Entre Poções e Caos 𖥻 hyunlix

HYUNJIN : SENTIDO

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Quando os demônios de nível três completavam seu milênio, poderiam, enfim, começar os treinamentos para servir ao Líder Real e proteger as muralhas juntamente aos Protegos Líderes. O que significava, em outras palavras, que estavam deixando a adolescência para trás e iniciando com tudo a vida adulta encarada como, no mínimo, mais do que arriscada.

Os Protegos eram conhecidos no inferno por serem a classe mais disciplinada; eram os guerreiros, afinal, mas o respeito que recebiam foi conquistado. Diferentemente dos ambíguos e ardilosos Cognitos, os demônios de nível três se faziam prestativos, priorizavam a calmaria dentro do seu território, e, fora das delimitações das áreas que entendiam como casa, não hesitavam ser extremamente sanguinários.

E essa parte era a que Hyunjin mais esperava.

O pequeno Protego, quando criança, sonhava com o dia em que teria a oportunidade de aflorar os reflexos característicos da sua classe, entender a força que seu corpo produz e, em especial, cortar as pernas dos demônios do norte com a espada em seu peito que tinha esperança de conseguir sacar. Com certeza teria uma. Mas até mesmo o inferno se tornava uma caixa de surpresas vez ou outra, e o Hyunjin sonhador sobre seu primeiro treino se tornou um dos líderes do sudeste em menos de dois anos no processo.

Não podiam dizer que era desleixado, muito menos favorecido. Foi um líder jovem, e por isso recebeu mais desafios se comparado aos demais; queriam testar tudo que tinha em si para oferecer, ou melhor, tentar provar que era um inútil. Foi mais duvidado, excluído, negligenciado.

Negligenciado. A palavra que melhor o descreve do ponto de vista altruísta que, sozinho, aprendeu a ter. Hyunjin foi uma criança reclusa ─ não por opção, diga-se de passagem ─ sendo o abandono paterno que recebeu de brinde no seu aniversário de quatro anos a cereja do bolo solitário que sua vida se tornou a partir daquele dia. De acordo com Jisung e Jennie, os melhores amigos e família que o tempo guardou para si, por fora ninguém jamais esperaria o passado que Hyunjin viveu, ainda mais quando o Protego andava sempre por aí observando todos os cantos, ajudando quem pudesse, da melhor forma possível; não parecia nunca ter sido retribuído.

De certa forma, Sooyoung ser uma das bruxas refugiadas na época em que o inferno presenciou uma espécie de chuvas de raios, foi uma grande coincidência do destino. Porque aquela bruxinha era um tanto quanto peculiar, e o interesse que tinha em aprender mais sobre seus dotes mágicos ajudou imensamente na sensação estranha que Hyunjin, de apenas sete anos, havia sentido poucos segundos antes do clarão extremo no céu.

Muito diferente das pessoas que já conhecia, Sooyoung era confiante, segura, tinha os pés no chão e dizia ter adotado Hyunjin como o irmãozinho mais novo que nunca teve. Ela quem o segurou nos piores momentos, quem ensinou a convicção em si mesmo que Hwang apresentava na vida adulta; especialmente, quem acreditou em cada pesadelo advindo de uma noite mal dormida que teve, as cenas que considerava delírios, e não hesitou um segundo sequer em mover-se para entender a ligação do garotinho com aquelas descargas elétricas que balançaram o submundo. Com Sooyoung, Hyunjin começou a descobrir sobre a própria vida.

─ Sooyoungie, porque não pintamos a parede de amarelo? ─ a criança sorria, bobinha, com os olhinhos se tornando apenas duas luas crescentes; era o charme principal que tinha.

─ Achei que não fosse pedir nunca! ─ ela riu ao levantar para procurar os ingredientes que já havia separado previamente. De fato estava esperando o menino sugerir, não gostava de ir de encontro com as vontades dele.

No primeiro dia de treinamento, Hyunjin sentiu o coração cair até o estômago. Então as mães realmente existem?, pensava consigo mesmo ao caminhar sozinho para a arena, o único sozinho. Não que fosse novidade, mas ver de perto o tipo de interação que apenas pais e filhos poderiam ter, despertava uma sensação extremamente incômoda em si. Era um adolescente quase quebrado, sem figuras familiares reais e sem saber o que é sentir esse tipo de amor, porque no fundo ele sempre se perguntava "será que um dia vou entender o que isso significa?", "será que algum dia vou merecer entender?".