Capítulo 4 - Brigas

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Depois do nascimento de Alice, vivemos um período de "contos de fadas", eu posso dizer. Saímos do apartamento de Callie, e compramos uma verdadeira mansão, que só quartos, são seis (coisa da Calliope, sempre exagerada). Fiquei três meses em casa, pois aqui nos Estados Unidos nós não temos uma licença maternidade determinada, e como eu era minha própria chefe, eu fiz minhas regras. Além disso, sempre foi muito tranquilo levá-la comigo para todos os lugares, inclusive para a clínica. A cada duas horas, eu passava para amamentar e ver minha pequena, e Sofia, que depois da aula ficou um período indo para a creche da clínica também, mesmo não gostando muito da ideia. No começo, Callie ia nos visitar no horário de almoço, mas acabou ficando muito pesado para ela, e achamos melhor que cada uma diminuísse um pouco o ritmo e fosse mais cedo para casa, assim ela poderia aproveitar Alice também, e não ficaria cansativo para nenhuma das duas.

O combinado deu certo... Por um ano. Sempre fazíamos concessões, nos adaptávamos, até que as coisas começaram a ficar estranhas. Meu leite secou, e com as reclamações de Sofia de ficar na creche, contratamos uma babá e passamos a deixar as meninas em casa. Com isso, o combinado de voltar mais cedo e ter aquele "nosso momento" ficou esquecido: Callie voltou a trabalhar até muito tarde e emendar plantões. Eu não podia fazer isso, desde pequena Alice nunca conseguiu passar muito tempo afastada de mim. Não foram poucas as vezes que eu tive que ir buscá-la em casa porque a babá não conseguia acalmá-la de jeito nenhum, mas na creche ela ficava, acho que porque entendia que eu estava por perto. Mas eu estava me sentindo cansada, pela responsabilidade que tinha com as meninas, e também frustrada, pois não podia me dedicar ao meu trabalho tanto quanto queria e quanto Callie estava fazendo. Eu sentia que ela não me ajudava quanto deveria, que ela queria só a "parte boa" de ser mãe. Então, quando ela ficava em casa, eu descontava toda a raiva acumulada nos outros dias, ou seja, acabávamos brigando.

Eu não posso falar por Calliope, mas sentia que ela não estava querendo ficar em casa... Sempre havia um motivo ou uma emergência que a fizesse ficar mais no trabalho. Não sei explicar o porque, mas ela já tinha ficado assim antes. É como se, depois que ela consegue algo que ela quer muito, aquilo meio que perde a graça, sabe? Senti isso na minha recuperação depois do acidente, e com relação a nossa segunda gestação. E isso estava me afastando dela, mais uma vez. Éramos duas estranhas dividindo a mesma casa, e dormindo em quartos separados.

Essa situação toda durou por cerca de seis meses, talvez um pouco mais. Nenhuma de nós estava feliz, e isso estava refletindo nas meninas já. Sofia me perguntava se íamos nos separar de novo, e ela ia ter que escolher uma de nós. Alice começou a ter problemas para dormir. Não estava mais dando para manter aquele clima tenso de brigas quase que diárias.

O Grey Sloan estava com alguns problemas, e nos cobravam muito o fato de nenhuma de nós estar mais presente lá, participando ativamente, então, eu pensei em uma solução para resolver pelo menos provisoriamente nossos problemas:

Callie... Não podemos ficar nessa situação. Eu não aguento mais isso, preciso de um tempo para mim, e sei que você precisa disso também. A gente está só se machucando, cada vez mais. Porque você não passa alguns dias em Seattle? Quem sabe um mês! Você pensa em tudo que está acontecendo, eu também... Esfriamos nossa cabeça. Não temos mais uma, agora são duas filhas para pensar. E o Grey Sloan precisa de uma de nós mais presente também, eu não posso ir agora.

Ela me olhou, acho que não acreditando na minha proposta:

Você só pode estar brincando com a minha cara, Arizona! Eu não vou sair da minha casa, não preciso pensar em nada, e tem minha clínica também. Ou você acha que só a sua importa?

Eu respirei fundo, porque era assim ultimamente, tudo virava discussão. Mas tentei não levar para esse lado, e confesso a vocês que não foi fácil:

Tem certeza? Olha só pra gente, olha o que está acontecendo... Mais uma vez. De verdade, Callie, se você não me der esse tempo, quem sai de casa sou eu. Mas não vai ser para pensar, eu saio e não volto mais.

Ela me olhou calada, entendeu que eu estava falando sério:

Você não precisa ficar um mês. Quinze dias, o que acha? Sua clínica vai sobreviver sem você por esse tempo, eu tenho certeza! E as meninas ficam aqui, Sofia tem escola, e a Alice você sabe que não fica longe de mim... Senão, eu mesma iria!

Ela suspirou:

Um tempo, então? E se... Se acontecer algo? Eu quero dizer... Você vai sair com alguém?

Me aproximei dela, ao mesmo tempo que ela me afastava, ela tinha medo de me perder, e eu não entendia isso:

Não pretendo. Mas estamos dando um tempo, e isso quer dizer que se você sentir vontade de algo, ou eu, e quiser fazer, não é traição. Estamos combinando assim. E independente do que for, na sua volta vamos sentar e conversar como duas adultas, ok?

Ela se afastou:

Tudo bem, Arizona. Se é o que você quer, então, que seja. Mas só quinze dias. Talvez seja até bom mesmo, para nós. Agora eu preciso ir, tenho muitas coisas a fazer por causa dessa "nossa" decisão!

Ela saiu e foi preparar as coisas para a viagem. No dia seguinte, já estava de partida. Ligava todas as noites para falar com as meninas, e eu não falava com ela. Precisava mesmo me afastar. Eu senti saudades da Callie, é lógico.... Mas da minha Callie amorosa, carinhosa, não do que ela havia se tornado nos últimos meses. Eu queria fazer dar certo, mas a pergunta que ficava era: como??? Não dependia apenas de mim.

Passados já dez dias, eu me sentia renovada. A paz em casa tinha me feito muito bem, não só a mim, mas às meninas também, e eu estava conseguindo passar dez horas seguidas na clínica, o que há tempos não fazia. Uma manhã, Alice estava um pouquinho febril e eu me atrasei, ao chegar na clínica minha secretária me disse:

Dra. Robbins, uma colega sua está a sua espera na sua sala. Eu deixei ela entrar, pois ela disse que vocês se conhecem já há muito tempo...

Olhei para ela incrédula, e dei uma bronca. Não gosto de ninguém na minha sala sem que eu esteja acompanhando ou sem minha permissão. Tratei de andar rapidamente até lá, e ao entrar não encontrei ninguém. Apenas uma bolsa e um casaco, além de um perfume familiar no ambiente. Não demorou para a porta do banheiro se abrir, e me deixar sem palavras por alguns instantes, até que eu consegui falar quase sem som:

Vo... Você???

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