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Eu empurrei levemente a porta, e vi com desgosto que Cho Chang estava no quarto, com Harry. Felizmente, ambos estavam vestidos, mas eu sabia que não seria por muito tempo, então me afastei. Ainda não era tão tarde. Fazia semanas que eu não conseguia ficar, como costumava até pouco tempo atrás, no quarto de Harry, lendo, estudando ou conversando, pois Cho Chang estava sempre por lá.

Ela parecia estar sempre por perto, agora. Eu me perguntava quando ela iria embora, quando voltaria para o Oriente e nos deixaria em paz. Harry jamais falava sobre ela quando estávamos juntos, e quando eu a desprezava com indiretas desgostosas, ele apenas deixava que eu falasse, como se não se importasse.

Minha opinião não lhe era importante.

Com um suspiro resignado e uma forte vontade de quebrar alguma coisa, afastei-me da porta e segui para o primeiro andar. Cheguei ao corredor dos quartos dos empregados, e fui para a porta de Anna. Bati suavemente e entrei. Vi-a dormindo tranquilamente na cama estreita, a janela aberta oferecendo uma boa visão da lua cheia. O Sirocco já não era tão forte; já estávamos na primavera.

Sentei na cama e cutuquei seu ombro.

"Anna..." Chamei. Ela não costumava dormir tão cedo. Geralmente ficava até tarde estudando com os livros e materiais que eu conseguia para ela. O dia devia ter sido cansativo.

Anna resmungou e abriu os olhos, piscando algumas vezes ao me ver ali.

"Draco...? O que houve? Está tudo bem?" Ela perguntou com a voz engrolada de sono, enquanto se sentava e esfregava os olhos.

"Não... Cho Chang está com Harry. Eu não aguento mais essa mulher." Torci os lábios e sentei melhor na cama. Os cabelos de Anna estavam desgrenhados e ela usava uma longa camisola de linho branco, bastante simples e sem formas. Eu sempre me sentia pomposo demais perto dela, com minhas vestes caras de seda.

"É tão estranho..." Anna bocejou. "O Sr. Potter nunca havia ficado tanto tempo com a mesma mulher. Me pergunto o que ele viu nessa Cho Chang. Quero dizer, ela é linda, mas mesmo assim, tem um jeito tão insuportável."

"Nem me lembre." Resmunguei.

Anna me encarou divertida.

"Você é tão ciumento." Ela apontou. "Sabe, acho que deve ser normal, afinal, você nunca teve realmente de dividir Harry com mais ninguém, mas às vezes me parece... que seu ciúmes vai muito além disso."

Arregalei os olhos e corei fortemente. Eu era tão óbvio assim? Se Anna havia percebido, porque não todos os outros, e até mesmo Harry? Envergonhei-me fortemente com a possibilidade.

Anna soltou uma exclamação abafada de surpresa ao perceber meu constrangimento.

"Eu estou... certa?" Ela perguntou, cuidadosa.

"Sim." Falei, e então contei tudo. Ela me escutou em um silêncio agitado, remexendo-se sobre a cama a cada segundo, aguardando cada uma de minhas palavras com ansiedade, seus olhos brilhando mais do que nunca. Quando terminei, ela se jogou em cima de mim e me abraçou.

"Ah, isso é tão legal!" Ela exclamou e segurou-me pelos ombros. "A gente precisa dar um jeito de se livrar dessa Cho Chang. Não... não... precisamos pensar em um jeito de verificar se o Harry sente algo por você. Ai, eu acho que sim, sabe? Aquele jeito que ele olha para você... que eu comentei uma vez, lembra? Seria tão adorável se vocês ficassem juntos, que nem Sirius e Remus! Sinceramente, eu acho você muito melhor do que qualquer das mulheres que vivem se jogando em cima dele, principalmente essa Cho Chang!" Anna tagarelou sem parar.

"Anna, acalme-se!" Revirei os olhos. Anna e seus delírios apaixonados. Não havia nada de mais nos olhares de Harry. "Eu não sei se devo fazer alguma coisa... Se Harry está com Cho Chang, eu não deveria interferir. É a vida pessoal dele, não devo meter o nariz no que não me diz respeito."

Era Uma Vez Em VenezaOnde histórias criam vida. Descubra agora