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"Draco!"

A pincelada saiu errada devido ao susto que o chamado repentino me causou. Eu estava no salão de pintura. Era um lugar enorme e cheio de quadros e telas em branco. A maioria delas, exigida por mim. Gostava do lugar cheio e bagunçado, com jornais velhos espalhados pelo chão, sujos de tinta e banquetas e quadros prontos apoiados em tudo que é lugar pelo chão. Havia alguns que eu precisava esperar secar para completar a pintura.

Olhei para baixo. Eu estava pintando um painel que cobria quase toda a parede, e precisava subir em andaimes para poder alcançar todos os pontos. Mordred os escalava junto comigo e ficava parado, quieto, observando-me pintar como se apreciasse a arte.

Emmelice estava ali com um prato com bolo e um copo de leite.

"Desculpe, fiz você errar, não fiz?" Ela perguntou arrependida. Olhei para a tela e depois para ela.

"Eu dou um jeito, não se preocupe." Assegurei.

"Eu me preocupo sim. Você está aí desde de manhã, pintando, e sequer almoçou! Quer acabar desmaiando?" Ela ralhou batendo o pé. "Sei que nesse calor não dá muita vontade de comer, mas ficar o dia inteiro em jejum faz mal, Draco."

Revirei os olhos com o sermão. Emmelice iria me tratar como mãe até o final dos tempos.

Eu gostava disso, porém.

"Deixa aí em cima de algum banquinho. Depois eu como." Falei, distraidamente misturando as tintas na tábua fina que eu segurava. "Prometo!" Emendei ao ver a expressão de descrença dela.

"Está bem." Ela largou a travessa e Mordred desceu rapidamente, indo farejar a comida com seu nariz avermelhado e pequeno. "E está muito bonito, a propósito." Ela admirou o painel. Era uma encomenda para um viajante que pousou em Veneza por alguns dias. Ele se apaixonou pela vista do porto, com o por do sol, e pediu que um painel com essa visão fosse reproduzido, para que ele pudesse levar para sua terra natal. "Está tão ou mais bonito que o original."

Sorri de lado. Os vários dias em que assisti o por do sol no Adriático do telhado do casarão perto do porto ajudaram-me a criar uma reprodução fiel do espetáculo.

"Obrigado, Emme. Mesmo que sua opinião seja pouco confiável, vou aceitar seu elogio." Balancei a cabeça, ajeitando o erro da última pincelada. Emmelice soltou uma exclamação de ultraje.

"E posso saber por que minha opinião não é confiável?"

"Porque você não entende nada de pintura." Provoquei e comecei a rir da indignação dela. Ela mandou eu descer para que eu recebesse uns tapas bem dados, mas eu obviamente não obedeci. Depois ela acabou rindo também e acabou tudo bem.

Ficamos alguns minutos em silêncio, em que ela me observava pintar.

"Você acha que consegue terminar até antes de ir embora?" Ela perguntou com a voz triste, por mais que tentasse disfarçar. Ela sentiria saudades minhas. E eu também dela.

"Não sei... Espero que sim. O Sr. que a encomendou merece essa lembrança da cidade." Faltavam apenas duas semanas para a minha partida, motivo pelo qual eu comecei a dar tudo de mim no painel, começando a pintá-lo cedo pela manhã e indo ate tarde, quando meu braço não aguentasse mais.

Blaise estava insatisfeito com isso. Dizia, quando aparecia para me visitar, que eu deveria aproveitar meus últimos dias com ele, mas a verdade é ele estava eufórico demais porque Pansy o recebera em sua cama – apenas porque ele aceitara pagar o preço exorbitante que ela exigia. Eu não queria nem imaginar o que aconteceria quando o pai dele descobrisse a quantidade de dinheiro que ele vinha gastando. Ainda que eu achasse que Pansy merecia cada centavo.

Era Uma Vez Em VenezaOnde histórias criam vida. Descubra agora