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Estou me sentindo a própria chapeuzinho perdida no mato! Onde eu estava com a cabeça quando aceitei aquele programa de índio? Acampar no meio do mato, cercada de estranhos!
Depois de acender uma enorme fogueira, assar churrasco, marshmallow, milho e pinhão, além de tomar alguns
shots de coragem liquida em forma de tequila e muita cerveja para animar e dar coragem, rindo e bagunçando até de madrugada. Alguns dentro das barracas, a maioria já caiu apagado no colchonete duro, após as atividades do dia. Eu entre esses sortudos, fui a primeira a dormir... até que um ruído me despertou! De um salto me pus de joelhos no colchonete e apurei os ouvidos.

Passos?

Sim! Com certeza são passos! Pesados e confiantes, como se tivesse todo direito de estar caminhando por ali, aquela hora da madrugada! Só pode ser uma das garotas, que levantou para atender ao chamado da natureza, deduzi. Mas o som alto e pungente de um uivo soou ao longe quebrando o silêncio e me fazendo arrepiar dos pés a cabeça, pensando em lobos enormes e ferozes!

Lobos sua doida? E no Brasil tem lobo por acaso? Não né! Deve ser algum vira latas, de um dos outros moradores distantes.

Os passos soaram ao lado da minha barraca e eu perguntei em tom irritado.

_ Qual das idiotas está tentando ser engraçada? zanguei imaginando se tratar de uma das meninas

Um uivo ainda mais punjente foi a resposta, enquanto os passos se afastavam. Em um ato de coragem, abri a barraca decidida a mandar o idiota pra pqp, mas não vi ninguém por perto. Havia um grupo em volta da fogueira, minha amiga entre eles, na área mais afastada das barracas, evidentemente bêbados ou ocupados um com o outro. Sai da barraca e olhei o céu espantada com a enorme lua que brilhava entre as árvores. Peguei minha câmera e me afastei da claridade do acampamento, a fim de tirar algumas fotos do nosso belo satélite lunar.

Distraída nem percebi que havia me afastado um bocado, até sentir a terrível sensação de estar sendo observada. Olhei freneticamente ao meu redor e parei até de respirar quando ao lado de uma árvore frondosa e muito antiga avistei a silhueta de um homem e a seu lado um enorme... lobo?

Fiquei arrepiada de medo, ate me dar conta de que se tratava de um husky siberiano e não um lobo. A luz do luar brilhava nos pêlos prateados dando uma impressão sobrenatural aos dois. O homem estava absorto contemplando a lua e nem notou minha aproximação. Mas o cão sim e se pôs a rosnar ameaçadoramente, me fazendo estacar no lugar com o coração quase saindo pela boca. O homem me lançou um rápido olhar antes de dar um comando em tom baixo e firme ao husky, que imediatamente se sentou aos seus pés em atento silêncio.

_ Não é educado espionar.

A voz do homem soou perfeitamente audível apesar do tom baixo e grave, mesmo a certa distância.

_ Diz o homem estranho que observa um acampamento, oculto pelas sombras.

_ Você está invadindo.

_ A estrada é pública.

_ Até 100mts atrás. Saia da minha propriedade.

"Que idiota grosseiro!"

O husky voltou a rosnar com o pêlo iriçado demonstrando irritação. Prendi a respiração dando um passo para trás, pronta para correr dali.

_ Não se mova. ordenou seco

_ Oras! Decida-se, devo ir, devo ficar?

_ Você tem o dom de irritar meu cachorro.

Dito isso fez um som com a língua, como um estalo e o cachorro se aquietou novamente.

_ Eu não estava observando seu acampamento.

MikaelOnde histórias criam vida. Descubra agora