O Nascimento da Luz

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A noite estava envolta em um silêncio profundo e penetrante, como se o próprio mundo estivesse contendo a respiração. Em Las Vegas, uma cidade conhecida por suas luzes ofuscantes e vida vibrante, o neon e a agitação pareciam distantes. Naquele momento, tudo que importava era um pequeno hospital localizado nas profundezas da cidade, onde um milagre estava prestes a acontecer.

Na sala de parto, o ar estava carregado de tensão e expectativa. O som do choro de uma recém-nascida ecoou pelas paredes brancas e frias, quebrando a quietude da noite. Layla, com cabelos negros como a escuridão da meia-noite e olhos castanho-escuros que refletiam a luz suave do quarto, acabara de chegar ao mundo. Ela era uma criatura perfeita, a pureza e a inocência personificadas em forma humana.

Enquanto a enfermeira enrolava a bebê em um cobertor macio e quente, sua mãe, exausta e com um sorriso radiante, olhava para a filha com amor e espanto.

— Ela é linda — sussurrou, as lágrimas de alegria escorrendo por seu rosto. Mas a beleza do momento não se limitava àquelas quatro paredes. Uma força invisível e poderosa estava prestes a ser desencadeada.

Em seu reino sombrio, Lúcifer, o Senhor das Trevas, estava imerso em uma escuridão que parecia infinita. Ele se movia por seu domínio, cercado por sombras e sussurros de almas perdidas. Era uma existência solitária, repleta de dor e desespero. No entanto, naquela noite, uma emoção desconhecida o atingiu como um raio. Seu coração, frio e endurecido, começou a pulsar com uma intensidade que ele não conhecia.

— Che è questo? — pensou, confuso, enquanto se dirigia à Terra. Ele não sabia o que era, mas a sensação era inegável. Com um movimento rápido, ele se materializou em uma figura humana, uma aparência que ele havia aperfeiçoado ao longo dos séculos. Seus cabelos escuros, um sorriso enigmático e olhos profundos que pareciam conter o universo o tornavam irresistível.

Lúcifer se dirigiu ao hospital, suas intenções nebulosas. Ele não sabia por que estava ali, mas a força que o atraía o guiava. Enquanto caminhava pelas ruas iluminadas de neon, ele observava os humanos ao seu redor. O riso, a alegria e a superficialidade dos prazeres mundanos não significavam nada para ele. Seu foco estava em um lugar, em uma pessoa: a menina recém-nascida.

Ao chegar à porta do hospital, Lúcifer parou. Ele estava envolto em um manto de sombras, mas mesmo assim, sentia uma conexão inexplicável.

— Por que essa criança me afeta assim? — Ele se questionou, a confusão misturando-se à ansiedade. O choro de Layla ecoava por todo o hospital, e ele se sentia compelido a vê-la, a tocá-la.

Com um movimento sutil, ele se aproximou da sala de parto, suas sombras dançando ao seu redor como serpentes. A visão da pequena Layla, envolta em um cobertor e com os olhos cerrados, atingiu Lúcifer como uma flecha. A pureza daquela menina era tudo o que ele não era. Ele observava como a mãe a segurava, encantada, enquanto as lágrimas de alegria escorriam por seu rosto.

— Ela é tão frágil — pensou Lúcifer, seu coração apertando. Era um sentimento que ele não reconhecia, um anseio protetor que o fazia querer atravessar a linha que separava sua verdadeira natureza da vida humana.

Nos anos seguintes, Lúcifer se tornaria um espectador silencioso na vida de Layla. Ele a observava enquanto crescia, enquanto suas risadas e brincadeiras ecoavam em sua mente. Em seus sonhos, ele se infiltrava como Jungkook, um amigo imaginário que a levava a mundos onde a magia era real e onde a escuridão não existia. Layla acreditava que era apenas uma fase infantil, mas ele sabia que sua presença era muito mais do que isso. Era um elo que desafiava todas as regras.

Enquanto isso, em sua própria existência, Lúcifer lutava contra seus sentimentos. Ele se tornara um guardião sombrio, protegido e ao mesmo tempo cativo daquela criança. Ele se debatia entre a necessidade de permanecer nas sombras e o desejo de se revelar a ela, de se mostrar como quem realmente era.

— Um dia, ela vai descobrir a verdade — pensou ele, seu coração pesado com essa ideia. Mas a pureza dela o mantinha ancorado, e a ideia de perdê-la era insuportável. A linha entre luz e escuridão tornava-se cada vez mais tênue, enquanto Lúcifer se via atraído para uma batalha interna entre seu instinto protetor e a natureza sombria que sempre dominara sua vida.

E assim, enquanto a cidade continuava a vibrar com vida lá fora, Lúcifer se afastou do hospital, sua presença uma sombra silenciosa. O que havia despertado nele era um misto de esperança e desespero. Ele sabia que um dia, quando o momento fosse certo, teria que tomar uma decisão: permanecer na escuridão ou emergir como o homem que nunca soube que queria ser, por causa da garotinha chamada Layla.

𝐎 𝐃𝐈𝐀𝐁𝐎 𝐓𝐄𝐌 𝐎𝐋𝐇𝐎𝐒 𝐏𝐔𝐗𝐀𝐃𝐎𝐒Onde histórias criam vida. Descubra agora