Callum afastou o rosto do pescoço do humano e a observou. Os olhos dele continuavam verdes, sem nenhum sinal de descontrole. Então, por que ela sentia desconforto ao vê-lo se alimentando do garoto? Por que estava assustada?
— Você iria matá-lo? — Eyre queria que as palavras dela soassem como uma pergunta, mas, infelizmente, pareceram com uma acusatória.
Callum retirou um pano branco do bolso e limpou os lábios. O corpo inerte do garoto caiu ao lado, desacordado. O coração do humano batia em um ritmo lento, porém constante.
— Você ia? — Eyre voltou a perguntar e se aproximou do garoto. O olhar de Callum a parou. Frio e distante.
— Não.
Eyre o ignorou e se aproximou do humano. A mão de Callum a impediu de puxar o garoto para si.
— Posso me alimentar de você, já que me atrapalhou? — Callum afastou o cabelo do pescoço de Eyre e passou levemente o nariz pela região. Por um momento, ela ficou parada sem saber como reagir. A sensação dele perto era estranha e inquietante. Ele a encarou com um olhar jamais visto por ela, como se estivesse magoado. — Eyre, você deve achar que sou um monstro... não, melhor, um louco sanguinário?
Era um teste?
A respiração fraca do garoto a trouxe à realidade, mas Eyre encarava Callum. Ela não conseguia seguir o fluxo de emoções que estava ocorrendo ali.
— Você tem medo de mim, Eyre?
Eyre levantou o humano e o colocou no colo. Ela analisou Callum e percebeu que ele estava sério. O olhar estranho não se encontrava mais nos olhos verdes límpidos e brilhantes. Se ele estava magoado, então havia escondido muito bem os sentimentos.
— Não, eu não tenho.
Ela não foi convicta.
Callum jogou o lenço enquanto observava Eyre segurar o garoto, como se o humano fosse se partir a qualquer momento. Ele riu baixinho e balançou a cabeça.
— Você é uma péssima mentirosa. Lembre-me para que, algum dia, eu a ensine a mentir melhor.
Embora ele estivesse sorrindo, Eyre não cogitou, em nenhum momento, que Callum estava bem. Em seguida, Callum saiu do quarto sem dizer mais nenhuma palavra.
Eyre encarou a porta enquanto segurava o garoto e o colar. Talvez houvesse mais algo ali naquele cômodo que estivesse quebrado além do humano e da bijuteria.
Possivelmente era a pequena confiança construída entre eles.
***
Dias se passaram e Eyre não encontrou Callum. Ele estava em nenhum lugar, embora, em algumas ocasiões, ela jurou que havia sentido o aroma dele nos corredores do castelo, localizados no sul. Além disso, Ada também havia sumido.
Será que eles haviam se arrependido de terem a acolhido? Será que Callum se arrependeu de ter a transformado? E se... e se... ela virou um fardo? O que não garantia que ele não a veria como um incômodo, sendo que todos a desprezavam?
Ele havia se arrependido?
Eyre escondeu a cabeça entre os joelhos e mordeu a ponta do dedo. O maldito sangue azul continuava ali. O maldito.sangue.azul. Não importava se ela havia virado uma vampira, se tinha presas e uma força descomunal, no fim, ainda era a Eyre patética e fraca.
Eyre começou a chorar e nem ao menos havia notado que estava chorando. Quando estava sozinha, a mente dela sempre trabalhava contra si. Pensamentos tristes e solitários se tornavam uma verdade irrefutável.
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Sangue Azul
FantasíaNo reino de Arcantia, clãs de seres sobrenaturais coexistem com os humanos, inclusive os metamorfos. Estes possuem uma sociedade caracterizada por uma hierarquia social baseada no nascimento e pureza do sangue. Eyre é conhecida por ser uma sangue a...