Cameron parou a moto em uma das ruas agitadas da região central da cidade. A menos que ele estivesse interessado em mostrar o quão caótico o trânsito podia ser mesmo tão perto da meia noite, Nadine não estava vendo nada de especial.
— Vira de costas – ele pediu e, quando ela atendeu ao comando, se surpreendeu ao perceber que ele estava cobrindo os olhos dela com as mãos. – Está vendo alguma coisa?
— Não? – ela respondeu, confusa.
— Perfeito. Vamos andando.
— O quê? Como assim você diz que quer me mostrar um lugar e então cobre a minha visão? Cameron, eu vou cair desse jeito. Imagina se eu quebro um dente ou algo do tipo? Eu nem sei se meu plano odontológico tem cobertura internacional.
— Meu Deus, como seu dentista consegue te atender com você falando desse jeito? – Ele arregalou os olhos. – Só confia em mim. Eu não vou te deixar cair. No máximo te fazer esbarrar em um São Franciscano que pode te ensinar um tipo de xingamento novo pra você usar na sua casa.
Nadine precisou ir contra o impulso de revirar os olhos porque, bem, tinha um par de mãos tapando os seus.
Deixando a garota ir na frente, Cameron a conduziu a passos bastante cuidadosos até sabe-se lá onde. Não era um lugar muito movimentado, ela percebeu. Conforme eles foram avançando, a luminosidade e o som de vozes foram diminuindo na mesma proporção. Se ali era o terreno baldio em que ele se encontraria com o comerciante do mercado negro encarregado de vender os órgãos dela, então talvez fosse a hora de colocar em ação os um ou dois movimentos que tinha aprendido no curso de férias de defesa pessoal que tinha feito na faculdade.
— Olha só, eu acho que sei fazer uma chave de braço – O tom era pra ser de ameaça, mas ela parecia mais uma criança falando.
— Tá bom, você me mostra isso mais tarde. Agora – Ele parou de caminhar e tirou as mãos rosto de Nadine. –, pode abrir os olhos.
Nadine estava pronta para soltar mais alguma forma de ameaça que com certeza não surtiria efeito nenhum, até que ouviu o comando pelo qual estava esperando. E obedeceu.
E então a mágica aconteceu. Olhando ao redor, ela entendeu por que tudo estava tão silencioso e escuro. Eles eram os únicos viajantes de uma máquina do tempo para a Antiguidade Clássica.
Logo à sua frente, um espelho d'água refletia colunas altas em estilo grego iluminadas por uma luz dourada. As colunas convergiam para uma construção imponente em formato de cúpula. Para qualquer lugar que se olhasse, era como estar visitando o Olimpo banhando em icor, o sangue dourado dos deuses.
Cameron observou os olhos de Nadine brilharem. Era exatamente esse olhar, essa curiosidade quase selvagem de quem estava atenta a todos os detalhes das coisas mais ordinários de uma vida mais ordinária ainda, que ele estava procurando.
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12 horas
RomanceMuito se fala sobre o amor duradouro. É compreensível: no mundo das relações líquidas, em que a moda muda a cada estação e o capitalismo te convence que aquele celular que você dividiu em trinta e seis prestações já não é assim tão legal, as pessoas...