Dramaticus Memoriae: Pai

55 2 12
                                    

DRAMATICUS MEMORIAE
P a i

"Sinônimo de amor incondicional. Alguém que está junto independente da distância. É aquele que entende, que luta e sofre por você."

— Definição da palavra pai

*

Esta memória abrange cenas consideradas, psicologicamente, abusivas.

C o m e ç o s

Um silêncio infernal imperou-se daquele quartinho.

O cômodo em si remetia à uma aura sepulcral. As cortinas morbidamente alvas deslizavam silenciosamente em uma brisa inexistente, tal como um fantasma, uma aparição. O chão era de madeira, milimétricamente polido para transparecer calma e solenidade. A maca, decorada com frios lençóis azuis, ficava no centro, ao meio de parafernálias médicas que emitiam um som mórbido de bip, bip, bip.

E, assentada taciturnamente sobre uma poltrona amarronzada, encontrava-se uma pálida Kim Mina, cuja idade parecia ter possuído-a completamente. Localizava-se bolsas negras de vasos sanguíneos ao redor de seus olhos, os quais pareciam permanentemente injetados e irritados pelo choro e falta de sono. Ela sequer conseguia olhar para a maca. Pois, lá, encontrava-se um menino de olhos cor de violeta e cachos negros deitado de forma serene, quase como inconsciente da situação.

A cada bip do maldito eletrocardiograma, o coração de Mina pulsava cada vez mais rápido, preocupada de que eles acelerassem até que um som de pi preencha a sala. Era desesperador. Era infernal.

Levantou-se com um suspiro e acariciou a testa de seu amado. Ele estava frio, gelado como a própria morte. Os braços de Taehyung estavam impetuosamente enfaixados com gaze, cuja branquitude imaculada havia sido minuciosamente manchada de escarlate. Só de olhá-la, Mina já se via sendo transportada para memórias horríveis.

Não olhe!

Viu o filho deitado na banheira vermelha. Ouviu seu próprio grito, antes de reunir sua sensatez e coragem para agarrar os antebraços do filho fortemente, enquanto ordenava a Hyeong que buscasse qualquer pano que conseguisse achar. Depois de já feito o curativo provisório, enquanto esperava a ambulância chegar, ela hidratava Taehyung com um funil e litros e mais litros de água, designando estimular a produção de sangue. E só quando os paramédicos repentinamente chegaram, foi que ela soltou os cabelos, sentou na cadeira da ambulância... e chorou.

Os médicos disseram que fora um milagre Taehyung ter sobrevivido. Ele havia danificado seriamente os tendões e perdera uma imensa quantidade de sangue. Contudo, os sábios cuidados de Mina haviam garantido sua vida. O doutor responsável a parabenizou pelo feito, mas ela apenas maneou com a cabeça, desolada.

Taehyung passou algumas horas na sala de cirurgia recebendo os necessários pontos (o cirurgião responsável pelo caso de Tae relatou que os as peles e músculos se juntavam com uma facilidade inverossímil. Até brincou que parecia ser magia), e logo fora transferido para o quarto hospitalar.

Mina quase não aguentou ao ver a expressão de desapontamento e desgosto na face do filho, ao ver que sua tentativa fora falha. Seu olhar estava vazio, oco. Completamente tomado pela depressão e miséria...

Não olhe!

Agora, Tae dormia recebendo hidratação por um cateter injetado em sua veia metacarpiana dorsal.

The Sin of the WitchesOnde histórias criam vida. Descubra agora