Primeira gota

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Solidão.

Eyre fungava enquanto se esgueirava pelos corredores escuros do enorme castelo Sallow. Estava bastante escuro e frio. Naquele momento, ela desejava apenas um pouco de conforto da dor extasiante.

O frágil coração doía a cada batida. Não importava o tanto que ela corresse ou fugisse, não importava o quanto desejasse se esconder no interior do castelo, jamais iria se esquecer do casamento entre Henry e Nefertari.

Ela não conseguia controlar os próprios sentimentos, mesmo sabendo que ele sentia todas as emoções dela. Infelizmente, a pequena garota não era capaz de suportar a dor da rejeição como gostaria de ser. As lágrimas desciam sem parar e não possuíam o poder de diminuir o peso sobre Eyre.

O elo da ligação entre ambos parecia fraco. Frágil como se fosse partir a qualquer momento, embora Eyre soubesse que isso é completamente impossível.

Ela escorregou pela parede fria e rapidamente os soluços começaram a ecoar pelo corredor vazio. Eyre abraçou os joelhos e chorou como nunca havia chorado.

Henry Sallow, o marcado dela e que ninguém sabia disso, está noivo de Nefertari Delacroix.

Como o segundo no comando da hierarquia dos filhos de Atlas, é dever de Henry tratar dos assuntos que não são tão importantes para o Alfa, o primeiro em comando. Devido a isso, tudo começou quando ele visitou as terras dos quatro clãs para resolver alguns conflitos sob o nome do Alfa há alguns meses.

Ironicamente, Henry apazigou os conflitos e retornou com um colar de compromisso cintilando ao redor do pescoço torneado e uma estonteante metamorfa do clã Delacroix ao lado que se proclamava como a mulher do Høyere.

Ao contrário dos humanos das terras cinzentas que utilizam anéis para simbolizar o relacionamento, os lobos negros usam colares.

Eyre sofreu pela ausência de Henry, mas nada poderia prepará-la para o retorno dele.

O casamento iria acontecer hoje, após poucas semanas desde o retorno de Henry. Assim, ela teria que ajudar nos preparativos como todos os empregados.

Ela teria que servir os quatro grandes clãs que governavam o reino de Arcantia enquanto se quebrava por dentro ao observar a rejeição desmascarada do marcado.

A garganta de Eyre contraia ao ponto de ela quase não conseguir respirar.

Como ele ousa?! Eles são destinados! O amor que ela sente por ele não é contribuído da mesma forma? Que tipo de elo é esse que somente um lado sente, sofre...?

O vínculo ocorre somente na espécie dos metamorfos. Ele simboliza a ligação entre duas almas gêmeas que jamais poderão ser separadas. Um amor incondicional e puro que transcede tudo e todos. Isso é o que está escrito na literatura, porém, não é o que aconteceu com Eyre.

Ao invés de amá-la, Henry a ignorava.

Ele nunca a maltratou por ser uma sangue azul como os outros metamorfos puros, porém também jamais demonstrou afeto ou paixão por ela. Algumas vezes, Eyre cogitou que Henry parecia mais aberto para ela, como se estivesse disposto a ignorar o fato que ela é uma indigna. Contudo, esses breves acontecimentos não passaram de frutos de uma mente desesperada por um amor que não existe.

No fim das contas, ela estava sozinha.

Eyre alongou uma das unhas e perfurou a palma da mão. Sangue azul desceu pela pele e ela observou a gota azulada caindo no chão limpo. Azul. A linha que a separava dos humanos e a exilava dos metaformos.

Por que ela tinha que nascer com o sangue azul?

- Eyre - uma voz distante a chamou.

Ela continuou com o rosto escondido entre os joelhos.

Sangue AzulOnde histórias criam vida. Descubra agora