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Os olhos de Harry se arregalaram por um breve instante. Vi seus lábios entreabertos e sua respiração quente sair por eles, enquanto a surpresa instalava-se em seu rosto. Mas não durou. Sua expressão logo se suavizou e ele sorriu ameno, invertendo o jogo e segurando meu braço. Sua mão fechava-se em meu pulso fino com facilidade.

Ele me puxou um pouco para perto e me deixei ir, estupidamente acreditando que ele retribuiria meus sentimentos, que me beijaria enquanto a água salgada espirrava para dentro do navio em gotas finas como lâminas de espadas.

"Eu também te amo, Draco." Ele falou, e eu poderia gritar de júbilo ao ouvir as palavras. Um sorriso tentou crescer em meu rosto, mas então compreendi. Ele me amava, mas não da forma como eu o amava. Ele sequer havia percebido a magnitude do que eu lhe falava.

Mas então eu lhe explicaria, e diria, letra por letra. Afastei-me dele e balancei a cabeça, exasperado.

"Não dessa forma. Não assim." Falei, nervoso, e minha voz continuava tão trêmula quanto antes. "Eu te amo, mas não como um pai, um irmão, ou um amigo. Eu... eu te amo como... como Sirius ama Remus." Expliquei, gaguejando, meu rosto queimando, meu olhar baixo. Se ele ficou surpreso por eu saber sobre Sirius e Remus, não demonstrou. Ouvi-o suspirar, cansado, e fechei os olhos.

"Draco," Ele ergueu o meu rosto, e me odiei quando as lágrimas despencaram ao abrir meus olhos. Havia... compaixão em seu olhar, e isso me machucou mais do que tudo. Eu não queria compaixão. "você não sabe o que está falando."

"Eu sei!" Praticamente gritei, antes mesmo que ele terminasse a frase. As lágrimas vertiam como as quedas d'água em Veneza.

"Você é apenas uma criança." Ele retrucou, sério. Minha indignação subiu e queimou em meu peito.

"Não sou mais criança. Ninguém continua a ser criança depois de passar por tudo que eu passei." Falei, e meu tom tornou-se algo feroz. "E você sabe disso."

"Talvez não mais criança, mas ainda é jovem demais." Ele quis dar um ponto final àquilo, mas não permiti. Segurei suas roupas e me aproximei, vendo-o hesitar. Pensei em contar que havia sido eu quem ele beijara naquele dia de carnaval, mas fiquei com medo que ele se irritasse ou se sentisse traído por eu tê-lo enganado.

"E quando eu não for mais tão jovem? Quantos anos eu terei de ter para você me querer?" Perguntei, interiormente horrorizando-me pelo meu tom desesperado, mas não dei importância. Harry pareceu em choque, mas como sempre, se recompôs rapidamente.

"Draco, eu sou seu protetor, e sou seu amigo. Quando você tiver idade, vai ir estudar em alguma universidade, e então poderá seguir sua própria vida." Ele explicou. E eu sabia que esse era o combinado desde sempre, mas me doeu tanto saber que o plano dele era que nos separássemos no futuro, que me afastei, deixando meus braços caírem.

E comecei a chorar, baixinho, olhando para o chão de madeira da proa.

"Eu não quero te deixar." Murmurei. "Não me obrigue. Você me prometeu que nunca me deixaria."

"Você é novo ainda. Quando tiver mais idade, vai ter esquecido todo esse disparate. Vai querer conhecer o mundo. Vai rir quando lembrar que já se declarou a um homem." Harry falou ainda sério, mas não havia repulsa em sua voz. Ele aceitava Sirius e Remus, então não deveria ter problema com homens que não desejavam mulheres. Talvez ele não pudesse, jamais, desejar outro homem. Talvez, o problema fosse comigo.

"Não esquecerei, não darei risada, e não conhecerei o mundo." Sussurrei, débil e teimoso. Harry me olhou longamente, mas me deu as costas, para avisar seus homens que queria voltar. "Harry!" Chamei-o, e ele parou, mas não se virou para mim novamente. Encarei suas costas largas, com ombros rígidos. "Você ama Cho Chang?" Perguntei, mas ele não respondeu. Seus ombros pareceram se tencionar ainda mais. "Se você não a ama... por favor, termine com ela. Por favor... dói demais..."

Era Uma Vez Em VenezaOnde histórias criam vida. Descubra agora