Entrega

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Mas seu caminho agora era outro. Deixara mais um pedaço de seu coração com sua antiga vida, se abstera de mais um possível 'para sempre', ela seguia seu novo caminho, enquanto ele ficara, só observando e sentindo falta. Agora, só se falariam através de mensagens, registradas em sua máquina da saudade que cabia em seu bolso. Quanta angústia, quanto tormento. Mas ela tinha um dom, lembram-se? Ela também se lembrava disso, e começou a construir pontes sobre as tristezas, sobre a saudade, sobre tudo. Essas pontes lhe serviam de atalho, não encurtava seu caminho, mas lhe poupava sofrimento. Foi aí que conseguiu ver o lado positivo de suas escolhas, conseguiu olhar para o lado e pode ver que a saudade não lhe acompanhara, a tristeza também não. Chegou a se surpreender quando se deu conta que novos ajudantes estavam a sua disposição. Novos companheiros de viagem. Alguns desse companheiros não iam sequer para a mesma direção que ela, mas preferiram segui-la, porque com ela, qualquer caminho era feliz. Pode até parecer bobo, mas só por ela desejar 'bom dia', ele se tornava bom. Seus companheiros eram uma borboleta e um coelho. Uma linda e tênue borboleta, que a fazia entender a vida como uma metamorfose. E um sagaz coelho, ágil e astuto. Sempre escapava de todas as situações, sempre tirava lucro de tudo, era orgulhoso e detalhista. Era um coelho sábio, porém malicioso. Certa feita, quando estava num de seus momentos de névoa, parou um pouco para conversar com seus companheiros. Foi até a casa nova e sentou-se, abatida, num canto da sala vazia. Logo o coelho se aproximou, mas ao vê-la assim, tristonha, tentou passar-lhe um certo conforto com um sorriso tímido, mas sem resultado. Desistiu e voltou à sua toca. Mas ela continuara ali, sentada, ainda esperando que algo lhe motivasse. Veio então a borboleta, com seu jeito simplório, tímido. Rondou-a, esperava uma maneira de se aproximar, uma oportunidade. Pousou em seu ombro e a olhou piedosamente. Ela começou a lhe falar das circunstâncias que caíra sobre sua cabeça. Começou a se lamentar. O coelho espreitou-a novamente, a borboleta simplesmente lhe sorriu, mostrou como a vida nos transforma. Somos mais fortes do que pensamos. Se estamos com problemas agora, significa que estamos na passagem de lagarta à borboleta. A dor dessa transformação depende de quão forte foi o casulo que construímos. Nesse momento o coelho se aproximou novamente, ela esperava ouvir uma palavra amiga, mas tudo que ele fez foi olhá-la bem no fundo de seus olhos e afastar-se novamente e tão sorrateiramente quanto se aproximara. Foi o bastante para ela entender o que ele queria dizer. Não há palavras que nos arrebate dos problemas, mas há atitudes que podem nos ajudar a resolvê-los. Era isso que o coelho fazia, escapava dos problemas quando podia, e quando tinha que enfrentá-los, conseguia fazer isso de maneira astuciosa e maliciosa. Queria que ela fizesse isso também, queria que ela se resolvesse de forma rápida. Mas isso não era possível, ela havia mergulhado de cabeça. Sempre fazia isso, mergulhava de cabeça nas coisas. Nunca foi de gostar pouco, nem de precisar pouco ou se doar pouco. Mergulhava de cabeça nas decisões que tomava. Seria bom entrar e sair da vida de alguém sem levar nada, ou sem deixar nada. Mas isso é impossível, algo sempre nos acompanhará, talvez para preencher o que foi deixado de nós. A borboleta sempre a seguia, sempre a abraçava. Já o coelho, esse aparecia raramente, minuciosamente e nunca se demorava a ir. A borboleta se transfigurava em alguns momentos, continuava se transformando, a vida

Complicada e PerfeitinhaOnde histórias criam vida. Descubra agora