Meldryn: parte II

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- Estamos chegando - diz Duda, que não consigo enxergar no meio da neblina, apenas seus olhos dourados que brilham intensamente, como faróis guiando o caminho no meio da sombras.

Alguns minutos depois as neblinas desaparecem, olho para trás e percebo que a cortina de fumaça ainda está lá, apenas saímos de dentro dela. Assim que me viro para frente, fico novamente boquiaberta...

- Puta merda - digo abismada - quando eu penso que nada mais me surpreende aqui... Ai vejo isso.

- Bem vinda a minha casa - diz ela com os olhos perdendo a intensidade, o que suponho significar que estamos prestes a pousar.

O céu agora está nítido e perfeitamente delimitado, pois existe uma espécie de lua vermelha bem em cima do castelo, que ilumina não apenas o céu, mas tudo em baixo dele. É interessante por que não está claro, mas partindo do ponto que estavamos caminhando praticamente na escuridão até então... Aqui é o mais "claro" que já vi até agora. Me encosto na beira da pedra e olho para baixo, agora dá para discernir bem, sem a neblina, a verdadeira face do lago, totalmente escuro, banhado em sombras semelhantes as que o Júlio invocara todas aquelas vezes.

Dá para notar que a Lua ilumina apenas o castelo e o que está depois dele, ao norte, seguindo em frente. Para os lados leste e oeste, não consigo distinguir bem o que vejo, pois está escuro como a ala sul por onde passamos. Apesar de ainda com uma certa dificuldade, consigo observar cada detalhe do castelo a nossa frente a medida que nós nos aproximamos. É como se tudo fosse sendo iluminado por luzes negras de boate, só que vermelhas, um vermelho escarlate banhado em sangue. Olho para mim mesma e para Duda, estamos vermelhas também, como se estivéssemos fantasiadas de "Carrie, a estranha".

- Se segura - diz Duda fazendo a pedra começar a descer.

A região que aterrissamos é semelhante de onde partimos: costeira, pois marca o fim do lago das sombras, íngreme com uma imensa escadaria dessa vez, aparentemente bem mais trabalhada e luxuosa que a existente do outro lado do lago. Ela é toda feita da mesma pedra negra, só que polida... Parece que têm muito dela por aqui, uma espécie de matéria prima essencial. Uma das diferenças é que existe um píer bem menor e com uma única estação, porém, assim como a escadaria que provavelmente deve levar ao castelo, ele é bem mais pomposo que os outros que vi. Há um arco de madeira talhada, a mesma madeira da floresta, outro material muito utilizado por aqui, além disso, existem duas tochas grandes, uma em cada terminação do arco, feitas de pedra negra onde a chama negra forma labaredas altas e queima intensamente. Acredito que isso tudo é só pela aparência mais real e formal, já que estamos prestes a entrar no território da rainha morte e sua corte, pois apesar de ter mais "fogo" no píer da realeza, não surte efeito algum perante a vermelhidão do ambiente graças a luz sangrenta do luar, tornando as tochas meramente decorativas.

Duda pula da pedra para o chão, faço o mesmo.

- Toma - diz ela abrindo sua capa e me entregando - vista - ordena ela.

- Ok - visto rapidamente e fico um pouco constrangida de uma capa de uma adolescente caber em mim como uma luva... Sim, Eduarda é bem alta para sua idade e já provou ser bem madura também.

- Pelas sombras... Você é baixinha - diz ela sorrindo, querendo rir.

- Cala a boca - digo fingindo raiva, mas acabo sorrindo.

- Isso está estranho - diz Duda colocando o capuz sobre minha cabeça - está calmo de mais.

- Mas não deveria ser assim? afinal, não têm como aqueles soldados avisarem que estamos vindo não é? não deve existir um telefone sombrio ou uma espécie de sirene de alerta das sombras e...

Segredos Revelados: Amor em Trevas (Livro I)Onde histórias criam vida. Descubra agora