Capítulo Dois

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ARTHUR

Podia parecer uma bobagem, mas a chegada de Milena a minha vida parecia um milagre daqueles bem inacreditáveis!

A maioria das agências de babás mais renomadas sequer aceitava meu cadastro, dado o número de acidentes causados as moças por meus filhos. A fama de "anti babás" das crianças já havia ultrapassado o tolerável após dois anos da partida de Rachel e conseguir alguém que topasse a empreitada de olhar cinco crianças realmente não seria fácil.

O salário era bom, mas o fardo, demasiado. A garota que acidentalmente tentou me matar teria de dar o seu melhor em troca de sua liberdade.

Cheguei em casa mais tarde do que previa e o sol já despontava quando passei no primeiro quarto de uma das crianças. Era o de Sophia, minha caçula.

O ambiente era tomado pela cor-de-rosa e tinha o berço no centro junto a bonecas na linda prateleira. O cheiro inconfundível de neném dominava, assim como as fraldas, lenços e roupas pequenas. Uma melodia doce ecoada da caixinha de música e o abajur deixava uma luz fraca acesa. Caminhei até o berço, afastei o mosqueteiro e encontrei minha pequena dormindo profundamente. O cabelo claro como o meu, a pele pálida e as bochechas rechonchudas salpicadas por pequenas sardas. Sorri e toquei em sua face com carinho. Ela resmungou e voltou a dormir.

Caminhei em direção ao quarto de Lara — minha filha número quatro — bem ao lado. Adentrei, contemplando as paredes pintadas de lilás e notei que Lara não estava em sua cama. A mesma, apesar de sua falta, estava desarrumada e com a boneca que ela sempre dormia ao lado. Segui para o quarto de Mallory — a filha número três e que adorava amarelo — e a encontrei deitada em sua cama com Lara ao lado, ambas agarradas em um abraço e sono profundo.

Sorri aliviado e apaguei a luz, antes acesa.

O quarto seguinte era o azul de Caleb, meu único filho homem. O garoto dormia com o notebook aberto sobre ele e fones no ouvido. Não pensei duas vezes antes de retirá-los e ajeitá-lo na cama com cuidado. Caleb abriu os olhos vagarosamente, me observou com curiosidade e voltou a dormir sem nada dizer.

Sua decepção era clara, mas nada comentei.

— Bons sonhos campeão — Sussurrei antes de sair.

Encarei no corredor, finalmente, o quarto de Clara — a filha mais velha.

Há uns meses deixei de lado o hábito de entrar no quarto dela a noite. Clara já não era tão pequena como as irmãs, agora já se transformava em uma mocinha beirando os doze anos. A palavra "privacidade" aparecia constantemente em seus diálogos e passei a considerá-la. Era, sem sombra de dúvidas, a mais desafiadora entre os cinco. Preferia mil vezes cuidar da pequena Sophia de dois anos do que de Clara, pré-adolescente.

Abri a porta para apenas espiar se dormia e a contemplei sentada sobre a cama.

— O que faz acordada, Clara? — Perguntei entrando no quarto.

— Pai... Estou sem sono — Com o cabelo loiro preso em um coque e os olhos inchados, tive a certeza de que estava chorando a momentos atrás — Você chegou só agora? A Lara me disse que estava no hospital e teve um acidente... Não acreditei muito nela — Limpou o rosto e acendi a luz depois de me sentar ao pé da cama dela.

— Ela não mentiu. De fato fui parar no hospital — Clara pareceu preocupada.

— Porque não pediu a ela que me chamasse na linha, pai? A Lara só tem quarto anos! — Suspirei diante de suas palavras certas — Deixa eu adivinhar... Uma fã te atacou? — Sugeriu rindo um pouco. Havia um livro descansando em seu colo o titulo era "Os pesares do abandono". Quando me pegou olhando, retirou o mesmo de lá e jogou para fora da cama.

Coração de Pedra: Babá por Acidente! (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora