Perfeitinha

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Não dá para afirmar se esse começo está se encerrando. Na verdade, não dá pra se saber quando eles acabam. Talvez esteja nascendo um outro começo. Talvez ele tenha começado desde quando ela decidira mudar suas atitudes. O que se sabe, é que ainda tinha muita coisa a se resolver nesse começo. Ainda havia muita coisa a ser sentida. Havia algumas histórias esperando para serem lidas, para serem lindas. Havia uma necessidade dentro de si mesma que a fazia acreditar que havia muita solução para muitos de seus problemas. Talvez não resolveria todos, talvez não resolveria nenhum. Mas esse começo teria que valer a pena, teria que marcar. E valeu a pena, e marcou. Isso fazia dela uma pessoa perfeita. Uma mulher perfeita. Ela sabia rir e fazer rir. Sabia chorar e não fazer chorar. Sabia compartilhar, mas sabia guardar para si. Sabia dizer e sabia se calar. Sabia quando ir e quando voltar. Mas ultimamente, ela estava apenas indo, nunca havia retornos nas suas idas.

Sabia como tocar, sabia ser tocada e sabia não se deixar ser tocada. Sabia inspirar, sabia provocar, sabia dizer sim e sabia dizer não. Sabia dizer sim e se fazer entender como um não. Sabia dizer não e deixar a entender um sim camuflado. Sabia correr atrás e sabia esperar que corressem atrás. Sabia desejar em silêncio, sabia desejar em segredo, mas sabia ser notada em seu desejo. Sabia falar com a voz, mas sabia falar só com os lábios. Sabia falar com os olhos, sabia falar com as mãos. Sabia falar com o corpo, quando deitava a cabeça no próprio ombro, suplicando um afago.

Sabia sofrer em segredo, sabia ser feliz em segredo. Na verdade, ela era feita de segredos. Por isso era feliz, porque a inveja tem sono leve. Viver em segredo evita que acordá-la nos corações de quem a rodeava. Mas ela também sabia ser verdade. Sabia ser sincera. Sabia ser romântica e ser um pouco durona de vez em quando. Ela sabia ser tudo isso. Mas não me pergunte como eu sei de tudo isso. Não sei como a descobri assim. Não sei se fui fiel à descrição. Ela pode ser tudo isso, pode nem ser tudo isso, ou pode ser bem mais que isso. Só sei que a vejo assim. Ela era teimosa, maliciosa. Era mimada, dengosa. Mas era isso que a fazia ser perfeita. Quando se unia tudo, não restava dúvida da sua perfeição. Essa era sua perfeição, a união de seus defeitos, suas qualidades, seus desejos, suas vontades. Ela era perfeita, porque conseguia aprender com os erros. Conseguia ver uma lição nas mais adversas situações. Conseguia se misturar sem se perder. Tinha caráter, tinha maturidade, tinha atitude, tinha certeza. Ela era perfeita porque sabia o que queria. Sabia pra onde estava indo. Sabia o que ia enfrentar. Sabia o que foi deixado para trás. Sabia de quase tudo. Ela era seu próprio futuro. Mas mesmo perfeita assim, ainda tinha algo que a torturava. Ela queria ele. Ele queria ela. O orgulho gritava, enquanto os dois sofriam em silêncio. Pode até parecer perturbador, mas continuava sendo feliz, sendo perfeita.

Complicada e PerfeitinhaOnde histórias criam vida. Descubra agora