Capítulo 4

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Mas eu não ri, porque na primeira hora que eu abri os meus olhos, percebi que nada tinha sido uma ilusão da minha cabeça. E, tanto quanto aquilo foi libertador - sejam sinceras: quem ficaria confortável de sonhar um jantar romântico, rodeado de corações, com o chefe? -, eu também me encolhi, pois estava em cima do seu braço, que se esticava atrás do meu pescoço como um travesseiro, e se toda a situação não era tão constrangedora, eu fiz o favor de me lembrar de tudo que aconteceu na noite passada e o medo, sobre-humano, de ser mandada embora me atingiu.

Por esse motivo, que nada tem a ver com mau hálito e mau humor matinal, junto com a plena confortabilidade com a qual me encontrava, eu apenas fingi que ainda não tinha acordado, não até que Leandro se remexeu, parando com seu rosto rente ao meu e sua respiração em minha boca, se levantando logo após poucos dois minutos. A partir de então, eu me senti no direito de reles mortal, abrir o olho e me perguntar se o meu chefe era tão perfeito que, nem mau hálito o sujeito tinha.

E, foi com esse pensamento que eu cheguei em casa naquele sábado, quinze de fevereiro, amaldiçoando o calendário por não ser dia de semana, o que me proporcionaria algumas horas a mais longe dos meus pais, por que os dois, entre todos os indivíduos da Terra, eram as únicas pessoas com as quais eu não conseguia esconder nada, nem que Pedro terminou comigo.

Na verdade, eu preciso fazer uma ressalva, eu consegui sim esconder dos dois que tinha apanhado, o que era uma vergonha pra mim e comprometia o coração da minha mãe, e em minha defesa, eu também não contaria sobre o beijo em Leandro, por que, né? Eu realmente preciso me explicar?

- Então você dormiu no apartamento, sozinha, querida? - Questionou minha mãe, alisando meus cabelos ondulados. - Por que não ligou para o seu pai? Ele teria te buscado.

Abaixei meu rosto, incerta.

- Precisava desse espaço, mãe, acredito que eu e Pedro nos decidimos pelo que foi melhor para nós dois.

Por que, obviamente, para os meus pais, eu havia terminado um namoro de quase oito anos, por achar que estávamos estagnados demais, sem perspectiva de futuro. Não vou negar que eu pude visualizar, com satisfação, o peito do Sr. Theodoro subindo e descendo, em alívio por não me ver apenas "juntando os panos", o que era uma besteira sem precedentes, principalmente pensando na evolução do mundo no qual vivemos, no entanto, não se precisa entender para acreditar, é apenas aceitar que aquilo será o melhor.

E, sim, eu não havia sido enforcada, tão pouco agredida, e o meu chefe não foi o maior motivador disso, se não o único, e ainda por cima, dormiu debaixo de mim. Como também não me trouxe para casa, deixando-me na esquina de baixo.

- Aqui não é a sua casa - Leandro disse, visualizando o portão vermelho do qual, realmente, não era o meu. Eu quase podia ouvir a sua voz novamente.

- Não é... mas, espero que não se importe, prefiro ficar aqui. - Eu havia respondido, suspirando.

Eu não queria olhá-lo, mas eu fiz, e o silêncio foi tão sufocante e incômodo, que eu quase saí correndo. No entanto Leandro abriu a boca, e eu me vi na expectativa, até que seus lábios se encostassem sem que nenhum som saísse. Eu nunca irei ficar sabendo o que meu chefe queria me falar, pois depois de agradecer todo o apoio e a carona, eu praticamente pulei do seu carro e corri até a casa dos meus pais.

- A gente não perde quando algo escorre pelos nossos dedos, filha. Às vezes, aquilo estava ocupando um espaço morto e desnecessário na nossa vida. - Foi o que meu pai disse após alguns minutos de silêncio, segurando a minha mão. - Pense no seu futuro, no que você almeja, procure preencher o "espaço vazio" com algo que floresça dentro de você.

Chorei sim, e não foi pouco, principalmente ao entrar no meu quarto e me deparar com todas as fotos que enfeitavam as minhas paredes e a cômoda. Era eu e Pedro em diversos momentos e conquistas, seus olhos doces que ontem eram quase assassinos e pareciam me prometer a morte. Um soluço saiu dos meus lábios e eu me permiti encolher feito bola em cima da minha cama, antes de começar a abrir um pouco mais de espaço.

Sim, senhor! - COMPLETO NA AMAZONOnde histórias criam vida. Descubra agora