Capítulo 1

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Poderia começar dizendo que essa é só mais uma história de uma secretária qualquer. Mas, na verdade, eu não me estipulo como “A secretária” até porque eu tenho uma vida fora das portas enormes das indústrias de beleza L. Albuquerque. Que, era bem verdade, melhorou e muito após eu ter sido promovida ao último andar do prédio, mais precisamente a ala da presidência, onde o todo poderoso Leandro Lima Albuquerque trabalhava e mandava na porra toda. Ok, eu poderia ser denominada como “A secretária Mor” assim eu não me importava. Ninguém poderia me culpar por me vangloriar quando o meu serviço foi reconhecido após oito meses de empresa, quando a antiga “Secretária Mor” saiu de licença maternidade e, por obra do divino, ficou tão apaixonada pelo bebê que resolveu não voltar mais.
Eu estava tão empolgada em deixar de ser uma galinha que ficava pulando de poleiro em poleiro, cobrindo as férias de todas as secretárias, que a ideia de bebês não chegou em meu sistema de forma “bem vinda”. Diferente da história de casamento.
— Você deveria pensar um pouco melhor. – Dizia Belinda, minha amiga desde a época de escola. – Será que vale a pena cavar uma história de casamento?
Ponderei o que Linda dizia sem me deixar intimidar, quando uma nova mensagem soou no meu celular. Alcancei a gaveta, puxando a peça e encontrando o aparelho praticamente gritando em minha direção lá de dentro. Foi questão de um suspiro para o aparelho, um iphone como cortesia da L. Albuquerque, desbloquear ao identificar minha feição retorcida.
“Não acho que seu pai irá achar mais desrespeito morarmos na mesma casa sem sermos casados, do que você, solteira, morar sozinha.”
Era o que Pedro, meu namorado, dizia no texto.
Sem poder bloquear a tela antes, Belinda veio para o meu lado, intrometendo o seu nariz no meio do meu pescoço, a fim de ler a mensagem melhor.
— Pedro me ama! Estamos juntos há sete anos, desde o colegial. O próximo passo é o casamento. – Saí me explicando, antes que minha amiga tirasse qualquer conclusão precipitada. Eu sabia que precisava daquele passo – E, não estou mentindo, ou forçando–o a se casar comigo quando eu digo que meu pai abomina a história de “filho fora do casamento” e, morar junto sem ser casado.
Meu pai era dessas pessoas que, quanto mais o mundo evoluía, mais o velho se enrugava. Para o bem da justiça, eu não podia envergar a sua verdade. Sr. Theodoro Jhonson era o filho mais velho e “fora do casamento” que, quando a sua mãe casou–se com outro homem, que não era seu pai, o qual nunca conheceu, se viu abandonado no mundo. Totalmente ignorado veio para o Brasil em um intercâmbio, conheceu minha mãe e nunca mais voltou.
— Mas você comprou um apartamento, se não era para morar com ele...
— Irei morar sozinha! – Afirmei, não vendo onde estava o problema de ser um pouco mais independente.
Com a estabilização do meu cargo, o meu salário triplicou, o que fazia meus olhos se virarem em seu próprio eixo de pleno orgasmo não sexual. Nos dois primeiros meses eu guardei quase toda a quantia a fim de mobiliar meu apartamento do qual eu tinha recebido as chaves antes de ontem. Então eu e minha mãe nos esbaldamos nas lojas de móveis e eletrodomésticos. Passamos da conta, fato, mas o dinheirinho a mais me proporciona um pouco mais de regalias e dividi todo o restante em diversas vezes no cartão de crédito. A ocasião me deixou extremamente feliz e empolgada, o que Pedro, no caso, parecia não entender.
— Eu amo o Pedro, Linda, mas ele parece que se acomodou na posição de mecânico, sabe? Não que eu o julgue por isso, mas é que ele trabalha naquele lugar desde sempre, nunca fez uma faculdade, somente alguns cursos de carros. Subiu de cargo, sim, mas sinto que ele tem potencial para mais e se a ocasião fará com que ele dê uma engrenada... que bom! – Era o que eu queria realmente pensar.
Belinda me olhou parecendo que eu morava em outro mundo, só que ela não entendia meu ponto, e eu nem buscava que fizesse, somente que respeitasse. O que meu namorado, a pessoa que deveria mais me conhecer, não estava fazendo. Fato que me frustrava sobremaneira.
— Nick, mas você vê alguma inclinação dele para o casamento?
Meus olhos brilharam.
— Sim, outro dia ele me pediu a aliança de compromisso para polir, o que eu acho ser mentira. Acredito que no dia de São Valentin Pedro irá me surpreender com uma argola de ouro. – Sorri, feito boba.
Linda me olhou sorrindo, ambas éramos românticas, mas minha amiga se contentava em apenas se deixar levar e morar junto, dormir de conchinha... etc. Enquanto eu queria tudo o que vinha depois, pouco me importava o durante, desde que fosse correto.
— Nichole, preciso de você em minha sala em um minuto. – Era a voz do meu chefe, o dono dos bois, ou da porra toda, como todos da firma diziam.
Dei um pulo da cadeira, sendo acompanhada por Belinda, que se encontrava, agora, sentada em minha mesa.
— Acredito que esse recinto onde senta, Srta. Belinda, não é para nádegas. E, esse não se transformou no setor de Recursos Humanos. – Disse já entrando em sua sala, antes de fechar a porta eu pude vislumbrar o sorriso que o cretino deu.
Era respeitado e sabia intimidar, mas era justo e brincalhão também. Na maioria das vezes, Leandro era um carrasco apenas comigo mesmo, que filtrava tudo. Há oito meses eu aprendi a ler meu chefe, e hoje já não cometo mais os erros de antes, graças a Deus.
Voltando minha atenção para a mesa, querendo pegar meu tablet para passar os compromissos do dia, eu me lembrei de Belinda, a garota estava com cara de boba para a porta, e eu quase podia ver a baba escorrendo pelo seu queixo.
— Ele é muito lindo, Nick, não sei como você resiste. – Piscou, suspirando.
Abri meus olhos ao máximo, respirando fundo, fato que minha amiga pareceu não ver. Eu não resistia a Leandro, eu apenas seguia o fluxo. Fora Pedro, meu chefe era o único a me fazer tremer. Mas, eu não iria facilitar essa informação assim, de graça, para Linda.
— Chispa daqui, sua cretina... – Sorri um pouco. – Preciso entrar lá e enfrentar a fera.
Levantei da minha mesa, checando todos os acessórios que eu precisaria para conversar com Leandro.
Tablet, celular, postura. Ok!
Antes que Belinda saísse do setor eu já estava tentando disfarçar a minha cara de secretária apaixonada. Opa, eu disse apaixonada? Não! Eu quis dizer deslumbrada.
— Está pensando em se casar, Nichole? – A pergunta foi feita na lata, e a voz era de quem não tinha medo de nada, pessoa confiante, que sabia mandar.
Tremi!
— Hum.. – Fiquei incerta do que responder, até porque eu não achava que isso seria da conta do meu chefe, mas eu estava longe de falar isso diretamente para ele, então... – Como dizia para Belinda, acho que posso me surpreender no dia dos namorados.
Leandro estava atento em dobrar as mangas da blusa até o cotovelo. No momento que eu falei, ele parou. Os movimentos deixavam a minha boca salivar e eu me perguntei, enquanto encarava seus olhos castanhos, se ele sabia o efeito que causava em todas as mulheres da Indústria. Por que, não era possível que, somente eu e Belinda, fossemos presenteadas com essa baita sensação.
— O dia dos namorados está muito longe. Estamos em fevereiro.
Fechei meus olhos querendo não me parecer ridícula.
— A data que eu me referia, na verdade, é o dia de São Valentin. Dia que se comemora o dia dos namorados em praticamente todo o mundo.
— Mas, estamos no Brasil, querida. – Disse com a voz mole, um sorriso no canto do rosto.
E, eu amoleci. Merda! Ele tinha todo esse jeito de falar comigo que me fazia feito maria–mole.
— Meu pai é americano, temos alguns hábitos de fora. – Expliquei por cima.
— Entendo. Pergunto por que quem casa, tem filhos e...
Sorri um pouco aliviada. Claro que ele se preocupava em perder mais uma secretária.
— Não se preocupe, Sr. Leandro...
— Apenas Leandro, Nichole! – Afirmou daquele jeito imponente. – Estamos há oito meses nisso.
— Me desculpe, Leandro!
— Também não abaixe a cabeça assim... – Era uma afirmação, eu sabia, mas tinha parecido um pedido, que eu acatei.
— Ok! Não se preocupe com isso, eu não penso em ter bebês no momento. – Respirei fundo quando acabei de dizer.
Percebendo que Leandro retornou aos seus movimentos anteriores e depois ligou o seu notebook, eu me concentrei no tablet em minhas mãos.
– O senhor tem uma reunião na hora do almoço hoje com o Marketing para aprovar a campanha sobre o novo batom.
— Ah, sim. – Passou o polegar na sobrancelha grossa, sorrindo de lado. Oito meses trabalhando junto com a pessoa lhe dá um certo conhecimento de causa e eu não gostava nada quando ele fazia aquela cara. – Tenho uma amostra aqui em algum lugar. – Franziu a testa, procurando o batom dentro das gavetas, e quando o achou praticamente ronronou. – Aqui está.
Esticou o pequeno tubo em minha direção. Rolei meus olhos, impaciente. Sempre que uma nova cor saía, Leandro tinha o prazer de me pedir para “posar” com meus lábios.
— Vermelho! – Exclamei, vendo a cor do líquido que havia no tubo.
— Sim, pode passar. Ou você quer que eu passe?
Suspirei, sem ter o que fazer, coloquei a tela do tablet em frente ao meu rosto e liguei a câmera frontal. Com habilidade de quem faz aquilo todos os dias, eu passei o pincel na minha boca e me dei por satisfeita quando eu cobri todo o meu lábio.
— Leandro? – Chamei, notando que o panaca estava olhando para a tela do computador, sem nem sequer prestar atenção em mim.
As expressões do meu chefe não eram assim tão fáceis, por que do momento que ele olhou para mim, focando meus lábios, e logo após se levantou, e veio em minha direção, as mãos no bolso da calça azul marinho, eu não consegui discernir o que ele iria fazer até chegar ao meu lado, e erguer o dedo nos meus lábios, passando–os de um lado para o outro.
Sem conseguir controlar, eu fechei meus olhos e o próximo toque que senti foi de algo macio. Muito macio na verdade e molhado, com gosto de hortelã. Respirei todo o ar pela boca quando percebi que meu chefe estava me beijando, foi a oportunidade que Leandro teve de monopolizar a minha boca com a sua língua.
O beijo me devorava e as mãos encontraram a base das minhas costas, quase na minha bunda. Me apertou contra si e meus ouvidos só conseguiram ouvir o barulho do tablet no chão. Ou foi um rosnado? Eu fiquei confusa, enquanto inalava e o cheiro era muito conhecido, mas totalmente diferente do qual eu estava acostumada. Levantei minhas mãos, segurando seus fios de cabelo na nuca, acompanhando do seu ato.
Eu nunca tinha sido beijada desse jeito, com tanta posse, desejo... devoção? Tinha se passado quase oito anos desde quando eu beijei Pedro pela primeira vez, mas não tinha como esquecer, ele foi o último homem que meus lábios tocaram, até hoje.
Meu Deus, Pedro!
Congelei e com toda a minha força, estupidamente sem pensar nas faturas futuras do meu cartão de crédito, eu empurrei Leandro para o afastar, e acho que o ato o deixou tão surpreso que aquele tamanho de homem caiu de bunda no chão, em cima do tablet que agora emitia o som de quebrado.
Enquanto eu olhava a sua cara surpresa, eu me perguntava se o meu acerto daria para pagar todas as faturas do cartão e o conserto do tablet.

Sim, senhor! - COMPLETO NA AMAZONOnde histórias criam vida. Descubra agora