clã das sombras

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Era uma noite fria de inverno,o vento agitava as árvores e a lua brilhava no céu iluminando as pedras e as águas cristalinas dos rios. O clã das sombras estava quieto, apenas alguns murmúrios de gatos dormindo circulavam na escuridão. Filhote de crepúsculo estava inquieta em seu ninho, algo a incomodava. Cauda de texugo, sua mãe, dormia profundamente com a cauda em volta do corpo da filhote para aquece-la. A pequena gata levantou a cabeça e conseguiu ver do lado de fora da toca a lua cheia por cima das árvores que cercavam o acampamento, havia sido noite de assembleia e todos estavam bem cansados. Ela se virou para o corpo quente da mãe e dormiu.
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-Cauda de texugo? - Alguém sussurrou do lado de fora da toca. A gata preta e branca se mexeu, tentando não incomodar a filhote que já havia acordado. Ela respondeu com um tom suave:
-Sim, pelo cinzento? - filhote de crepúsculo encarou o gato malhado que esta sentado na entrada da toca. Ele apontou para a pedra grande e lá estavam alguns gatos reunidos, com Estrela de leão em pé na pedra grande. Filhote de crepúsculo já havia visto reuniões como aquelas, eram feitas para discutir assuntos do clã de extrema urgência ou para cerimônias dos gatos. Ela deu um pulo e lembrou: Era sua cerimônia de aprendiz! Ela já tinha seis luas, a idade para se tornar um aprendiz e lutar pelo clã. Mal esperava pra ir, Cauda de texugo se levantou e deu uma lambida na filha, que mal cabia na cama de musgos da gata. As duas saíram da toca, seguidas de pelo cinzento, e passaram entre os gatos até chegarem aos pés da pedra grande. Estrela de leão fitava os olhos da gata com um ar de aprovação, ele balançou a cauda e comecou:
-Gatos do clã das sombras, é com muita alegria que anúncio nossa nova aprendiz! Filhote de crepúsculo já possui idade o suficiente pra isso, e é com essas palavras que pergunto a você - O gato olhou nos fundos do olhos da gata, que ficou um pouco arrepiada com a sensação de orgulho que percorria a espinha. - Está disposta a lutar pelo clã acima de tudo, respeitar o código dos guerreiros e seguir o clã das estrelas nas suas escolhas?
A gata balançou a cauda, ansiosa, e com uma voz rouca disse:
-Estou.
Murmúrios de aprovação percorreram o círculo de gato. Sopro de tempestade, o representante do clã, estava do lado da pedra grande e deu um sorriso estranho em direção a estrela de leão.

-Ótimo! Que o clã das estrelas aprove minha escolha e guie você na sua jornada. Eu a nomeio de Pata de crepúsculo, sua mentora será Feixe noturno. Boa sorte para vocês duas no seu treinamento.
A gata fitou a mentora com emoção, ela mesmo não acreditara na escolha. Feixe noturno era uma das melhores gatas do clã, lutava como um guerreiro do clã das estrelas experiente. Ela se aproximou da aprendiz e trocou toques de focinhos com ela. Os gatos se adiantaram para cumprimentar a nova aprendiz, falando seu novo nome.
-Pata de crepúsculo! Adorei o nome. - A gata se virou e viu Filhote de gelo, sua melhor amiga, com um ar empolgado. Filhote de gelo era apenas uma lua mais nova que ela, logo viraria uma aprendiz também. Na lua passada haviam tido outras duas cerimônias. O clã já possuía cinco aprendizes sem contar com pata de crepúsculo. Eles não se falavam muito no berçário, mas pareciam ser legais. Todos estavam reunidos em uma roda perto da toca dos aprendizes. Pata de crepúsculo pensou em ir se juntar a eles mas não queria deixar a amiga sozinha.
-Quem vai trocar lambidas e brincar comigo agora?- lamentou a filhote.
-Ora, filhote de gelo, eu acabei de virar aprendiz! Logo será você! Não se preocupe, quando isso acontecer tudo voltará ao normal. - A gata escura deu uma lambida na amiga. A filhote foi para seu ninho, ali perto Pata de crepúsculo avistou Sopro de Tempestade conversando com feixe noturno e mais alguns guerreiros. O gato agia de modo tão reservado que até dava medo, mas era um dos guerreiros mais fortes da floresta. Logo depois feixe noturno deixou o círculo e foi falar com a aprendiz.
-Bom, amanhã começaremos o seu treino. Esteja preparada, iremos conhecer o território e aprender a caçar. Não se preocupe em me impressionar, comece no seu ritmo, nenhum gato é perfeito. Fiquei muito feliz em tê-la como aprendiz!

Está bem Feixe noturno - a aprendiz falou gaguejando. A mentora abriu um sorriso e adiantou para sua toca. O que fazer agora? Ainda era um pouco mais do que metade do dia,não sabia o que fazer. Era uma aprendiz agora.
-Pata de crepúsculo? Posso falar com você? - A gata se assustou com a voz grossa e viu Estrela de leão em pé na sua frente, maior do que nunca. Ele realmente era muito maior do que ela, agora entendia porque alguns o temiam pelo tamanho.

- Sim, estrela de leão? - falou a aprendiz tentando não olhar nos olhos do líder.

- Você está muito sozinha agora que virou aprendiz, não se sinta assim! Por que não se junta aos outros aprendizes? - O gato apontou para a toca dos aprendizes, que tinha apenas dois gatos, os outros haviam saído com seus mentores. Ela não queria se juntar a eles, mas também não queria decepcionar o líder. A gata respirou fundo:

- Ah, claro! Eles parecem ser legais, eu acho. - O gato fez um gesto com a cauda e se adiantou para sua toca. Pata de crepúsculo se perguntou se ele sempre era tão direto nas conversas. Ela não queria ir se juntar a eles, não era do tipo de fazer muitos amigos. Levantou-se e foi até a toca, o sol estava alto e fazia o pelo da gata ficar com uma cor diferente, mas brilhante. Ela empurrou algumas folhas que estavam na entrada e ouviu:
-Pata de crepúsculo! Pare por aí mesmo. - Ela se virou e viu um gato laranja com várias listras amarelada espalhadas pelo corpo, o focinho rosa, uma cauda longa que chicoteava lentamente, olhos azuis e uma mancha branca no peito. Era pata de raposa, nome esse que surgiu pelo fato de ele ter uma cauda grossa como de uma raposa com uma ponta branca. O gato riu e continuou:
-Não se assuste, eu só ia dizer pra pegar seu próprio musgo se pretende dormir, o que não é muito prudente logo de manhã. - Ele saiu da toca e foi falar com seu mentor, garra da neve. Pata de crepúsculo se sentiu desconfortável com o que o gato falou. " Quem ele pensa que é? Acha que eu sou um gatinho de gente pra dormir logo agora? Ele vai ver". Ela olhou mais detalhadamente a toca, era significativamente pequena, mas haviam cinco ninhos de musgo, todos com o mínimo de espaço entre eles. A gata se perguntara onde o ninho dela caberia naquele espaço tão pequeno. Ela viu um pequeno gato deitado em um dos ninhos, tinha uma pelagem curta, era cinzento com alguns pontos brancos espalhados pelo corpo. Ele abriu os olhos, o que fez pata de crepúsculo saltar pra trás, e calmamente olhou a recém chegada.
- Ah, você deve ser a nova aprendiz. Bem vinda! Eu sou pata de pombo!
-Olá! - a gata falou sem jeito. - como vai? É normal gatos dormirem uma hora dessas? Sem ofensas, mas voce não devia estar treinando ou alguma coisa do tipo?
O gato se levantou e se posicionou na frente dela, é com uma voz mas grossa do que o normal disse:
-Você não sabe? Bem, dentro daquela toca de filhote deve ser difícil ver o que acontece. Meu mentor morreu a dois dias atrás, atualmente eu estou treinando com Listra Veloz, mas ele saiu pra patrulhar então eu não tenho o que fazer. - Ele baixou a cabeça quando citou o mentor e balançou a cauda. -Você também não devia estar treinando? - Continuou sem olhar nos olhos da gata.
-feixe noturno foi caçar, eu acho, e disse que só iremos amanhã. Ei, o que acha de dar uma voltinha pela floresta?- a gata falou animada.
-Ficou maluca? Não ouviu o que eu falei? Meu mentor morreu em uma patrulha e ninguém sabe porque. Não se pode sair do clã com menos de dois guerreiros. - O gato disparou, depois se virou e se deitou na cama de musgos. -Ah, atrás da toca das rainhas tem um pouco de musgo se precisar, não vai poder sair pra buscar mesmo.
Pata de crepúsculo olhou desanimada pro gato, que fechou os olhos e enrolou a cauda. Ela não tinha ouvido nada a respeito do mentor morto, o que estranho já que as rainhas comentavam sobre tudo nas todas. Ela saiu da toca e não viu mais ninguém no clã. Haviam alguns gatos conversando perto da entrada do clã, outro falando com os anciãos e avistou as rainhas encolhidas na sua toca. Parecia tudo calmo quando ouviu um grito vindo dos arbustos.

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