Capítulo I: Despertar

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— CAPÍTULO UM —
D e s p e r t a r

"Para se ser feliz até um certo ponto, é preciso ter-se sofrido até esse mesmo ponto."

EDGAR ALLAN POE

*

As notas de rodapé estarão ao final de cada parte do capítulo, antes dos algarimos romanos. Quando vizualizaram os asteriscos (*), sugiro que vão olhar antes de continuar.

C o m e ç o s

Há várias formas de se iniciar uma história...

Alguns autores lançam mão de uma abordagem solene ao contar o relato: o fazem de maneira romantizada, não-real. Esses, contam a história de uma forma melodiosamente canônica de beijinhos arco-íris e frufrus de caramelo.

O autor que vos fala, nobres amigos, não partilha de tais abordagens. O autor que vos fala, conta a história sem a poupança de detalhes sangrentos e minúcias funestas. O autor que vos fala, não lhes preservará de corações partidos e lágrimas transgressoras.

Dito isso, voltamos à estaca zero: de que forma iniciaremos nosso conto?

A maneira clássica, é claro, seria levá-lo diretamente ao nosso herói (só, por favor, não lhe diga que o chamei assim. Tenho certeza que ele me cortará em pedaços e me lançará às Trevas se ele sonhar que o chamei assim), entretanto, pelo meu afeto pela originalidade, começarei por um ângulo diferenciado.

Durante o livro It: coisa, o aclamado autor Stephen King narra, ao começo de seu Primeiro Interlúdio, a indecisão de sua personagem em decidir se uma cidade inteira pode ser assombrada.

Essa porra de questionamento é ridículo, meus amigos.

É claro que ela pode. É claro que uma cidade pode ser completamente assombrada, em todos os sentidos da palavra.

A cidade a qual refiro-me conhecia a escuridão: as ruas eram as serpentes deslizantes das garras de Satanás; os becos?, forros de trevas e demônios de escuridão. Sua estrutura era composta de covardes cidadãos franco descendentes (em suma maioria), construções de madeira e tijolos — sempre no estilo típico de Louisiana — e merda de animais.

Muita merda de animais.

Essa cidadezinha, apelidada carinhosamente por seus cidadãos de cu do mundo, possuía uma estrutura um tantinho curiosa: observando-a lançando mão de uma visão vertical (ou qualquer visão que queira usar), notamos que uma parte dela fora construída dentro de uma cratera ao redor de uma enorme floresta de carvalho densa e profunda. Floresta essa, que se é proibido a entrada por causa dos espíritos malignos que lá abitam.

Cidade de loucos, meus amigos, apenas loucos... nada mais...

Mas curioso mesmo é o fato de essa cidade possuir um histórico extenso de situações anormais, como diz os cidadãos Venefica, muito bem, obrigado.

Bem, aí depende do que você acredita que é anormal.

Será anormal o fato de que nos diários de Baptiste LaRue Dufont, um dos fundadores da cidade de Venefica (o escrivão), relatou a existência de "misteriosas vozes sussurrantes" ouvidas por dentre as árvores da floresta?

Será anormal que no dia 1° de abril de 1695, a recém-construída Igreja Puritana Municipal irrompeu em chamas douradas e queimou até nada sobrar, deixando três famílias de mãe, pai e filhos em cinzas?

The Sin of the WitchesOnde histórias criam vida. Descubra agora