Capítulo Quatro

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MILENA


Jamais pensei me sentir tão livre e aliviada por sair de um local como me senti ao sair da casa dos Novateli.

A rua movimentada me trouxe o frescor da memória e respirei o ar profundamente enquanto caminhava o mais longe possível daquele antro de desordem. Não sou do tipo organizada, mas sempre prezei pela paz mental e nenhum dos membros daquela familia pareciam possuí-la. No fundo, realmente, senti pena de Arthur. O rosto triste e confuso do mesmo não saia de minha cabeça. Sua situação definitivamente era muito complicada.

— Milena, por favor! — Me assustei ao vê-lo dentro de um carro prateado, dirigindo vagarosamente e bem ao meu lado — Reconsidere...

— Reconsiderar o quê, Arthur? Fala sério... Primeiro você mentiu para mim sobre o número de crianças, depois... — Continuei andando — Não funcionou! Também não achei nada animador ser chamade de biscate, oportunista e impostora pelos seus anjinhos!

— São apenas crianças! Não fizeram por mal — Insistiu me fazendo revirar os olhos por seu tom pidão — Deixa de ser boba, Milena... Esqueceu-se do salário e do nosso acordo?

— Podemos encontrar outro jeito de eu quitar essa dívida! Faço faxina, panfleto seu show, limpo seu carro, levo os cachorrinhos para passear... Você escolhe e depois me liga! — Fiz sinal de telefone e caminhei mais rápido. Arthur não desistia, ainda me seguindo pela calçada com o carro — Pode me deixar em paz agora?

— Assumo que errei ao não contar sobre o número de crianças, mas você não sabe o dobrado que ando cortando para dar conta de tudo! — Sorri de canto por realmente imaginar. Não tinha como não se comover diante de seu apelo — Por favor, preciso de sua ajuda... Lara e Sophia gostaram muito de você! Pelo pouco que vi você conseguiu cativar as duas menores e isso é ótimo! Elas nunca conheceram uma mulher que as tratasse como você tratou... Algo parecido com uma mãe.

Aquilo me tocou o coração e apertei os olhos. Eu bem sei a falta que faz uma mãe...

Detive-me na calçada e olhei para ele por um instante. Foi tempo suficiente para Arthur encostar o carro na guia e fazer um gesto para que eu entrasse.

— Arthur... — Sussurrei tocada, mas hesitante. Não era fácil admitir para mim mesma que existia um apelo maior do que tudo... O de meu coração.

— Entre, Milena — Pediu apoiando o braço forte e musculoso na janela — Por favor! Não te peço como um acordo, mas como um favor!

A contragosto dei a volta no carro e abri a porta do mesmo, sentando-me no banco do passageiro e colocando o cinto de seguranças. O cheiro daquele homem preenchia todo o ambiente e me desconcertava.

— Para onde está me levando?

— Para um lugar tranquilo onde passamos conversar... — Respondeu dirigindo concentrado. Sua expressão deixava claro que trazia muitos problemas na bagagem.

— Com quem as crianças ficaram? — Perguntei sem notar, ainda conectada a rotina dos pequenos.

— Com Maria e Gabi, mas elas apenas ficam de olho. Tem muitos afazeres na casa.

Arthur encostou o carro em uma rua mais tranquila — próxima de minha casa, logo notei — e desligou o motor.

— Espero que seja rápido. Não tenho o dia todo — Resmunguei de braços cruzados. A expressão dele não se alterou e tornou-se ainda mais transtornada quando retirou o celular do bolso e me mostrou uma foto — O que é isso?

A mulher exibida na foto do celular dele era maravilhosa. Corpo esbelto, pequena e de cabelos claros como os de Clara e Lara. Os familiares olhos — azuis e límpidos — eram marcados pelo rosto de traços delicados e singelos.

Coração de Pedra: Babá por Acidente! (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora