Capítulo 2 - Desordem

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Jazmine


Tudo bem

Ele não tinha me visto...... Tudo bem que ele tinha olhado diretamente para mim e eu tenha estremecido de leve.

Isso não quer dizer que ele me reconheceria

Não é?

Puxo uma respiração enquanto aperto com força o volante do carro, a estrada a minha frente parece cada vez mais longa. Jesus, Nova Orleans não parecia tão distante.

Olho pelo retrovisor e suspiro baixinho quando não vejo nenhum carro atrás de mim. Ok, eu tinha escapado e ele não me encontraria mais, e aquele frio na espinha? Não sentiria mais

Solto uma das mãos e movo o dedo pela tela do celular procurando uma playlist adequada com o momento.

Será que tem alguma parecida com o dia do julgamento? Tipo, uns tambores, ou umas gaitas......Ok, eu estava enlouquecendo. Pigarreio e me ajeito no banco de couro clicando na primeira playlist que eu vejo. A música Now Or Never de Halsey começa a tocar e eu me permito relaxar.

Certo, eu conseguiria

É claro que eu conseguiria


........................................


Eu não consegui

Obviamente, já que um idiota quase bateu em meu carro e fingiu que nem tinha visto enquanto passava por mim com seu carro enorme parecendo mais um tanque de guerra chique.

E sabe o que eu fiz? Não, não foi respirar e seguir adiante

Foi abrir a janela e gritar como louca chamando-o de nomes que se minha tia estivesse viva cairia dura no chão. Mas pensando pelo lado positivo, eu consegui extravasar e todo minha raiva e aflição interior foi para os ares.

Mais ou menos

Paro o carro em uma lanchonete mais parecida com uma casa de bonecas e desço estremecendo quando sinto o ar frio bater em meu rosto. Coloco o casaco mais próximo ao meu corpo e bato a porta antes de caminhar até lá dentro da lanchonete

Quando eu disse que parecia com uma casa de bonecas, eu não estava falando a sério, mas aí eu entrei e vi que era realmente um casa, só que sem a Barbie ou o Ken, o que era uma pena. As paredes eram totalmente brancas, com mesas cor de rosa em madeira, e rosas que cheiravam a perfumes errados.

Franzindo a testa me aproximo do balcão e dou um sorriso quando vejo uma mulher vestida com uma roupa em cores pretas e rosas. Ela repara e revira os olhos se inclinando no balcão

- Não ligue para esse teatro. A dona daqui é meio maluca – ela sussurra e eu me inclino também sussurrando

- Eu achei vintage

- Ah por favor, você é maluca também? – ela pergunta e eu levanto um ombro

- Só nas horas vagas – respondo e ela dá risada

- Com o que eu posso ajudar?

- Preciso de um café, com bastante açúcar

- Está querendo viver perigosamente? – ela diz e digita algo no computador antes de passar para a menina ao seu lado

- Gosto dos riscos – eu falo e olho ao redor antes de me virar para ela – Mas qual é a do tema rosa?

- É a cor favorita da dona da lanchonete – ela responde revirando os olhos – Ela disse que acalma os clientes

- E acalma?

- Não, mas eu é quem não vou dizer isso a ela – ela fala e eu dou risada olhando para a sua plaquinha da farda. Pego meu copo de isopor e estremeço com a sensação de calor nas minhas mãos gélidas, tiro uma nota e entrego a ela que registra

- Muito obrigada Penelope – eu falo e ela sorri – Pelo café e pela explicação cor de rosa

- Por nada – ela diz e me observa – Quando precisar de algo rosa é só me pedir

- Você me ajudará? – eu pergunto desconfiada e ela balança a cabeça

- Não, é só para me avisar e eu conseguir fugir a tempo – dou risada e aceno me despedindo, tomo um gole do café e abro a porta da lanchonete.

Olho para o meu carro e de volta para calçada. Levantando um ombro, me viro e começo a andar lentamente enquanto observo as pequenas lojas coloridas.

Ofereço um sorriso para uma das senhoras que estão na porta e desço as escadas virando em uma rua, mas paro abruptamente quando bato em uma parede humana.

- Puta que pariu – ouço um rosnado e tiro o copo de isopor agora vazio de perto de mim e vejo a grande mancha preta em minha roupa

- Ah droga, meu café – eu resmungo e desgrudo a camisa do meu peito enquanto assopro

- O que diabos é isso? – levanto abruptamente a cabeça e olho para a camisa do cara em que eu bati, vejo o que parece ser uma gosma rosa e mordo o lábio inferior tentando não rir

- Chantilly

- Chantilly é branco – ele responde quase grunhindo e eu começo a rir baixinho – Você está rindo? – ele pergunta afrontado e eu olho para cima. Paro de rir no mesmo instante

Caceta, aquele cara tinha saído de alguma revista sexy?

Seus olhos quase azuis me observam e eu fixo meu olhar em seus cabelos pretos, a coisa mais segura nele. Pigarreio e me afasto dando um passo atrás

- Isso é chantilly, só que rosa – eu respondo e ele estreita os olhos na minha direção

- Não brinca gênio – ele fala e eu faço uma careta

- Só estou respondendo sua pergunta, não precisa ser grosso

- Acha que eu estou sendo grosso? – ele diz e eu arqueio uma sobrancelha – Você deveria começar a olhar por onde anda

- Desculpe, mas você é tão responsável por isso quanto eu

- Verdade? Porque posso jurar que a estabanada aqui na minha frente não foi capaz nem de segurar o copo o suficiente para que não derramasse em mim – seus olhos claros se fixam em mim e eu puxo uma respiração

- Olha aqui seu babaca, eu não sou adivinha para saber que vou bater em uma pedra. Então porque não sai da minha frente e me esquece?

- Com prazer

- Ótimo – eu praticamente rosno enquanto passo por ele sem direção alguma e sigo em frente

Mas que filho de um demônio

Passo a mão na mancha e resmungo uma imprecação. Mas que droga, essa viagem infernal não teria um pouco de paz não? 

Perfeita DesordemOnde histórias criam vida. Descubra agora