Capítulo 10 - O Destino de um Rei

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— Ouvi o barulho das telhas caindo ao chão juntas a você, a poeira subiu, fez um grande estrago em minha humilde casa. Passaram-se 3 dias desde que meu príncipe caiu dos céus e só agora está consciente.
Kêndo ouvia seu tio falar sobre como fora parar ali em sua pequena residência longe do reino cercada por uma vasta floresta com enormes troncos de árvores cobrindo a moradia. Sem prestar muita atenção em Kindoran, o garoto lembrava-se de pouco em pouco os acontecimentos. Sua cabeça doía, estava deitado na cama do tio e ao se sentar colocando a mão sobre sua testa, suas memórias o torturaram. Lembrou-se de seu pai indo atrás dele e de sua mãe, lembrou-se da feição obscura vinda de Kendoran, lembrou-se da mágoa angustiante de ser distanciado de Athenas sem poder fazer nenhuma ação significante e, principalmente, lembrou-se das lágrimas sinceras que saíam dos olhos azuis de Athenas.
— Ele a matou... ele... ele nos atacou e... matou minha mãe...
— É por isso que está aqui, minha casa era o principal dos planos da Rainha de Todos para lhe proteger.
Kindoran falava em um tom sábio pois tinha consciência do que Athenas tinha feito, ela já havia lhe contado sobre o que faria com o Cetro do Reino e com Kêndo caso estes estivessem em perigo. Um estava diretamente ligado ao outro. Sabia também que Kendoran era o inimigo a ser combatido. Os dois eram irmãos com pouca ou nenhuma relação sendo que o rei sempre sentiu ciúmes de Kindoran por passar mais tempo com a rainha cogitando até um adultério entre os dois, algo completamente absurdo já que seu irmão tinha unicamente respeito e amizade pela majestade.
O garoto tentava levantar-se da cama porém seu desequilíbrio quase o faz cair se não fosse pelo seu tio que estava do lado dele e o segurou.
— Vamos, deixe-me ajudá-lo. Você é filho da Rainha de Todos, mas não é forte como ela foi e precisará de ajuda se quiser vingá-la. Você veio parar aqui porque sua mãe me encarregou do dever de cuidar de você e prepará-lo para liderar o Reino caso ela morresse. Aqui estou.
Kêndo estava pálido, sem propósito, sua mente ainda girava em torno das últimas cenas antes de ser separado de sua mãe. Seus olhos estavam caídos, sentia-se derrotado, com o corpo enfraquecido, rebaixado a um mero mortal, sem saber o que fazer, sem saber como agir. Seu tio ajudou-o a andar para fora da casa e abriu a porta; o príncipe ofuscara seus olhos ao erguer a cabeça para as longas árvores ao redor da casa.
— Sabe por que escolhi morar envolta destas árvores? — Interrogou Kindoran.
— Por quê?
— Porque daqui debaixo, por mais que as árvores sejam imensas e protejam meu lar, eu sei que preciso ser mais forte que elas. E olha, não são quaisquer árvores meu príncipe, são árvores que resistiram a vendavais, tempestades, secas, protegendo meu lar de inúmeras formas, mas, ainda assim, preciso ser mais forte que elas. Assim como a Rainha de Todos tinha responsabilidades, eu também tenho, principalmente, a enorme responsabilidade de proteger a maior conquista que consegui ao lado dela: a Biblioteca do Universo, que fica em minha casa. E é preciso ser muito forte para cumprir esse dever. Mais forte que essas árvores.
— O que quer dizer com tudo isso, tio?
— Quero dizer que coisas ruins aconteceram, estão acontecendo e vão acontecer. Porém, antes sua mãe era como essas árvores, cumprindo o dever de proteger o Reino e você apenas assistiu-a fazendo isso. Está na hora de se tornar tão forte quanto ela, e, assim como protejo meu lar, você protegerá o Reino, pois você, Kêndo, deve ser mais forte que todo esse cercado de árvores, afinal seu pai em breve trará a tempestade e os vendavais, e já que as árvores foram derrotadas, você precisa estar pronto.
Kêndo sorriu levemente sem muito entusiasmo com seu olhar contínuo às árvores que magnificamente tampavam os céus e disse:
— O senhor não é muito bom com analogias, tio Kindoran.
Kindoran riu e a tarde se passou.
Quando a noite caiu, o irmão de Kendoran apresentou ao menino a Biblioteca do Universo. Ficava em um lugar inimaginável. Sua entrada era invisível e fazia parte de um mundo paralelo sustentado pelos poderes que Athenas e Kindoran lhe deram. Kêndo via-se deslumbrado, eram estandes enormes tanto de altura quanto de largura com livros que contavam cada mínimo detalhe do universo. Todo tipo de inovação era instantaneamente registrada por aquele lugar através do encanto feito pela rainha.
— Sua mãe desvinculou o Cetro e a Estrela Maior ocultando-os para que daqui 3 anos eles ressurgissem e você dominasse a Estrela Maior que estaria expandida novamente, usando o cetro. Eles aparecerão na montanha onde fica a estátua dela. Você tem a vantagem de seu pai não saber de nada sobre isso, entretanto, com todo respeito ao meu príncipe, nem de longe você está preparado para lutar contra meu irmão.
— Mas eu tenho a aura protetora, mamãe me disse que esta era o escudo da vida...
— Mas você nem sequer consegue usá-la, meu príncipe — Kêndo se desanimou —. É necessário que compreendas, Kendoran matou a Rainha de Todos, a própria esposa dele, significa que ele é impetuoso o suficiente para fazer o que for preciso para se apossar do cetro. Você ainda é pequeno, precisa aprender sobre o mundo a sua volta e para isso você terá 3 anos pela frente até estar preparado, caso contrário, não consigo nem mesmo imaginar o que meu irmão fará com nosso planeta ou mesmo com o universo.
Kindoran estava certo, mesmo tendo muito poder aos 12 anos sendo capaz de destruir planetas, o menino não estava pronto, era necessário ter controle sobre seu poder, evoluir suas habilidades e entender sobre o universo ao seu redor, e, diferente de sua mãe que teve uma vida inteira para descobrir essas coisas, Kêndo teria apenas 3 anos, porém sua vantagem maior seria poder usar a Biblioteca do Universo com o consentimento de Kindoran. Seu tio sentia-se tanto com a responsabilidade de um mentor quanto a de um pai para o príncipe. Tinha uma enorme consideração por ele ser filho da Rainha e sabia que não seria nada fácil para ele superar a morte da mãe pelas mãos do próprio pai. Isso era visível no rosto dele.
Mal sabia o garoto que quando começasse a ler cada livro, descobriria não só diversos poderes e habilidades, como também as lendas da origem das civilizações e suas crenças, principalmente do planeta heroico. E já estava combinado com seu tio, passaria os 3 anos lendo e treinando para se aprimorar até ser digno da aura protetora; conseguiria reduzir a Estrela Maior de volta ao Cetro do Reino; e derrotaria seu pai. Kindoran estava disposto a treiná-lo arduamente para então poder vê-lo como um verdadeiro rei. Obviamente ficaria atento a qualquer desequilíbrio no espaço pronto para rastrear qualquer movimento de seu irmão.
Enquanto o tempo se passava, a notícia da morte da rainha ia se espalhando pelo planeta para que depois de 2 anos, todos da região LT27 soubessem, inclusive a rainha Estela que reagiu friamente sem desolamento ou espanto, apenas aceitando, semelhante a um cavaleiro que vê seu companheiro de guerra sendo derrotado na batalha. Sabendo que foi o próprio rei, marido de Athenas, que havia a matado, a nobre decidiu não interferir no rumo que se daria aquele planeta percebendo que existia algo mais pessoal nesse conflito que não era de seu direito intrometer-se. A civilização heroica pelo contrário, sentiam tanto a perda quanto Kêndo, puderam ter a honra de terem sido súditos de uma bela dama generosa e ao mesmo tempo intrépida e veemente. Sentiam-se sem proteção, sem socorro, principalmente pelo fato de que o próprio Kendoran fora responsável pela morte dela; um assassino preponderante. Assim passaram de um povo brilhante e corajoso para tementes e amedrontados.

A cena era uma só depois que o príncipe tinha sido teletransportado por Athenas: unicamente Kendoran segurando a Espada da Destruição que havia atravessado o estômago da rainha fazendo-a sangrar e ficar cada vez mais desnorteada ajoelhando-se sentindo sua inevitável morte. Seu marido retirou a espada do corpo dela e jogou a lâmina banhada em sangue no chão ao lado de sua mulher que caiu sem vida, derrotada. Esta arma já era descartável, Kendoran forjaria uma nova espada, tão poderosa quanto outrora. Após o homicídio, não se teve notícias do rei durante os 3 anos, ele sabia para onde o filho havia sido mandado, porém não sabia como o encontraria. Kendoran nunca havia ido à casa de Kindoran, este nunca havia lhe deixado ir, mas tinha plena consciência de que o jovem estaria lá. Contudo, o maligno precisava ter conhecimento sobre como possuiria o Cetro do Reino com a Estrela Maior portada, portanto se empenhou em descobrir uma maneira. Ao mesmo tempo que procuraria por Kêndo e estudaria sobre o paradeiro do cetro e da estrela, Kendoran pretendia ficar ainda mais forte do que já era e retornaria para converter seu filho em um grande ditador como seu pai imaginava ser um rei. Já não se tratava mais de provar seu poder, já estava caído à loucura, uma perversidade insana que lhe corrompeu a partir do momento que se viu matando sua própria mulher que um dia se apaixonou. Kendoran claramente estava alucinado em se tornar aquele que causaria o inferno em vida através de seu filho.
Entre esse tempo, o cadáver de Athenas milagrosamente converteu-se em uma poeira brilhante de tonalidade anil subindo aos céus de encontro à uma ave que não tinha medo de enfrentar os ventos ou as nuvens que tentavam-no impedir de seguir rumo ao norte. Se algum ser vivo estivesse lá para ver, diria que de acordo com aquelas asas e aquela velocidade inabalável, se tratava de ser uma águia.

1º Arco - A OrigemOnde histórias criam vida. Descubra agora