Entre Poções e Caos 𖥻 hyunlix

CAP 10┃Visite A Cabana

🔮🕯️

Matteo deu dois passos para trás, começando a negar com o dedo quando levantou a mão na altura da cabeça, esta que balançava da mesma forma sem que ele pudesse perceber. Em resposta, Hyunjin revirou os olhos, e cruzaria os braços se já não estivessem ocupados, mas Lisa fez por ele, também soltando um longo suspiro cansado, logo virando-se para lançar um olhar de matar para o amigo.

─ Vem aqui. ─ ditou, aguardando que sua quase ordem fosse acatada ─ Agora! ─ bateu o pé ─ Felix está alucinando bem na sua frente, será que vai preferir assistir quem esteve do seu lado a vida inteira sentir dor e continuar em confusão do que enfrentar um pouco esse seu medo todo?

─ Talvez seja melhor que ele fique aqui. ─ o Protego disse em tom sério, levantando Felix de leve em seu colo para que não o derrubasse ─ Medo não é comum no inferno, então é prato cheio para o tipo de demônio que, especialmente agora, não quero lidar. Ainda mais com ele desse jeito. ─ apontou com a cabeça para os cabelos ruivos tentando esconderem-se por seu torso.

─ Não! Eu vou. ─ fechou os olhos e assustou-se quando Lisa o puxou pelo braço, colocando-os próximos do demônio, que não parecia, mas se encontrava amolecido pela fofura daquele adolescente tão estressado, e no momento parecendo tão inocente, talvez até ingênuo no seu amparo.

Estava errado, afinal. Felix levantou a cabeça até os ombros de Hyunjin, e mordeu-lhe, rindo em seguida pela expressão dramática que surgiu no rosto do demônio, mas, travesso, voltou a esconder-se no peito dele, dessa vez tapando os olhos com as próprias mãos. Parecia ter se tornado a criança que um dia já foi.

─ Então vou pedir mais uma vez. Segurem nele, fechem os olhos e esvaziem o pensamento. Ouviu, miojo? Nada de pavor, nem tremedeira.

Mesmo a contra gosto, Matteo fez o que lhe foi pedido. Hyunjin olhou mais uma vez para Felix em seus braços e suspirou conformado, logo as unhas afiadas cortaram a pele pálida da própria nuca, fazendo o sangue escuro escorrer por entre suas omoplatas e queimar de leve as tábuas de madeira que compunham o chão. O vento frio já era corriqueiro nos sentidos do Waterhouse, que não balançava-se mais por ele, mas intensificou-se com o seguir dos próximos segundos.

Foi como um piscar de olhos dificultado pelo sono e cansaço intenso após um dia inteiro de afazeres na rua, com direito a engarrafamentos, filas enormes e desorganizadas, chateações pessoais com aquele trabalho que apresentaria mas acabou por esquecê-lo na mesa ao lado da porta antes de sair e, até, a tarde perdida pelos erros de português que precisou corrigir de um seminário de escola. Difícil, inconveniente, pesaroso e quase errôneo, mas gratificante ao chegar à conclusão.

Poderia soar contraditório sentir-se bem ao chegar no Inferno, mas a passagem entre dois mundos quando bem realizada causava tal prazer. E Hyunjin o fazia por diversas razões.

Então, assim que se encontraram localizados no centro do Reino de Soulem, souberam que aquele lugar soava muito mais interessante que as ruas pacatas da cidade onde viviam desde pequenos, mais ainda que a vida dos adolescentes protagonistas em filmes de romance clichês. Era cheio, movimentado, parecia uma feira lotada numa megalópole, e os cheiros das comidas expostas nas pequenas barraquinhas enfileiradas lado a lado, próximas da enorme torre os observado, chamava mais atenção do que deveria.

Diferentemente do estereótipo das especulações mundanas ou representações artísticas, o tão comentado inferno não tinha nada da imagem que plantavam na cabeça dos humanos. Nada de fogo, morte, sofredores pagando pelos seus pecados, demônios horríveis se deliciando dos gritos daqueles que acabaram condenados a queimar. Apenas um fluxo intenso de humanóides, como se todos estivessem num enorme evento geek com cosplayers, e casinhas coloridas.