Quarta gota

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Alguns dias passaram após a transformação de Eyre. Ela tentou se acostumar com os novos sentidos conforme conhecia o castelo e os empregados.

Surpreendentemente, havia muitos humanos ali. Talvez quase no mesmo número que os vampiros.

Ela aproveitou os dias para lidar com a sede. Contudo, não era tão difícil como os metamorfos diziam. Os lupinos falavam que os vampiros eram movidos por uma sede esmagadora, porém, Eyre não havia sentido essa desesperação que tanto falavam por sangue.

Os únicos que Eyre via constantemente eram Morty e Marie.

Morty ainda tinha medo dela, porém Eyre percebeu que, cada vez mais, o rapaz baixinho se sentia mais à vontade e não derrubava mais os copos ou prendia a respiração quando ela passava perto dele.

Ademais, Eyre não sabia julgar se era um fato bom ou ruim, mas Callum não havia aparecido mais. Ele mandava o próprio sangue através de Marie ou por Morty. Taças cheias de sangue que eram enviadas a cada seis horas.

A partir do terceiro dia, ele também começou a enviar bilhetinhos.

Bom dia, meu bem. Como está?

Ultimamente estou bastante ocupado devido ao Conselho, por esse motivo fatídico não posso visitá-la. Infelizmente, os anciões são absurdamente irritantes (imagine um bando de macacos raivosos discutindo por dias sobre qual banana é a mais gostosa, assim são os vampiros do Conselho) e não pretendo descontar o meu mau humor em você. Todavia, isso não significa que você ficará livre de mim por muito tempo.

Pequena observação: espero que esteja se alimentando bem ou serei obrigado a visitá-la. Bem... Eu ficarei feliz se, a partir desse bilhete, você decidir fazer greve de fome ou seria greve de sede?

Enfim, desejo vê-la o mais breve possível.

Com atenção, Callum Galanis Saint-Aulaire. O vampiro mais belo desse reino.

Eyre leu o bilhete e encarou Marie. Ela riu quando leu as letras inclinadas que diziam "vampiro mais belo". A vampira imaginou Callum escrevendo aquelas palavras com um tom irônico.

— Por que Callum possui dois sobrenomes?

Geralmente, os nobres, seja metamorfos ou vampiros, possuem apenas um sobrenome.

— Galanius é o nome pessoal do mestre, Saint-Aulaire é designado apenas para os reis ou líderes. Significa que ele está acima de todos e de qualquer coisa — Marie colocou a taça vazia, que ainda continha resquícios do sangue de Callum, em cima de uma pequena bandeja de prata.

— Compreendo — Eyre observou Marie trabalhando. Ela mordeu os lábios e encarou os dedos. Estava se segurando há dias para não perguntar por Callum, mas a curiosidade já havia chegado ao extremo. — Ele está aqui? Digo... Callum está no castelo?

Marie concordou.

— Ele está em qual ala do castelo?

Eyre queria vê-lo, principalmente após ler o pequeno bilhete. Cada vez mais, os bilhetes mandados por Callum se tornaram íntimos e aconchegantes. Ela tinha um amigo, pela primeira vez na vida.

— Minha senhora, você não está permitida a encontrar Callum agora.

O modo como Marie falava e desviava o olhar era estranho, no mínimo. Devido ao vampirismo, Eyre havia desenvolvido a capacidade de análise corporal.

— Está me escondendo algo? — Eyre retrucou e se sentou na ponta da cama.

— Por que a pergunta, senhora?

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