele literalmente doía como se estivesse ferido.
— Você não pode fazer isso, você não pode desistir desse casamento. A Alexia te ama e não merece passar por isso, não é certo.
— É e certo casar com alguém que nunca amei, só pra não deixá-la triste? Não posso colocar a felicidade da Alexia acima da minha. Não posso estar fadado a um casamento fracassado. Não posso continuar tentando encontrar uma Maya dentro de uma Alexia.
Meu corpo queimava, tudo em minha volta parecia não existir mais.
Todas as declarações de amor que esperei receber de Ian, estavam acontecendo em menos de 24 horas e bem no dia do seu casamento.
— Ian, não quero que você desista do casamento por minha causa, o nosso tempo acabou e se as coisas não aconteceram, era porque não deveriam acontecer. Se arrume e vá casar, você ficou três anos com a Alexia, duvido que não tenha sido feliz durante esse tempo. — fui até o canto da cama, abaixei e peguei seus sapatos, colocando-os ao lado de seus pés. — É a noiva quem atrasa no casamento.
Ian suspirou derrotado.
— Se você não estivesse bêbada, eu passaria o resto da minha vida acreditando que nunca poderíamos ter ficado juntos.
— Talvez assim fosse melhor. Se a gente nunca soubesse, seria melhor.
Quando virei de costas para ele caminhando até a porta, engoli seco, com dificuldade, milhares de pedras estavam atravessando minha garganta.
— Se eu pedisse, você fugiria comigo?
Parei onde estava. Não podia olhar para trás e ser a responsável pela destruição de um casamento, então, apenas girei a maçaneta, fugindo daquele quarto que parecia estar ficando cada vez menor.
No corredor, cercada por quadros bizarros de pessoas estranhas que provavelmente estavam me julgando, acabei esbarrando em alguém.
— Ah, você é a Maya, certo? — segurando uma prancheta, uma das organizadoras me perguntou. Concordei, limpando as lágrimas que ela nem se importou em notar, já que seus olhos estavam pregados nos papéis — Ótimo! — ela riscou algo na folha e finalmente sua atenção voltou a mim — Querida, você está pronta? Preciso que desça pra já começarmos a organizar a entrada.
Quase cambaleei para o lado. Me restavam apenas alguns minutos, alguns minutos para ver o amor da minha vida se casando com outra pessoa.
— Tudo bem — respondi sorrindo e o leve movimento com os lábios, doeu em meu coração.
— Sugiro retocar a maquiagem — ela apertou meu ombro antes de sair apressada pelo corredor.
Voltei para meu quarto e Jéssica já não estava mais lá, com certeza, a louca da prancheta tinha mandado ela descer.
Corri até o espelho e encarei um reflexo derrotado.
Quer saber? Que se dane as camadas de corretivo. Quero que todos saibam que estou deprimida demais com esse casamento, quero que vejam pelo lado de fora, a dor que estou sentindo por dentro.
Quando cheguei no local da cerimônia, vendo mais de perto, tinha que confessar que estava tudo incrivelmente perfeito. Os vasos de flores ao lado do altar improvisado, as cadeiras pretas com estofados brancos, os lustres extravagantes que deixava o lugar muito bem iluminado, o tapete vermelho que levaria Alexia até Ian. Tudo estava perfeito, só não tinha nada a ver com o noivo.
Vi Jéssica se levantando da cadeira dos convidados e vindo em minha direção.
— Por favor, senhorita — a organizadora parou Jéssica com as mãos — Preciso que você volte para seu lugar.
Ergui o polegar para minha amiga e sorri, mesmo nada estando bem.
Ian chegou, totalmente pronto dessa vez. Cabelo alinhado para trás, olhos levemente avermelhados, assim como a ponta de seu nariz, todos diriam ser pura emoção por estar casando, mas só nós dois sabíamos o real motivo. Quando ele me encarou, perdi o chão.
Sua mãe ajeitou a gravata que estava o sufocando minutos atrás no quarto e beijou sua bochecha, limpando a marca de batom que deixou no rosto do filho. Ela transbordava felicidade, não poderia acabar com aquele momento.
Para ser sincera, nem me dei conta de como caminhei pelo tapete vermelho até sentar nas cadeiras reservadas para os padrinhos, nem me lembro da música que tocou ao entrarmos, porque a única coisa que conseguia ouvir era meus pensamentos desordenados. Erick, amigo de Alexia foi meu par, mas não trocamos nada além de saudações falsas, ele parecia tão tenso quanto eu.
Do altar, Ian me encarava tanto que comecei a suspeitar que estava lendo meus pensamentos.
Os cabelos vermelhos de Alexia estavam presos em um coque pavoroso, o vestido cor casca de ovo era bufante, a deixando parecendo um cupcake ambulante, o véu preso em seu coque era gigantesco. Enquanto ela caminhava graciosamente até o altar, só conseguia pensar em como queria que aquela fosse eu.
Vez ou outra, durante a cerimônia, olhava apreensiva para Jéssica que parecia ter se entretido no momento em que o celebrante começou com os dizeres clássicos sobre fidelidade, respeito e reciprocidade.
O moreno ao meu lado, não parava de balançar as pernas, o que me deixava ainda mais aflita e prestes a vomitar. Só queria fugir daquele lugar.
— Alexia, pode dizer seus votos — o celebrante ordenou.
VOCÊ ESTÁ LENDO
FALE AGORA [CONTO]
RomanceE se você tivesse apenas uma chance na vida de gritar tudo o que sente? Apenas uma chance. Você gritaria? Você se arriscaria? Ou se arrependeria de nem ao menos ter tentado? Maya sempre foi apaixonada por Ian, mas nunca conseguiu expressar todo seu...