entre dois clãs

de volta ao pesadelo

Pata de crepúsculo estava novamente na floresta negra. O mesmo cenário macabro da noite passada. Mas por incrível que pareça a gata achava aquilo um pouco bonito.
- Eu sabia que você viria. E então? - O gato misterioso perguntou de algum lugar entre os arbustos. Estava escuro demais pra saber onde ele estava, e o cheiro forte de várias coisas juntas dificultava tudo.
- Você vai aparecer ou não? - A gata perguntou. - É estranho falar com você, sabia?
-Me perdoe, mas só poderei revelar minha identidade se aceitar a proposta dada a você na noite passada. Você pensou sobre isso, certo?
- Claro que pensei, mas caso você não saiba eu tenho muito problemas no clã e eu não quero mais um problema com você. E por que você não pode se revelar? - Pata de crepúsculo olhava em volta na tentativa de achar o gato.
-Porque você irá me descrever para algum de seus amigos patéticos e logo depois a floresta inteira estará sabendo que eu estou tramando algo, ou seja você irá esperar até aceitar o acordo.
-Por que te reconheceriam? Você é do clã das sombras? Algum parente meu?
-Menos perguntas, por favor. E não, não está nem perto disso.
-Então por que eu? Se nem do seu clã eu sou! - A gata abaixou a cabeça e levantou as orelhas, tentando localizar a voz. Mas o local possuía muito eco, mesmo não tendo paredes.
- Isso não muda o fato de você ser você! Por favor pata de crepúsculo, você precisa me ajudar. - Pata de crepúsculo viu um galho quebrar durante o grito do gato, fazendo a gata sorrir. Precisava irritar o gato. Ele perderia a paciência e se revelaria, a menos que pata de crepúsculo o achasse antes.
- De que clã você é, gatinho?
-Não me provoque. Não vou me revelar.
-Ah é? Então tudo bem, irei acordar desse sonho patético e irei esquecer a sua existência!
- Não ouse! Seu lugar é aqui pata de crepúsculo! - Pata de crepúsculo ouviu um passo pesado um pouco perto de onde ouviu o galho quebrar.
- Você é tão medroso assim?
- Pata de crepúsculo...
- Por que eu deveria treinar aqui, exatamente? Por que eu preciso aprender a lutar pra matar? E por que isso é tão importante pra você?
-Pare de perguntar, por favor! - O gato gritou, fazendo pata de crepúsculo ter certeza do local e se jogar nos arbustos, acertando em cheio. Ambos caíram no chão, pata de crepúsculo prendeu as patas dele no chão, mesmo sendo menor. Estava escuro demais pra conseguir ver o rosto dele, mas um raio de luz da lua avermelhada iluminou entre as árvores, fazendo a barriga do gato ser visível em meio a escuridão.
Depois viu dois olhos castanhos arregalados. O gato não lutou para se soltar,nem atacou de volta a gata.
Em vez disso ele soltou uma risada aparentemente inocente. Ele empurra de leve pata de crepúsculo, que se rende e cai de lado.
-Bom trabalho, você me pegou.
Uma brisa remexeu as árvores, fazendo as folhas caírem em cima dos gatos, e ao mesmo tempo a lua chegou a seu ápice. Pata de crepúsculo se perguntara se ela sempre estava ali.
- Por isso só nos vemos a noite, pata de crepúsculo. É quando a lua aparece, e aqui ela fica assim... linda. - Ele olha para a lua, pensativo. Seu rosto se iluminou, revelando uma pelagem meio alaranjada, com detalhes marrons cortando o rosto.
-E então, vai ficar? - Virou o olhar para a gata, com seus olhos castanhos brilhantes.
-Posso saber seu nome antes? - Ela riu, olhando para o gato.
- Cauda sombria. Eu era do clã das sombras, mas fui exilado por... - Ele deu uma pausa, remexendo a cabeça - E fui para o clã do trovão. Que por sinal me acolheu muito bem. - Sorriu sem graça para o chão.
- Por que foi exilado? Eu nunca ouvi falar de você.
- Esse é o problema, pata de crepúsculo. Estrela de leão insistiu para se esquecerem de mim, e não citarem meu nome nunca mais. Eu fui esquecido. Depois que eu fui exilado, apenas meu pai permaneceu vivo. Ele e minha mãe eram aprendizes quando eu nasci, mas ela morreu um pouco antes de eu ser exilado. E o crime? Bem, eu matei o meu.... irmão. - Ele olhou para a lua, aparentemente abatido emocionalmente. - Ele estava tendo um caso com um gata do clã do rio, e estava ficando cada vez mais agressivo. Ele me humilhou na frente de todos os nossos colegas de toca, me chamando de fraco e outras coisas. Eu não me contive e o matei na frente de todos. Depois fui exilado por estrela de leão, que tinha se tornado líder a pouco tempo, e fui para o clã do trovão. Lá, estrela de carvão me recebeu muito bem. Alguns torceram o nariz pra mim mas algum tempo depois mostrei o meu  valor. Estrela de leão dizia que eu lutava como um aprendiz, estrela de carvão dizia que eu lutava como um texugo e uma raposa juntos. Eu vi que lá era realmente o meu lugar. Em uma noite, estrela de leão ordenou um ataque contra o clã do trovão, em busca de vingança contra mim. - Ele fez uma pausa - E conseguiu.
-Estrela de leão estava lá?
- Não só estava lá, ele me matou. - O gato gruniu.
Pata de crepúsculo não acreditou no que acabou de ouvir. Estrela de leão parecia tão correto, tão consciente. Cauda sombria pode ter matado o irmão, mas ele não merecia isso.
- Não é justo.
- Já está indo para o lado certo, pata de crepúsculo. Nós da floresta negra não queremos aniquilar toda a floresta. Queremos apenas vingança pela injustiça cometida contra nós. Bem, nem todos. É por isso que eu te chamei.
- Como assim?
- Estrela de cachorro. O líder antes de estrela de leão. Tão imprudente quanto. É difícil saber qual eu odeio mais. O clã das sombras está em decadência. Nem consigo imaginar o próximo líder.
-Sopro de tempestade? Não consigo imaginá-lo liderando. Ele é forte mas  com mente pequena. Matou o representante do clã do rio, risco de ferro.
- O quê? Eu não sabia disso.
- Pois é, ele ainda tentou matar estrela de ouro, mas minha mentora o impediu.
- Feixe noturno?
- Sim. O que estrela de cachorro tem de tão ruim?
- São inúmeros os seus crimes, mas sempre tem algum gato que leva a culpa no lugar dele. Ele chegou ao poder matando estrela de cardo, nem deve ter ouvido falar dele. Mas como era o representante conseguiu culpar outro gato e provando sua inocência matando-o também. - Fez questão de dar um tom de ironia no "inocência".
- E qual é a influência dele aqui?
- Ele é quem manda aqui. Ele possui cachorros, pata de crepúsculo. Cachorros que vieram para a floresta negra e são controlados por ele. Ou melhor, temem ele.
-Por que eles teriam medo dele? Desde quando cachorros têm medo de gatos?
- Porque estrela de cachorro não é um gato comum. Seu miado e sua aparência assustam qualquer um. E esses cachorros não são comuns, todos eles mataram ou feriram algum gato em algum momento na vida. E quando morreram vieram pra cá. Eu sei que é muita informação, mas nós da floresta negra não suportamos mais ele no poder. Nós mal temos liberdade para caçar, passamos fome as vezes e a única coisa que podemos é treinar gatos como você.
- E por que você precisa de mim?
- Para se juntar a nossa.... revolução eu diria. Estamos criando um exército para se rebelar contra estrela de cachorro e você será minha arma secreta. E então?
- O que eu ganho com isso?
- Experiência, força, justiça, paz, a morte de um assassino louco.... quer que eu continue?
- Na verdade não. Mas olhando pra você, você também é um assassino.
-Mas é diferente. Meu irmão mereceu, os gatos que estrela de cachorro matou não mereciam. E não foi só um.
- Tudo bem, cauda sombria, eu aceito parcialmente. Quero ter certeza que é seguro. Por onde começamos?
-Bem aqui. - Ele sorriu. Depois soltou um miado esquisito, mas alto. De repente gatos surgiram da escuridão. Cada um maior que o outro. Pata de crepúsculo estremeceu. Cauda sombria subiu em uma árvore sem folhas e chamou um dos gatos presentes ali.
- Pata de corvo, quer lutar?